sábado, 23 de novembro de 2013

PARAR PRA QUÊ?

            Num setor dominado pela burocracia, onde se criam dificuldades, para vender facilidades, onde prestígio e influência são moedas fortes, perde-se muito tempo e dinheiro entre conceber e concretizar obras de interesse público.
            Nas empreitadas de grande porte é o que mais acontece, pelo fato de mobilizarem maior quantidade de grana. Políticos e empresários recorrerem a tudo que lhes possa assegurar pelo menos uma boa fatia da bolada. A eles pouco importam os atrasos e prejuízos resultantes das tramóias que praticam. Seus objetivos ficam sempre acima do que consideram “pequenos detalhes”.
A novela da duplicação da BR-381 dispensa mais exemplos: há anos idealizada, a obra até hoje não passou de promessa. Mas tem servido de plataforma política para inúmeros oportunistas e enchido os olhos de várias empreiteiras. Além de perdas materiais e econômico-financeiras, seus criminosos adiamentos já provocaram milhares de tragédias. Na iminência de sair do papel, reinava a certeza de que não mais haveria pregos a remover. Ledo engano.
De cara, o Ibama acaba de negar a autorização de sua competência, porque parte da mata atlântica existente à margem da rodovia será eliminada durante os trabalhos. Exige compensações ambientais acima das que já foram oferecidas. Pode ser uma exigência cabível, mas absolutamente extemporânea; acarretará nova e perniciosa demora.
 Após iniciada, caso constate graves irregularidades, o Tribunal de Contas da União (TCU) poderá recomendar o embargo da obra, como recentemente fez com uma série de outras. Entre essas, a construção da BR-448, na região metropolitana de Porto Alegre, recentemente visitada pela presidente Dilma Rousseff.
Na defesa de seu rincão político, ela não deixou por menos. Em claro português, disse que “eu acho um absurdo paralisar obra no Brasil. Você pode usar de vários métodos. Agora, paralisar obras é algo extremamente perigoso. Porque depois ninguém repara o custo. Se houve algum erro por parte de algum agente que resolveu paralisar, não tem quem repare, a lei não prevê".
O TCU respondeu que é seu papel constitucional fiscalizar a aplicação dos recursos públicos, apontando as irregularidades que constatar. Citou como exemplo a rodovia gaúcha defendida por Dilma, onde há indícios de superfaturamento da ordem de R$ 90 milhões. Mas ressalvou que compete ao Congresso Nacional decidir sobre a paralisação dos trabalhos.
Em sentido estrito, o ponto de vista da presidente é no mínimo plausível. Obras adormecidas, qualquer que seja o motivo, geram pesadas contas que acabam no colo do contribuinte. Veja-se a transposição do Rio São Francisco, que, pelos mais estapafúrdios pretextos, nos locais onde não está parada, anda igual tartaruga perneta. Orçada em R$ 4,8 bilhões, a obra se aproxima de R$ 10 bilhões. Não se sabe quando será concluída, nem quanto afinal custará. E há várias outras seguindo no mesmo ritmo.
Anormalidades são intoleráveis e devem ser energicamente coibidas. Precisa haver, entretanto, um meio de evitar ou mesmo impedir que elas ocorram e cresçam a ponto de justificar a paralisação de uma obra. Se acontecerem, que se penalizem os criadores, não as criações e criaturas. Aos especialistas no assunto cabe descobrir a fórmula mágica; e é bom que o façam com rapidez. Lembrando que se falta de planejamento, descontrole, superfaturamento, desvio de recursos, incompetência administrativa e outras mazelas forem motivos para interromper ações, o Brasil pode desligar as turbinas, apagar as luzes, cruzar os braços  e deixar o abacaxi nas mãos de Deus; se Ele aceitar!

