domingo, 25 de novembro de 2012

DIGNIDADE INCOLOR

            Num país em que os homens públicos não costumam se destacar pela decência, pela ética e pelo cumprimento do dever, é normal a consagração dos poucos que fogem a essa regra.
            É o caso de Joaquim Barbosa, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), que, de um momento para outro, se transformou em super herói, paladino da lei e depositário das grandes esperanças nacionais. Seu nome tem sido cogitado para as mais diferentes missões, de secretário de Segurança Pública em São Paulo a presidente da República.
            Isso se deve praticamente à sua brilhante performance como relator do processo “mensalão”, em final de julgamento na Suprema Corte. A competência e a coragem com que vem se comportando lhe têm garantido os mais entusiásticos elogios. Graças a ele, o país tem assistido, com indisfarçável surpresa, à condenação de figurões que surrupiaram dinheiro público, certos de que jamais seriam punidos.
            Não só isso contribuiu para o surgimento desse novo ídolo. Sua trajetória de vida, marcada pela humildade e pelo mérito com que conquistou suas vitórias, também influiu.
           O prestígio de Barbosa ficou evidente na solenidade de sua posse como presidente do STF, na última quinta-feira (22). Ali estiveram cerca de 1500 convidados, inclusive a presidente Dilma Rousseff, que, por sinal, não conseguiu disfarçar os ares de palmeirense fanática, no dia em que o verdão foi rebaixado.
            Numa espécie de acaso programado, o evento aconteceu na chamada Semana da Consciência Negra. Isso fez com que muitos tentassem lhe atribuir a conotação de homenagem à comunidade afrodescendente, à qual pertence o empossado.        Tudo devido à crença de que Barbosa só chegou ao STJ graças a um lance de genialidade ou benevolência do ex-presidente Lula, interessado em tornar-se o primeiro presidente a levar um negro à mais alta corte de Justiça do país. De quebra, teria ali mais um aliado serviente, pronto para colocar panos quentes nas questões que comprometessem companheiros.
            Mas o tiro saiu pela culatra. Uma vez que não necessitou de cotas raciais ou favores para se tornar advogado e jurista de renome, Barbosa tem agido com firmeza, independência e honradez, mostrando que homem de bem não tem cor, tem caráter.
            No seu discurso de posse, entre outras pérolas, afirmou que “a noção de justiça é indissociável da noção de igualdade. Quando se associam justiça e igualdade, emerge o cidadão”.
            Palavras eloquentes, indicativas de que ele chegou onde está não por ser negro, mas por ser digno.