segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

JUSTA TROCA


            Mesmo habituada ao descaso e à irreverência com que costumam ser tratados seus grandes vultos, a comunidade valadarense não abandona a esperança por decisões e atitudes reparadoras de iniquidades. Quando elas acontecem, nota-se um alívio quase subliminar, próprio dos que guardavam na consciência o remorso da ingratidão, mas bem característico dos que se sentem recompensados diante da justiça.
            Em 2 de maio de 2012, Valadares perdeu o padre Eulálio Lafuente, uma de suas mais queridas e respeitadas figuras.
            De origem espanhola, veio para o Brasil no início da década de cinquenta, junto com outros padres escolápios, chegando a Governador Valadares em 1953.
Aqui, sua primeira missão foi a de professor e diretor do Colégio Ibituruna, onde, por longos anos, desenvolveu magnífico trabalho. Na época, ali estudaram muitas das figuras hoje responsáveis pelos destinos desta cidade, inclusive algumas de nossas lideranças políticas.
            À frente da Paróquia Nossa Senhora das Graças, a partir de 1971, mais uma vez se destacou por inúmeras e importantes ações pastorais, sociais e humanitárias.  
Excelente educador, exerceu com firmeza e eficiência, por quase trinta anos, a direção da Escola Municipal Teotônio Vilela, consolidando-a como uma das principais conquistas do bairro Maria Eugênia e da grande área a que serve, freqüentada por mais de três mil alunos.
Um de seus muitos admiradores, o mestre Luizinho (Luiz Alves Lopes), coordenador do Núcleo Penal da Faculdade de Direito Vale do Rio Doce (Fadivale), escreveu, há pouco tempo, interessante artigo sobre o memorável sacerdote. Entre outras coisas, lembrou a pessoa simples que, por anos e anos, com surrada blusa de frio e simplória pasta preta sob os braços, deslocava-se para inúmeros bairros da periferia, “levando aos deserdados uma palavra de esperança”. Fazia isso a pé ou de ônibus. Não aceitava ser “levado” por ninguém. Dispensava carona e preferia andar sozinho.
            Diante do muito que dele recebeu, Valadares deve a padre. Eulálio homenagens de todo tipo, em agradecimento pelo conjunto de sua obra.
            O acerto de contas teve início na última quinta-feira (21), quando o educandário Teotônio Vilela passou a chamar-se Escola Municipal Padre Eulálio Lafuente Elorz, iniciativa aclamada por toda a comunidade.
            A troca de nomes só foi dificultada pela importância histórica de Teotônio Vilela, também alvo de grande admiração.
            Mas, em termos de homenagens, o ilustre e saudoso político alagoano está bem aquinhoado, com seu nome merecidamente incrustado em marcos que se espalham por todo o país. Por certo, não se aborreceu ao ser substituído por um simples e humilde pastor, que, com honra, dignidade e persistência, realizou um trabalho de gigantes. Na dimensão em que ambos se encontram, devem ter brindado à iniciativa. Valadares também!