domingo, 17 de novembro de 2013

MISTÉRIOS E VERDADES

            Causa, circunstância ou outros fatores, a morte de gente famosa quase sempre envolve mistério, controvérsia ou, no mínimo, alguma curiosidade.
Em visita a Dallas, em 1963, o então presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, desfilando em carro aberto, foi fatalmente atingido por dois tiros. Lee Oswald, que trabalhava em um depósito de onde partiram os disparos, foi preso e responsabilizado. Pouco depois, quando era levado para outra prisão, também acabou assassinado por Jack Ruby. Ainda há a presunção de que Kennedy não foi eliminado por Oswald, mas sim pela CIA, por ser contrário a certos tipos de operações da agência.
            A morte da Princesa Diana, em trágico acidente de carro ocorrido em Paris (agosto/1997), ainda está submersa em várias suspeitas. Fala-se em queima de arquivo, em trama muçulmana para eliminar Dodi Al-Fayed (o bilionário egípcio que a acompanhava), e até em responsabilização da Família Real inglesa. Sem contar a teoria de que Diana e Dodi estariam vivos, e que tudo não passou de um plano para que pudessem curtir a vida a dois, longe da mídia. Muitas investigações foram feitas para determinar as causas da violenta batida, mas nada foi encontrado, além de sinais de fatalidade.
             A célebre atriz Marilyn Monroe é responsável por outra dúvida. Sua morte ocorreu em agosto de 1962, enquanto dormia. Na ocasião, especulou-se que sua ligação com a família Kennedy e com o gângster Sam Giancana teria feito dela uma ameaça a segurança nacional. Isso justificaria seu assassinato. Prevalece, contudo, a versão oficial de overdose pela ingestão de barbitúricos.
            No Chile, a morte do ex-presidente Salvador Allende, registrada durante o golpe militar comandado por Augusto Pinochet, só foi esclarecida 40 anos depois.  Perícia realizada em seus restos mortais mostrou que ele não foi assassinado, cometeu suicídio.
            Já o poeta chileno Pablo Neruda morreu de câncer.  A afirmação foi dada pelo diretor do IML do Chile, no último dia 8, ao divulgar laudo unificado de legistas espanhóis, chilenos e norte-americanos sobre a “causa mortis” do Prêmio Nobel de Literatura. Até então, predominava a suspeita de que ele teria sido envenenado, em 1973, por ordem de Pinochet.
            O Brasil coleciona vários casos intrigantes.
            Um dos mais emblemáticos envolve o ex-presidente Getúlio Vargas que, segundo a história, se suicidou. Porém a atriz Virgínia Lane – para quem ”a barriguinha dele atrapalhava, mas tudo se resolvia na horizontal” – tem outra versão: “Eu estava na cama com ele. Entraram quatro mascarados e atiraram no presidente. GG mandou o (segurança) Gregório me atirar pela janela (para me proteger). Fraturei costela e braços. Vou contar isto no meu livro de memórias, que está no prelo. Eu morro, dizendo a verdade”.
            O fim do ex-presidente Juscelino Kubitscheck é outro poço de dúvidas. Até hoje não se sabe, com absoluta certeza, se o episódio em que ele perdeu vida, na Rodovia Presidente Dutra, foi acidental ou premeditado.·.
            Da mesma forma, a morte de Tancredo Neves deixou sérias indagações. As circunstâncias em que os fatos se desenrolaram, agravadas por inconcebíveis erros médicos, se transformaram em fantasmas que dificilmente serão exorcizados.
            No momento, o foco está direcionado para o ex-presidente João Goulart, deposto pelo golpe militar de 1964 e morto no exílio, em 1976. Seus restos mortais foram recentemente exumados, para exame. O objetivo é apurar a causa de seu falecimento, apontada como sendo ataque cardíaco. Suspeita-se que ele tenha sido envenenado.
 A perícia deverá estar concluída até 6 de dezembro, data da morte de Jango, quando seu corpo retornará para São Borja (RS), para novo sepultamento, agora com honras de chefe de Estado.
            Há hoje ampla tecnologia capaz de comprovar cientificamente o que de fato aconteceu. Dizem os especialistas que a margem de êxito fica bem próxima de 100%.
            A esperança é que isso estimule a busca de outras verdades, sejam elas quais forem, e doam em quem doer. A história ganhará mais credibilidade.

·          Jornal de Domingo
·          Diário do Rio Doce