quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

INTENÇÕES DE ANO NOVO

Por Mônica Loureiro

Deu, 2015. É seu fim. Cansei de suas mazelas. Conseguimos enfeitar nossas casas e nossas almas. Sentimos a ternura do abraço de nossos amores. Ceamos, trocamos presentes, agradecidos pelas batalhas vencidas e recarregamos nossas esperanças, depois de tanto aperto. Papai Noel trouxe refresco aos nossos corações, através da vontade íntima de surpresa, afago, sossego, respeito ... E na esperança de recebermos em troca, relaxamos os ombros e amolecemos o coração. Porque no fundo, bem lá no fundo, a gente quer mais que grana, mais que 13º, mais que Mega da Virada ou cupom sorteado. Mas, quando as festas se forem, lá depois do Carnaval, a magia vai terminar. E a gente perceberá que nada, nem de longe, começou a ser feito, para termos um 2016 respirável. Não, minha gente, não vamos nos iludir. Os problemas estão vivos, principalmente, aqueles empurrados para debaixo do tapete, ou para depois das escalas de recesso. Dizem que as brigas que não matam fortalecem. Então, suma da minha lembrança, 2015. Leve com você as notícias ruins, as decepções, as desilusões, a dor pelas perdas, pela falta de dignidade, pela desesperança. Para resumir meu raciocínio, vamos nos permitir dar e receber ternura. Vamos preparar nossa casa, nossa mesa, nossa família, nossas crenças. Vamos pedir a Deus saúde e renovação da fé. Vamos precisar! Por um bom começo, vamos beijar nossos velhos, vamos ter mais paciência com eles. Vamos baixar a guarda, vamos praticar a gentileza, vamos esquecer o egoísmo e a ética da conveniência. Vamos tentar ceder lugar, vamos evitar a raiva e o comentário desnecessário.  Vamos fazer ao vizinho, ao colega de trabalho, ao ciclista, a quem senta ao lado, ao que tem a vez o mesmo que esperamos para nós próprios, para nossa família. Que tenhamos menos pressa e ansiedade. Que nossas refeições sejam mais saudáveis e lentas, que possamos respirar profundamente e encontrar uma solução para o bem coletivo, que propicie aos pequenos mais espaço, aos idosos mais dignidade, aos doentes menos dores, aos pecadores a devida punição. 2016 está logo ali, e só será diferente, se nossa alma mudar. Todos receberemos 365 páginas novas, branquinhas em folha. Resta a cada um escolher o tema, o que plantar, o quanto se dedicar, para colher melhor. Felicidade requer dedicação, planejamento e uma dose de sorte, para o ano que vai nascer !!!!

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domingo, 20 de dezembro de 2015

