Por Etelmar Loureiro
- Revista "Mais Mais PERFIL" - setembro /2018
Comentar política, em
época de eleição, já foi tão elementar e estimulante quanto falar de seleção
brasileira, em tempo de Copa do Mundo. Ambas eram temporadas pródigas em
novidades, novas táticas, consagração de velhos e revelação de novos talentos,
disputas empolgantes, torcidas inflamadas, expectativas otimistas e outros
fatores que arrebatavam torcedores e eleitores. A inspiração surgia
naturalmente, facilitando a vida dos articulistas.
O
passar do tempo não eliminou essa equivalência, mas colocou-a pelo avesso. Hoje
a desmotivação tomou conta dos que se dispõem a abordar esses temas.
Quanto
à seleção, as decepções vêm se acumulando desde 2002, quando, pela última vez, o
Brasil conquistou um campeonato mundial. Nos 16 anos que se seguiram, exceto
raras exceções, só se viu um amontoado de “astros” individualistas, tatuados,
trajes e penteados da moda, cheios de mordomias e vontades próprias. Futebol,
que é bom, alguns até possuem, mas não o praticam. Nada a ver com os grandes
craques do passado, amantes da camisa, dotados de espírito de equipe, e sempre
dispostos a dar o melhor de si por uma vitória. As consequências aí estão: trocam-se dirigentes, técnicos e
jogadores, mas nada consegue restabelecer a motivação do torcedor.
Na
política, o desapontamento é o mesmo. Acabou-se a geração dos políticos
geniais, que brilhavam pela inteligência, seriedade, honestidade e, sobretudo,
pelo comprometimento com os interesses nacionais. Homens que colocavam a honra
e a dignidade acima de quaisquer tentações ilícitas. Homens de palavra, que honravam suas
promessas. Homens que só se uniam partidariamente em torno de um ideal, nunca
por conveniências pessoais. Homens que correspondiam às expectativas, e assim
conquistavam a admiração e o respeito da sociedade.
Essa
saudosa elite praticamente desapareceu, ofuscada por um bando de oportunistas
que, posando de sérios e travestidos de políticos, tomaram conta do país. Com
inegável habilidade, amparados em costas quentes, e não raro sustentados pela
corrupção, estão em todas as áreas, envolvidos em falcatruas e negociatas. Agem
por conta própria, ou como herdeiros de “caciques” inescrupulosos, que tudo
fazem para manter vivas as suas dinastias.
As
eleições deste ano estão longe de acalentar esperanças de grandes mudanças
nesse quadro.
A
julgar pelo que demostram os concorrentes aos mais diversos cargos, “tudo
continua como dantes no quartel de Abrantes”. Os discursos vazios e as
promessas fantasiosas em nada se modificaram. A falta de projetos exequíveis,
capazes de satisfazer às grandes necessidades nacionais, constitui, como sempre,
a deficiência mais preocupante. Se algo mudou, foi a arte de mentir, que, bem
maquiada pelos marqueteiros de plantão, adquiriu novos tons de desfaçatez.
Os 13 competidores à
Presidência da República se dividem entre políticos desgastados, bastante desacreditados,
e estreantes que não trazem novidades, não inspiram maior confiança, tampouco
demonstram plena aptidão para o cargo.
Os
prognósticos são difíceis. Por enquanto, a indecisão reina absoluta.
Caso não aconteça uma
impulsiva, passional e, por isso mesmo, temerária decisão de primeiro turno,
pode ser que um segundo escrutínio dê ao eleitor a chance de uma escolha mais
racional.
Há
algo em comum entre o gol e a urna:
ambos são perseguidos pelos que buscam a vitória. Na última Copa, o Brasil
sofreu nova derrota, porque outra vez seus atletas não souberam marcar os
tentos necessários. Espera-se que, agora, na hora do voto, o brasileiro seja
mais “bom de bola”. Talento não lhe falta!