domingo, 20 de dezembro de 2015

PLAYBOY NO DIVÃ

Foi-se o tempo em que o homem precisava dar um brilhante para ver o pouco que a mulher se dispunha a mostrar. Se quisesse ver o muito que ela caprichosamente escondia, tinha que dar a jazida inteira. E dava!
Com charme e recato, a fêmea era mais arisca. Explorava à exaustão o seu poder de seduzir. E o fazia consciente de que essa era a forma de turbinar a libido do macho, “conditio sine qua non” para que ele fosse à caça.
Uma blusa mal-abotoada, um decote mais ousado ou o talho de uma saia justa mostravam um mínimo que provocava mais “frisson” do que as explicitudes que hoje bloqueiam as fantasias.
Para alegria dos barbudos, as amarras se romperam. O decoro perdeu forças, abrindo caminho para uma liberalidade que atravessou o rio do puritanismo e dinamitou a ponte.
De repente, a mulher se deu conta da sexualidade que nela estava adormecida. Também percebeu não haver motivos para ocultar seus atributos físicos. Por mais íntimos e ardentes que sejam, certos desejos não comportam repressão. E o belo é pra se mostrar.
Entre desabotoar toda a blusa e ficar nua foi só uma questão de tempo. Pouco tempo.
O mundo foi tomado por um verdadeiro festival de mulheres despidas. Incógnitas ou famosas, mas sempre belas e “boazudas”, elas invadiram todas as mídias.
Nesse processo, a “Playboy” exerceu influência decisiva.
Fundada em 1953, pelo americano Hugh Hefner, a revista destacou-se como precursora na exibição de fotos de mulheres nuas.
Em sua edição inicial, apresentou o famoso e cobiçado calendário fotográfico da não menos famosa e cobiçada Marilyn Monroe.
O primeiro exemplar brasileiro circulou agosto de 1975, com o título de “Revista do Homem”. Na época, o governo militar considerava “Playboy” um nome muito erótico.
Desde então, foram décadas de extasiantes desfiles de lindas mulheres brasileiras e estrangeiras. Todas mostradas com a classe, o requinte e a elegância que fogem ao alcance das publicações rivais.
Uma surpreendente reviravolta está deixando atônitos os admiradores da revista. .
Em outubro deste ano, demonstrando atravessar uma crise de identidade digna de psicanálise, a "Playboy" norte-americana anunciou o fim dos ensaios nus. A razão seria a concorrência dos sites pornográficos gratuitos, que banalizaram o acesso a esse tipo de imagens. No bom português, ela rendeu-se à internet.
Ainda na sofrência dessa má notícia, o leitor recebeu um verdadeiro golpe de misericórdia: no mês seguinte, a Editora Abril avisou que a partir de 2016 deixará de publicar a versão brasileira da "Playboy".
Fontes fidedignas, entretanto, garantem que a revista continuará sendo editada no Brasil. Com esse objetivo, outros grupos já estariam negociando com a Playboy Enterprises Inc., proprietária da marca. 
Resta saber se o que será mantido permanecerá no gosto da galera brasileira.
Se for para privilegiar negócios, política, viagens, alimentação, autoajuda, fitness, pet shops e outras mesmices já cansativamente exploradas no meio editorial, melhor que fique só na América do Norte.
Por aqui, Playboy sem nudez é o mesmo que “Placar” sem futebol, “Quatro Rodas” sem carros ou Natal sem Papai Noel. É certeza de “Playbye”.

- Revista “Mais Mais PERFIL – edição de dez/2015 (www.maismaisperfil.com)
- www.nosrevista.com.br