PLAYBOY NO DIVÃ

Foi-se o tempo em que o homem precisava dar um brilhante para ver o pouco que a mulher se dispunha a mostrar. Se quisesse ver o muito que ela caprichosamente escondia, tinha que dar a jazida inteira. E dava!
Com charme e recato, a fêmea era mais arisca. Explorava à exaustão o seu poder de seduzir. E o fazia consciente de que essa era a forma de turbinar a libido do macho, “conditio sine qua non” para que ele fosse à caça.
Uma blusa mal-abotoada, um decote mais ousado ou o talho de uma saia justa mostravam um mínimo que provocava mais “frisson” do que as explicitudes que hoje bloqueiam as fantasias.
Para alegria dos barbudos, as amarras se romperam. O decoro perdeu forças, abrindo caminho para uma liberalidade que atravessou o rio do puritanismo e dinamitou a ponte.
De repente, a mulher se deu conta da sexualidade que nela estava adormecida. Também percebeu não haver motivos para ocultar seus atributos físicos. Por mais íntimos e ardentes que sejam, certos desejos não comportam repressão. E o belo é pra se mostrar.
Entre desabotoar toda a blusa e ficar nua foi só uma questão de tempo. Pouco tempo.
O mundo foi tomado por um verdadeiro festival de mulheres despidas. Incógnitas ou famosas, mas sempre belas e “boazudas”, elas invadiram todas as mídias.
Nesse processo, a “Playboy” exerceu influência decisiva.
Fundada em 1953, pelo americano Hugh Hefner, a revista destacou-se como precursora na exibição de fotos de mulheres nuas.
Em sua edição inicial, apresentou o famoso e cobiçado calendário fotográfico da não menos famosa e cobiçada Marilyn Monroe.
O primeiro exemplar brasileiro circulou agosto de 1975, com o título de “Revista do Homem”. Na época, o governo militar considerava “Playboy” um nome muito erótico.
Desde então, foram décadas de extasiantes desfiles de lindas mulheres brasileiras e estrangeiras. Todas mostradas com a classe, o requinte e a elegância que fogem ao alcance das publicações rivais.
Uma surpreendente reviravolta está deixando atônitos os admiradores da revista. .
Em outubro deste ano, demonstrando atravessar uma crise de identidade digna de psicanálise, a "Playboy" norte-americana anunciou o fim dos ensaios nus. A razão seria a concorrência dos sites pornográficos gratuitos, que banalizaram o acesso a esse tipo de imagens. No bom português, ela rendeu-se à internet.
Ainda na sofrência dessa má notícia, o leitor recebeu um verdadeiro golpe de misericórdia: no mês seguinte, a Editora Abril avisou que a partir de 2016 deixará de publicar a versão brasileira da "Playboy".
Fontes fidedignas, entretanto, garantem que a revista continuará sendo editada no Brasil. Com esse objetivo, outros grupos já estariam negociando com a Playboy Enterprises Inc., proprietária da marca. 
Resta saber se o que será mantido permanecerá no gosto da galera brasileira.
Se for para privilegiar negócios, política, viagens, alimentação, autoajuda, fitness, pet shops e outras mesmices já cansativamente exploradas no meio editorial, melhor que fique só na América do Norte.
Por aqui, Playboy sem nudez é o mesmo que “Placar” sem futebol, “Quatro Rodas” sem carros ou Natal sem Papai Noel. É certeza de “Playbye”.

- Revista “Mais Mais PERFIL – edição de dez/2015 (www.maismaisperfil.com)
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domingo, 13 de dezembro de 2015

CPMF - EXUMAR PARA CREMAR

            No dia 13.12.2007, o brasileiro respirou aliviado, ao se ver livre de um confisco que há muito vinha sendo acintosamente praticado pelo governo federal.
            Em plena madrugada daquela quinta-feira, o Senado impôs uma histórica derrota à administração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.  Numa corajosa decisão, sepultou a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), que o governo queria prorrogar por mais quatro anos.  Graças a isso, o famigerado tributo deixou de ser cobrado, desde o início de 2008.
            Criado em 1993, quando Itamar Franco era o presidente da República, o “imposto do cheque” existiu de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 1994, com o nome de Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira (IPMF).
            Dois anos depois, já no governo FHC, foi instituída a CPMF, que entrou em vigor em 23 de janeiro de 1997.
            Durante os 11 anos de sua vigência, o tributo foi uma permanente fonte de descontentamento popular, criticado por todos os segmentos da sociedade.
            No final do seu segundo mandato, quando Dilma já estava eleita, o ex-presidente Lula aventou a hipótese de ressuscitar a CPMF, que voltaria a ser cobrada a partir de janeiro de 2011. Foi afoitamente apoiado pelos governadores aliados e até pelo opositor Antonio Anastasia, reeleito para o governo de Minas.
            A ideia só não prosperou porque duas respeitadas lideranças nacionais falaram mais alto.
            O empresário Paulo Skaf, presidente da Fiesp, do Ciesp, do Sebrae e de outras importantes entidades, afirmou que "a nossa posição é conhecida, somos contrários à criação e/ou aumento de qualquer imposto. A sociedade brasileira não aceita elevação da carga tributária. Ao contrário, quer a sua redução e o constante aumento de qualidade nos serviços públicos”.
            À época presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, o advogado Ophir Cavalcante invocou o excesso de tributos, para dizer que "jogar novamente no colo da sociedade a responsabilidade pela saúde, enquanto a máquina pública só aumenta seu gigantismo, é preocupante. A OAB vê com extrema preocupação essa proposta que está sendo introduzida na pauta política do país”.
            São argumentos que, embora colocados há quatro anos, se mostram perfeitamente oportunos, no momento em que o fantasma da CPMF volta a assombrar.
            Atolado em dívidas resultantes de gastos perdulários, de mordomias inadmissíveis, de corrupção desenfreada, de uma estrutura administrativa hiperdimensionada, da incompetência de “cumpanheiros” entronizados em cargos que exigem capacitação, o governo quer mais dinheiro. A voracidade arrecadadora é incontrolável.
            O que mais provoca indignação é saber que o retorno da CPMF está sendo pretendido por uma administração que ainda não fez por merecer o mínimo de credibilidade.  Como bem disse o senador Aécio Neves, “um governo que está há mais de 12 anos no poder novamente recorre a um ajuste baseado preponderantemente em aumento de impostos sobre a população brasileira, que já paga uma das mais elevadas cargas tributárias do mundo”.
            Ademais, é sabido que a extinção da CPMF foi compensada pelo aumento de outros impostos, em especial o IOF, que, até agora, ninguém falou em reduzir. Nem vai falar!
            Por tudo isso, a exumação do imposto só faria sentido se fosse para sua imediata cremação, e nunca mais se tocar no assunto.

