domingo, 3 de fevereiro de 2013

EMOÇÕES TARDIAS


            Não têm faltado palavras ou gestos de apoio aos sobreviventes e aos que perderam entes queridos no incêndio da boate Kiss, na cidade gaúcha de Santa Maria.
            Desde os primeiros momentos da tragédia, na madrugada do último domingo, há enorme mobilização no sentido minimizar consequências e sofrimentos.
            A solidariedade, aliás, é virtude revelada pelo brasileiro, em momentos dramáticos. Pena que, em certas ocasiões, não baste para sufocar a dor dos atingidos.
Não há o que dizer a uma mãe ou a um pai que acabou de perder um ou mais filhos, a esposos, namorados e amantes que ficaram sem seus parceiros, a professores que não mais verão muitos dos alunos freqüentadores de suas aulas e a tantas outras vítimas de infortúnio. São situações em que nada surte efeito. 
            Em Santa Maria, a desgraça atingiu inúmeras famílias, matando, até agora, quase 250 pessoas, a grande maioria jovens universitários que descontraidamente se divertiam em uma tradicional casa noturna.  Na verdade, uma tragédia mais que anunciada, dadas as condições em que aconteceu.
            Compreende-se o inconformismo, o desespero e o choro convulsivo próprio dos familiares e das pessoas mais próximas das vítimas.
            Estranha é a postura das autoridades que, sob o manto da consternação, sempre tentam se esquivar da responsabilidade que lhes cabe no ocorrido.
            No caso da boate Kiss, todos conheciam as deficiências que provocaram a grande tragédia: ambiente fechado, para menos de mil pessoas, abrigando quase duas mil; uma só porta de entrada e saída; seguranças despreparados para a função; extintores de incêndio que não funcionavam; revestimentos inadequados; alvará dos bombeiros vencido e outras irregularidades que poderão emergir das apurações. Tudo no embalo de uma banda que, pelo visto, tinha hábito de utilizar em seus shows artefatos pirotécnicos capazes de provocar incêndio.
            Num verdadeiro jogo de empurra, Prefeitura, Corpo de Bombeiros e Ministério Público tentam eximir-se de culpa. Ninguém explica, muito menos justifica a falta de fiscalização e o fato de o “crematório” não ter sido tempestivamente interditado. Todos deveriam responder judicialmente.
            Enquanto isso, com a pontualidade dos habitués de momentos especiais, o governador do Rio Grande do Sul, os políticos do estado e de outras regiões cumpriram a formalidade de solidarizar-se às famílias das vítimas. E o fizeram em termos tão profundos e comoventes quanto as emoções que provocaram lágrimas na presidente Dilma Rousseff.  Tarde demais!