Não têm faltado palavras ou gestos de apoio aos
sobreviventes e aos que perderam entes queridos no incêndio da boate Kiss, na
cidade gaúcha de Santa Maria.
Desde
os primeiros momentos da tragédia, na madrugada do último domingo, há enorme
mobilização no sentido minimizar consequências e sofrimentos.
A
solidariedade, aliás, é virtude revelada pelo brasileiro, em momentos
dramáticos. Pena que, em certas ocasiões, não baste para sufocar a dor dos atingidos.
Não há o que dizer a
uma mãe ou a um pai que acabou de perder um ou mais filhos, a esposos,
namorados e amantes que ficaram sem seus parceiros, a professores que não mais
verão muitos dos alunos freqüentadores de suas aulas e a tantas outras vítimas
de infortúnio. São situações em que nada surte efeito.
Em
Santa Maria, a desgraça atingiu inúmeras famílias, matando, até agora, quase
250 pessoas, a grande maioria jovens universitários que descontraidamente se
divertiam em uma tradicional casa noturna. Na verdade, uma tragédia mais que anunciada, dadas as condições
em que aconteceu.
Compreende-se
o inconformismo, o desespero e o choro convulsivo próprio dos familiares e das
pessoas mais próximas das vítimas.
Estranha
é a postura das autoridades que, sob o manto da consternação, sempre tentam se esquivar
da responsabilidade que lhes cabe no ocorrido.
No
caso da boate Kiss, todos conheciam as deficiências que provocaram a grande
tragédia: ambiente fechado, para menos
de mil pessoas, abrigando quase duas mil;
uma só porta de entrada e saída; seguranças
despreparados para a função; extintores
de incêndio que não funcionavam;
revestimentos inadequados; alvará dos
bombeiros vencido e outras irregularidades que poderão emergir das apurações. Tudo
no embalo de uma banda que, pelo visto, tinha hábito de utilizar em seus shows
artefatos pirotécnicos capazes de provocar incêndio.
Num
verdadeiro jogo de empurra, Prefeitura, Corpo de Bombeiros e Ministério Público
tentam eximir-se de culpa. Ninguém explica, muito menos justifica a falta de
fiscalização e o fato de o “crematório” não ter sido tempestivamente
interditado. Todos deveriam responder judicialmente.
Enquanto
isso, com a pontualidade dos habitués de momentos especiais, o governador do
Rio Grande do Sul, os políticos do estado e de outras regiões cumpriram a
formalidade de solidarizar-se
às famílias das vítimas. E o fizeram em termos tão profundos e comoventes quanto
as emoções que provocaram lágrimas na presidente Dilma Rousseff. Tarde demais!