            Mas as evidências são de que só uma intensa mobilização popular poderia impedir que o brasileiro se torne vítima de mais uma extorsão. Isso se o atual governo sobreviver à imensa crise política que se instalou no país, tão prejudicial ao povo quanto a abominável CPMF.
             É hora de pés nas ruas e mãos à obra!
 
- Diário do Rio Doce

domingo, 15 de novembro de 2015

AINDA É CEDO

Incorporou-se definitivamente ao anedotário brasileiro o sermão daquele padre que, na missa dominical, após fazer apologia das vantagens celestiais, perguntou aos fieis:
            - Quem quer ir pro Céu?
Todos levantaram as mãos.
            Arrematando, o sacerdote indagou:
 - Agoooora?!
Nenhum braço permaneceu erguido.
A intenção do sacerdote era mostrar que tudo tem sua hora de acontecer. Não convém precipitar.
É mais ou menos o que se passa com a presidente Dilma Rousseff.
Antes, já se cogitava em vê-la pelas costas. Depois de janeiro, entretanto, quando ela iniciou seu segundo mandato, conquistado na base de inverdades e promessas enganosas, só se ouve “fora Dilma”. O grito está na boca de trabalhadores, aposentados, homens, mulheres, jovens e velhos de todas as idades. Ganhou as ruas, a mídia e se tornou a palavra de ordem nacional.
Ao que parece, todos a querem fora do poder.
No meio empresarial, esse desejo é indisfarçável, mas fica reprimido nos  bastidores. Por motivos óbvios, não pode ser escancarado.
Parlamentares da oposição já entregaram a Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, dois pedidos de impeachment da madame. Ambos elaborados a quatro mãos, pelos famosos juristas Miguel Reale Júnior e Hélio Bicudo. Este último, ironicamente, fundador do Partido dos Trabalhadores.
Nem mesmo os petistas e os demais integrantes da presumível base aliada do governo estão coesos. Muitos não escondem o “sonho” de ver sangue novo no Planalto.
Mas o que estaria “pegando” para que isso aconteça?
O medo de um conflito institucional não faz sentido. Apesar de toda a bagunça que se vê, nossas instituições têm se mostrado firmes e fiéis aos princípios constitucionais.
Também não caberia o receio de agravamento da crise econômico-financeira e social, pois, ao que parece, pior do que está não tem como ficar.
Talvez se entenda uma preocupação quanto ao eventual sucessor de Dilma. Se a escolha ficar entre Michel Temer, Eduardo Cunha, Renan Calheiros e Ricardo Lewandowski a coisa torna-se complicada. Seria trocar seis por menos do que meia dúzia.
Como em política toda conjetura é válida, há os que se apegam a uma explicação revestida de alguma lógica.
Até os mais leigos no assunto sabem que, depois dos desacertos administrativos e das falcatruas cometidas nos últimos anos, a recuperação do país requer ações duras e impopulares. Mas ninguém quer ser responsável pela sua adoção. Quem pariu Mateus que o embale!
Bem ou mal elaborada, encontra-se sob a apreciação do Congresso Nacional uma série de medidas que, se implementadas, provocarão enorme descontentamento popular. Entre elas, a volta da famigerada CPMF, que, em passado recente, tanto dinheiro extorquiu dos brasileiros.
A estratégia consiste em esperar que essa “caixa de maldades” seja aprovada sob a pressão e o patrocínio do governo atual. Uma vez identificada como a “mãe da criança”, Dilma poderia ser jogada aos leões. .
Assim como na homilia dominical, o povo quer que a presidente saia. Seus substitutos legais também querem, mas não têm pressa.

