sábado, 30 de agosto de 2014

BRASIL EQUILIBRISTA

            Não parece que foi há tanto tempo, mas se passaram 35 anos desde que, em 28 de agosto de 1979, o ex-presidente da República João Figueiredo assinou a Lei da Anistia, permitindo o retorno ao Brasil de milhares de exilados políticos.
            A ditadura se estendeu até março de 1985, mas a anistia foi a largada para a redemocratização do país, 15 anos após a tomada do poder pelos militares, em 31 de março de 1964.  
            O marco foi celebrado na última quinta-feira (28).
            No Ministério da Justiça, o registro ficou por conta da mostra do filme “500 – Os Bebês Roubados pela Ditadura Argentina”. O longa conta a luta das Avós da Praça de Maio, em Buenos Aires, para reencontrar seus netos, filhos de desaparecidos durante a o regime militar argentino.
            Participando de debate acontecido após a exibição, João Vicente Goulart, filho do deposto presidente João Goulart, admitiu que a Lei de Anistia deve ser comemorada, mas defendeu sua reformulação. “Nós temos que comemorar, porque houve uma lei de anistia, um pouco tardia. Muitos já haviam morrido no exílio, como o presidente João Goulart. Mas é dever de todos nós, brasileiros, lutar para que essa lei de anistia possa ser reformulada, possa ser reconstruída, e que possa ser mais dignificada no que tange aos direitos humanos”, salientou.
Falando sobre a data, o advogado Marcus Vinícius Furtado Coêlho, presidente da OAB nacional, disse que “Há exatos 35 anos o Brasil anistiou aqueles que foram calados, perseguidos e exilados. Ao mesmo tempo, manteve intocáveis aqueles que, pelo uso da força, amordaçaram as vozes da liberdade, mas jamais apagarão da memória desta nação a luta travada pela democracia”.
Polêmica por natureza, a abrangência da Lei da Anistia ainda deverá render muita discussão.
Para aliviar a tensão e os conflitos que a envolvem, vale recordar “O Bêbado e a Equilibrista”, a emblemática canção de João Bosco e Aldir Blanc, eternizada na voz de Elis Regina, que se transformou no Hino da Anistia.
Carregada de metáforas – forma de despistar a rigorosa Censura da época –, a letra pede “a volta do irmão do Henfil” (o sociólogo e ativista Herbert de Sousa, o Betinho, então exilado no México). Fala também das “Marias” e “Clarisses”, referindo-se às mulheres que perderam maridos, filhos e outros parentes, no tempo da Ditadura Militar.  Maria era a mulher do operário Manuel Fiel Filho, morto em 1976, e Clarisse a esposa do jornalista Vladimir Herzog, que, em 1975, foi encontrado enforcado em uma sela do DOI-CODI, ocorrência registrada como “suicídio”.
Por analogia, o arremate desse autêntico poema passa a idéia de um Brasil que dança na corda bamba, de sombrinha, sabendo que, em cada passo dessa linha, pode se machucar. Mas aposta na esperança equilibrista, certo de  que, como o show de todo artista, tem que continuar. Som na caixa!
 
- Jornal de Domingo
 

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domingo, 24 de agosto de 2014

COMOÇÕES DE AGOSTO

            Não são poucos os nefastos acontecimentos registrados em agosto, que concorrem para estigmatizar o mês.
            Infelizmente, o Brasil tem contribuído bastante para engrossar a lista das tragédias ocorridas nesse temido ciclo do ano.
                Já em 15.08.1909, registrou-se o assassinato de Euclides da Cunha, um dos maiores nomes da literatura brasileira. O crime, como se recorda, foi cometido por Dilermando Assis, um jovem militar que era amante de Anna de Assis, esposa do escritor.
            Em 1961 o abalo ficou por conta da renúncia de Jânio Quadros, o então presidente da República. Na época ele não morreu, mas matou as esperanças de milhões de brasileiros, provocando uma crise institucional sem precedentes na nossa história.
            Algum tempo depois, em pleno regime militar, ocorreu a morte do ex-presidente Juscelino Kubitscheck, episódio que acabou de completar 38 anos. No dia 22.08.1976, ele e seu motorista, Geraldo Ribeiro, iam de São Paulo para o Rio de Janeiro, quando o Opala em que viajavam colidiu com uma carreta, após ser abalroado por um ônibus. Assim diz a versão chapa-branca.
            Não bastassem esses casos para encerrar a participação brasileira na galeria dos lamentáveis acontecimentos “agostinos”, veio o desastre aéreo em que morreu Eduardo Campos, jovem candidato a presidente nas Eleições 2014. Por triste coincidência, o fato se deu no mesmo dia (13) em que, no ano de 2005, faleceu seu avô, Miguel Arraes, outro ilustre político brasileiro.
            Em meio a tudo isso, resta lembrar que hoje marca o 60º aniversário da morte do ex-presidente Getúlio Vargas.
            Grande personagem de uma época da qual ainda restam muitas testemunhas, Vargas presidiu o Brasil em duas ocasiões. A primeira de 1930 a 1945, conhecida como Era Vargas, A segunda de 1951 a 1954, eleito por voto direto.
            Entre outras grandes iniciativas, implantou a Justiça do Trabalho, instituiu o salário mínimo e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Direitos trabalhistas, como carteira profissional, semana de trabalho de 48 horas e férias remuneradas se incluem entre os frutos de seu governo.
Destacou-se ainda por importantes criações, tipo a Cia. Siderúrgica Nacional, a Cia. Vale do Rio Doce, a Hidrelétrica Vale do São Francisco, o BNDES e a Petrobrás.
Mas também ficou lembrado pela perseguição a sindicalistas e intelectuais, cerceamento das liberdades individuais e censura à imprensa, práticas comuns durante a ditadura do Estado Novo.
Em 1954 a atmosfera política no Brasil tornou-se tensa e conturbada. Os últimos dias de seu governo foram assinalados por forte pressão política feita pelos meios de comunicação e pelos militares. O povo estava insatisfeito com a situação econômica do país. Exigia-se a renúncia do presidente.
Vargas optou por ele próprio decidir seu destino. Cometeu suicídio, no dia 24 de agosto de 1954, com um tiro no coração, encerrando uma das fases mais dramáticas da vida nacional.
Em sua carta-testamento pontuou que Saio da vida para entrar na história”. Levou consigo as qualidades e os defeitos de um grande estadista.
Na capa de um livro sobre o controverso político, lançado pelo jornalista  Lira Neto, o historiador Boris Fausto, um dos maiores especialistas em "Era Vargas", escreveu que “Getúlio é, para o bem e para o mal, a figura mais importante da história brasileira no século XX”. Ponto de vista não se discute.
 
- Jornal de Domingo
- Diário do Rio Doce