Foi-se o tempo em
que o homem precisava dar um brilhante para ver o pouco que a mulher se
dispunha a mostrar. Se quisesse ver o muito que ela caprichosamente escondia,
tinha que dar a jazida inteira. E dava!
Com charme e
recato, a fêmea era mais arisca. Explorava à exaustão o seu poder de seduzir. E
o fazia consciente de que essa era a forma de turbinar a libido do macho,
“conditio sine qua non” para que ele fosse à caça.
Uma blusa
mal-abotoada, um decote mais ousado ou o talho de uma saia justa mostravam um
mínimo que provocava mais “frisson” do que as explicitudes que hoje bloqueiam
as fantasias.
Para alegria dos
barbudos, as amarras se romperam. O decoro perdeu forças, abrindo caminho para
uma liberalidade que atravessou o rio do puritanismo e dinamitou a ponte.
De repente, a
mulher se deu conta da sexualidade que nela estava adormecida. Também percebeu
não haver motivos para ocultar seus atributos físicos. Por mais íntimos e
ardentes que sejam, certos desejos não comportam repressão. E o belo é pra se
mostrar.
Entre desabotoar
toda a blusa e ficar nua foi só uma questão de tempo. Pouco tempo.
O mundo foi tomado
por um verdadeiro festival de mulheres despidas. Incógnitas ou famosas, mas
sempre belas e “boazudas”, elas invadiram todas as mídias.
Nesse processo, a
“Playboy” exerceu influência decisiva.
Fundada em 1953,
pelo americano Hugh Hefner, a revista destacou-se como precursora na exibição
de fotos de mulheres nuas.
Em sua edição
inicial, apresentou o famoso e cobiçado calendário fotográfico da não menos famosa e cobiçada Marilyn
Monroe.
O primeiro exemplar
brasileiro circulou agosto de 1975, com o título de “Revista do Homem”. Na
época, o governo militar considerava “Playboy” um nome muito erótico.
Desde então, foram
décadas de extasiantes desfiles de lindas mulheres brasileiras e estrangeiras.
Todas mostradas com a classe, o requinte e a elegância que fogem ao alcance das
publicações rivais.
Uma surpreendente
reviravolta está deixando atônitos os admiradores da revista. .
Em outubro deste
ano, demonstrando atravessar uma crise de identidade digna de psicanálise, a
"Playboy" norte-americana anunciou o fim dos ensaios nus. A razão
seria a concorrência dos sites pornográficos gratuitos, que banalizaram o
acesso a esse tipo de imagens. No bom português, ela rendeu-se à internet.
Ainda na sofrência
dessa má notícia, o leitor recebeu um verdadeiro golpe de misericórdia: no
mês seguinte, a Editora Abril avisou que a partir de 2016 deixará de publicar a
versão brasileira da "Playboy".
Fontes fidedignas,
entretanto, garantem que a revista continuará sendo editada no Brasil. Com esse
objetivo, outros grupos já estariam negociando com a Playboy Enterprises Inc.,
proprietária da marca.
Resta saber se o
que será mantido permanecerá no gosto da galera brasileira.
Se for para
privilegiar negócios, política, viagens, alimentação, autoajuda, fitness, pet
shops e outras mesmices já cansativamente exploradas no meio editorial, melhor
que fique só na América do Norte.
Por aqui, Playboy
sem nudez é o mesmo que “Placar” sem futebol, “Quatro Rodas” sem carros ou
Natal sem Papai Noel. É certeza de “Playbye”.
- Revista “Mais
Mais PERFIL – edição de dez/2015 (www.maismaisperfil.com)
- www.nosrevista.com.br