Pelo menos no desejo, todos se unem. Já é um alento!

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domingo, 1 de novembro de 2015

BUCHICHOS E BARRACOS

            O intenso bate-boca entre o senador Ronaldo Caiado (GO) e o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga (PMDB-AM), na última quinta-feira (29), foi dos mais indecorosos já acontecidos em uma audiência pública no Senado.
 Ao vivo e a cores, os dois trocaram gritos de "safado" e "bandido".
            Durante o quebra-pau, Caiado chegou a desafiar o ministro para "resolver a questão" fora do plenário. Precisou ser “acalmado” por outros parlamentares.
            Os “barracos” são comuns em ocasiões que envolvem debates, formação de opiniões e decisões que nem sempre – ou quase nunca - refletem consenso de grupo.
            De modo geral, surgem em julgamentos de escolas de samba, programas de auditório, assembleias, “reality shows” e em tantos outros locais onde haja conflitos de interesse.
            Têm chance de ocorrer até no colégio de cardeais da Igreja Católica incumbido de eleger o papa.
            É nas casas legislativas, entretanto, que são inevitáveis e altamente recorrentes. As câmaras municipais, assembleias legislativas e o Congresso Nacional são seus palcos prediletos.
Até em países mais civilizados que o nosso, os políticos são campeões em brigas verbais que, não raro, chegam às vias de fato.
No Brasil, os antecedentes são abundantes.
Um bom exemplo é a famosa troca de ofensas entre os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Tasso Jereissati (PSCB-CE), em 06 de agosto de 2009, sob o uso de expressões como “coronel” e “cangaceiro”. Naquela ocasião, Jereissati pretendia que certa pessoa, fosse retirada do recinto, por estar fazendo manifestações “impróprias”. Ao discordar, Renan, apontando para o colega, afirmou que ele era “minoria com complexo de maioria”. Aos gritos, Jereissati revidou, dizendo: “Senador Renan, não aponte esse dedo sujo pra cima de mim”. Na réplica, Renan afirmou que “o dedo sujo, infelizmente, é o de Vossa Excelência”, acrescentando que “você não é coronel de nada”. Exaltado, Jereissati chamou Renan de “cangaceiro de terceira categoria” e, ainda mais irado, teria acrescentado “seu merda”.
Outro caso que não foge da memória é a pancadaria que dominou o Senado, em 12 de setembro de 2007, quando deputados trocaram empurrões, socos e pontapés com os seguranças que tentavam impedir sua entrada na sessão em que seria julgado o senador e então presidente da Casa, Renan Calheiros, à época sob o risco de cassação. Os deputados possuíam autorização do STF para entrar, mas os senadores queriam que a sessão fosse secreta. O pau cantou, mas o sortudo Renan acabou absolvido.
Como se vê, o buchicho entre Ronaldo Caiado e Eduardo Braga não foge aos padrões de serenidade, cordialidade, educação e respeito mútuo, que há muito “dignificam” nossos congressistas.
O que mais chamou a atenção, nesse caso, foi a expressão Vossa Excelência, que eles empregaram no tratamento recíproco, apesar do baixo calão dos adjetivos que vinham na sequência.
Isso despertou a curiosidade dos responsáveis por zelar pela ética e pelo decoro nas duas casas do Congresso Nacional, deixando-os preocupados em definir se o tratamento “Vossa Excelência” deve ser entendido como uma reverência ou um insulto a quem o recebe.
Mas a preocupação se desfez, logo que o encarregado de decodificar a gravação do diálogo concluiu que estava tudo errado. O elevado tom da áspera discussão deu margem a um imperdoável equivoco. Em verdade, ninguém pronunciou “Vossa Excelência” é um safado ou “Vossa Excelência” é um bandido. Uma escuta mais atenta e apurada teria mostrado que “Vossa Excrescência” foi o axiônimo mal compreendido. Enfim, o nexo!

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domingo, 18 de outubro de 2015

UMA MÃO SUJA A OUTRA

            Houve época em que os políticos tinham um pouco mais de acanhamento e pudor, na hora de praticar atos indecorosos. De alguma forma, tentavam maquiar suas ações nefastas, para que elas parecessem legítimas e os interesses particulares não ficassem tão visíveis.
            A primeira grande preocupação era não “queimar o filme” com o eleitorado. A outra era não “dar mole” para os órgãos fiscalizadores.
O cuidado e a habilidade tinham também o objetivo de não comprometer o prestígio das instituições que elesrepresentavam.
Naquele tempo, o brasileiro já se sentia lesado. Mas, diante do modo ardiloso como isso acontecia, nem sempre sobrava espaço para uma reação mais convicta. No vai-da-valsa, acabava tudo no “vamos deixar como está, pra ver como é que fica”. E ficava por isso mesmo ...
O Brasil desenvolveu, impulsionado por riquezas geradoras de recursos que se acumularam nos cofres das grandes estatais. Essas, por sua vez, cresceram e se projetaram no mercado, comprando ou vendendo bens e serviços. Com isso, atraíram a atenção de empreiteiros, lobistas, agentes de governo e políticos inescrupulosos, sôfregos por dinheiro público.
A um só tempo, o país foi tomado por um monte de partidos políticos desprovidos de qualquer idealismo. Muitos deles sendo siglas de aluguel, meros abrigos de dirigentes e eleitos de toda espécie, com ênfase para os mais desqualificados, moral e culturalmente.
Para formar e manter uma base que lhe desse sustentação, o Governo se viu na obrigação de também crescer. Aumentou o número de ministérios, criando mais cargos de confiança, inclusive nas estatais e nas sociedades de economia mista. Era o jeito de ter onde acomodar os políticos e seus apadrinhados, sempre na base do “é dando que se recebe”.
Não deu outra. Formou-se no país não uma parceria, mas, sim, uma quadrilha público-privada especializada em roubar dinheiro do povo. No “avança”, os gananciosos começaram a meter os pés pelas mãos. A partir de certo ponto, ninguém mais dava bolas pra ética, honra, e outros parâmetros de bom comportamento. Independentemente de escalão, “suspeita-se” que os aproveitadores agiam onde quer que houvesse grana à disposição.. Que o diga o juiz Sérgio Moro!
A desfaçatez ficou de tal forma escancarada, que hoje o comando da nação está nas mãos de gente envolvida nas mais vergonhosas falcatruas.
Acusada de haver infringido a Lei de Responsabilidade Fiscal, praticando as já famosas “pedaladas” fiscais, a presidente da República enfrenta uma ameaça de impeachment.
O presidente do Senado, Renan Calheiros, dono de antecedentes nada lisonjeiros, é investigado pela Procuradoria Geral da República, por suposto (nunca evidente) envolvimento na operação Lava-Jato. Sem falar que, alertada pela Receita Federal, a PGR também apura a participação de Calheiros numa transação imobiliária realizada em Alagoas, que cheira a lavagem de dinheiro.  
Na Câmara, o presidente da Casa, deputado Eduardo Cunha, corre sério risco de ser cassado, por quebra de decoro parlamentar. Apesar de suas negativas, confirmou-se que ele possui contas secretas na Suíça, abastecidas com dinheiro desviado da Petrobrás.
Com tanta gente graúda envolvida, Brasília é hoje um grande balcão de negócios. Na ânsia de se livrar das acusações e preservar o poder, os ameaçados fazem de tudo. Mentem, sofismam, negam o óbvio, chantageiam e se dispõem a qualquer tipo de conchavo.
Com um cinismo a toda prova, tentam passar a ideia de que costuram um simples acordo de colaboração mútua.

Mas a opinião pública, enojada, sabe que tudo não passa de jogo rasteiro, onde uma mão suja a outra. Com chance de lava-jato, é claro!

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domingo, 4 de outubro de 2015

PODER MAQUIADO

            Na faz sentido, tampouco é justo falar em surpresa ou decepção na reforma ministerial que a presidente Dilma Rousseff anunciou na última sexta-feira.
            Em verdade, nenhum brasileiro minimamente esclarecido esperava nem mais nem menos do que foi feito.
            Pelo contrário, desde que passou a ser cogitada, sabia-se que a medida não passaria de mera maquiagem. Nada além de uma simples dança de cadeiras, com o objetivo de facilitar a aprovação de matérias de interesse do governo no congresso, em especial o ajuste fiscal, e dificultar a instalação de um eventual processo de impeachment da presidente.
            No final das contas, os grandes beneficiários das mudanças foram Lula e o PMDB.
O ex-presidente, porque conseguiu recolocar em pontos-chave homens de sua confiança, como Jacques Wagner, nomeado para Casa Civil, em lugar de Aloízio Mercadante, que nunca teve sua simpatia.
O partido do vice-presidente, Michel Temer, ampliou de seis para sete os ministérios sob seu controle.
Na análise de Igor Gielow, diretor da sucursal de Brasília da Folha de São Paulo, “o governo que tomou posse em 1º de janeiro acabou na manhã desta sexta-feira (sic), 275 dias depois de começado. Dilma Rousseff ainda é presidente, mas a sucessão de erros do Planalto e o agravamento da crise político-econômica deu à luz uma criatura híbrida: a cabeça de Luiz Inácio Lula da Silva voltou a mandar no Planalto, o varejo da Esplanada foi dado de vez ao PMDB”.
            Novamente, os interesses do povo foram desconsiderados.
            Em resumo, as mais destacadas providências anunciadas por Dilma foram a extinção de oito ministérios e de três mil cargos comissionados, a eliminação de 30 secretarias ligadas a ministérios, a redução de 10% nos salários da presidente, do vice e dos ministros, e o corte de até 20% nos gastos de custeio do governo.
            Pela estimativa oficial, haverá redução de R$ 200 milhões nos gastos da União.
            Uma análise superficial mostra que isso pouco representa, frente a um rombo orçamentário que, em 2016, deverá ultrapassar a casa dos R$ 60 bilhões.
            Ao mesmo tempo, Dilma anuncia o corte de 3.000 cargos comissionados, num universo que, só na administração direta, gira em torno de 22.000 postos. Se considerada a administração indireta, calcula-se que o número de pessoas empregadas por livre nomeação, sem necessidade de concurso, seja superior a 100.000.
            Conclui-se, pois, que o governo está agindo como uma grande empresa que corta o cafezinho oferecido aos clientes, na tentativa de evitar uma falência. Ou, ainda, aquele indivíduo que usa “Band-Aid”, para curar câncer.
            O pior é que, na ânsia de se preservar no Poder, os governantes acabam adotando decisões tresloucadas, que só contribuem para tornar mais nítida a sua incompetência e agravar o descontentamento popular.
            O país não mais suporta esse clima de instabilidade político-econômica em que se encontra.
            A cada dia, as coisas se tornam mais difíceis para o povo, que, por mais azar, também se ressente da falta de uma liderança lúcida, autêntica, vigorosa e carismática, em que possa depositar esperanças de melhoras.
            O jeito tem sido rezar. Com muita fé!

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domingo, 20 de setembro de 2015

SUA EXCELÊNCIA, O INVESTIDOR

                A chamada “vida-cidadã” é realmente cheia de surpresas e, assim, imprevisível.
 A situação de hoje, mesmo que aparentemente enraizada, está sempre sujeita às mais estranhas metamorfoses.
 De uma hora pra outra, o indivíduo se dá conta de que não é nada do que pensava ser, e se transforma no que também nunca imaginava ser.
            Idealizemos alguém que jamais teve condições de fazer qualquer aquisição, nem mesmo uma cota do “Baú da Felicidade”.  Sempre sonhou com uma moradia própria, um carro, uma boa escola para os filhos, um confiável plano de saúde e até mesmo uma viagem turística ao exterior – afinal, a ilusão é livre e infinita. E grana pra tanta extravagância?!   Quando muito, com seu modesto salário, e na base do “Deus sabe como”, consegue garantir o “pão nosso de cada dia” e suprir algumas outras prementes necessidades.
            Esse é o brasileiro, de repente surpreendido com a auspiciosa notícia de que é um senhor investidor.
            O diagnóstico veio embutido em sábio e reconfortante entendimento exposto pelo não menos sábio ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
            Pra defender o maquiavélico ajuste fiscal que o governo quer impingir à nação, incluindo o retorno da abominável CPMF, o espirituoso Levy teve a cara de pau de afirmar que vale a pena "pagar um pouquinho mais de imposto" para permitir a recuperação da economia brasileira.  Segundo ele, “é um investimento que vale a pena. A gente não deve ser vítima de uma miopia na questão dos impostos. Se a gente tiver que pagar um pouquinho mais de imposto para o país ser reconhecido como país forte, tenho certeza de que todo mundo vai querer fazer isso”.
            O ministro certamente não percebeu que, se pagar imposto for investimento, o brasileiro é um megainvestidor.  “Beneficiário” de uma das maiores cargas tributárias mundiais, ele já possui bens de sobra; não precisa  nem quer investir em mais tributos.
            Além disso, a experiência de mercado ensina que não se deve concentrar recursos em um único investimento, sobretudo quando esse investimento, além de improdutivo, é de altíssimo risco.
Pela sua tendência de cortar gastos, o atual titular da Fazenda é conhecido como “mãos de tesoura”. Tem um bom currículo, mas só foi cogitado para ministro depois que o banqueiro Henrique Meirelles (que seria o preferido) antecipou seu desinteresse pelo cargo, que também foi rejeitado por Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco.
            Sem aparente vínculo partidário, e sem aquele prestígio que dava forças a José Maria Alkmin, Santiago Dantas, Carvalho Pinto, Delfin Netto, Ernane Galvêas, Mário Henrique Simonsen e outros notáveis ministros da Fazenda, Levy trafega na corda bamba. Enquanto “cai não cai”, tenta “premiar” o brasileiro com a conta do grotesco festival de erros que o governo cometeu nos últimos 12 anos.
            A cada dia, surgem as mais desencontradas informações acerca das pretensões oficiais.             Todas elas sinalizando a adoção de medidas impopulares.
            Enquanto nada se decide, o dólar continua subindo, o desemprego é crescente e a inflação segue incontrolável.
Todos nós sabemos que alguma ou muita coisa precisa ser feita para tirar o país do buraco em que se encontra. E ninguém se ilude quanto aos sacrifícios que serão exigidos para essa recuperação. Mesmo a contragosto, e sabendo que isso se dará em detrimento de outros interesses, o povo está disposto a ajudar.
A dificuldade reside em aceitar que esses ajustes, além de amargos, sejam planejados e fiquem a cargo dos responsáveis pela desordem que se quer eliminar.

Bem ou mal comparando, seria o mesmo que confiar em um programa de reconstrução da Síria e do Iraque, concebido e conduzido pelo Estado Islâmico. Cadê credibilidade?!

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domingo, 6 de setembro de 2015

MARRÁIA

            Oficial e humildemente admitida a quebradeira do país, a preocupação de nossas autoridades – se é que elas se preocupam com algo além dos próprios interesses – é agora o que fazer pra sair da enrascada. A situação está pior do que a da equipe da Cruz de Malta no Campeonato Brasileiro.
            Sempre comodistas e ambiciosos, os gênios da área econômica logo conceberam um ajuste fiscal, envolvendo aumento de impostos, elevação de juros, redução de direitos trabalhistas e previdenciários, afora outras maldades. Para tapar o rombo, pouco importa arrombar o povo.
            O tiro saiu pela culatra. A inflação disparou, o dólar acompanhou, o desemprego aumentou, a recessão se instalou, e tome rimas.
            Como se o estrago não estivesse de bom tamanho, ameaçam criar novos tributos, além de majorar os já existentes. Despudoradamente, querem que o contribuinte banque as mancadas e falcatruas até agora cometidas por administradores incompetentes, políticos desonestos, lobistas e empreiteiros pilantras que há muito vêm saqueando os cofres do Tesouro.
            Porém a resistência a esses propósitos indecorosos mostra-se grande, maior do que a esperada.
            Não só o povo, mas até mesmo algumas surpreendentes lideranças políticas têm se insurgido contra mais essa extorsão. Chega de sacrifícios!
            Exausta de pagar por erros e crimes que não cometeu, a sociedade exige que, primeiro, o governo faça sua parte. Marráia!
            Além de medidas morais que restabeleçam a confiança na dignidade dos homens públicos e na austeridade de suas ações – meta difícil de ser alcançada –, pretende-se o enxugamento dos gastos públicos, de modo a compatibilizá-los com a arrecadação oficial.
            Um dos primeiros passos seria a redução do número de ministros, hoje na marca dos 39, colada nos 40 que celebrizaram a equipe de Ali-Babá.
            Segundo dados publicados pela revista ISTOÉ, edição 2365, “os 39 ministérios de Dilma custam mais de R$ 400 bilhões por ano e empregam 113 mil apadrinhados. Só os salários consomem R$ 214 bilhões - quase quatro vezes o ajuste fiscal que a presidente quer fazer à custa da sociedade”.
            Vale lembrar que Getúlio Vargas mantinha apenas 11 pastas de primeiro escalão. Juscelino governou com 13. Os militares se satisfizeram com 16.  Sarney aumentou para 25. Fernando Henrique terminou seu mandato com 24. Lula chegou a 35. Criando mais quatro cabides de emprego, Dilma tornou-se a recordista.
            Convenhamos ser um número exagerado, a ponto de comprometer a eficiência administrativa governamental. Além disso, reforça o sentimento popular de que o objetivo principal é preservar espaço para negociatas com partidos aliados, onde impera o “é dando que se recebe”.
            A título de curiosidade, os Estados Unidos, a grande potência mundial, tem apenas 15 ministérios. Mais perto de nós, o Chile, com 20 órgãos da espécie, exibe o maior IDH latino americano. O mais parecido com o Brasil é o modesto Gabão, o único país com 40 ministérios.
                Fortemente pressionada, inclusive por alguns de seus coligados, a presidente Dilma, já admite o corte de pelo menos 10 das pastas existentes e inúmeros cargos comissionados. Mas diz que não dará prosseguimento a uma reforma administrativa, enquanto permanecer aguda a crise política.
            Nesse clima de “vai num vai” presidencial, tramita na Câmara, já aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que reduz para 20 a quantidade de ministérios. O autor da proposta é ninguém mais, ninguém menos do que o deputado Eduardo Cunha, presidente da Casa, hoje o mais fiel e cordial desafeto de dona Dilma.

            Alguma coisa ameaça “pintar”, além da derrocada do Vasco e da queda de seu presidente. E não demora!

- Diário do Rio Doce

domingo, 23 de agosto de 2015

NA CORDA BAMBA

                Nos locais onde tufões, furacões e vendavais são frequentes, autoridades e moradores possuem toda uma estratégia de defesa e proteção. 
            Com a possível antecedência, procuram mapear o itinerário dos ciclones, calcular a intensidade dos ventos e o tempo provável de sua duração, afora outros cuidados.
            Na hora “H”, entretanto, muitos ignoram outras orientações, e preferem ficar em casa, fechando portas e janelas, até que o fenômeno se desfaça. Atitude própria de veteranos de outras refregas, sabedores de que as tormentas, por mais ameaçadoras que se anunciem, acabam perdendo forças, e com o tempo se dispersam. Só depois eles se preocupam com os estragos e os consertos necessários. E o fazem sem reclamar, conformados com as perdas e agradecidos por terem sido poupados de piores castigos.
            Teria sido essa a tática do governo, diante dos protestos do último domingo.
Revoltado com a calamitosa situação do país, o povo voltou às ruas. Dessa vez não apenas para mostrar indignação, mas para exigir o “impeachment”, a cassação ou a renúncia da presidente Dilma Rousseff. Reclamava também o banimento de Lula, sem esconder absoluta rejeição ao PT.Reverências só ao juiz Sérgio Moro, aclamado como grande herói e justiceiro nacional.
Percebendo o “tempo fechado”, os governantes optaram por se resguardar.
A presidente Dilma trancou-se no Palácio da Alvorada, onde, segundo dizem, deu ordens para não ser incomodada, enquanto a manifestação estivesse no ar. Suspendeu as tradicionais pedaladas e disse que não atenderia chamadas telefônicas, nem mesmo as do nutricionista ou de seu “personal trainer”.
O conselheiro Lula e os integrantes da tropa de choque presidencial também se esconderam. Cada qual no seu cantinho.
Encerrado o movimento, ninguém entendia o jeito humilde, resignado e civilizado com que o governo digeriu os protestos.
Quem apostou numa enérgica e contundente reação, se espantou com as palavras do ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, o primeiro a tentar minimizar a repercussão dos fatos. Segundo ele, o Palácio do Planalto encarou os protestos como fatos naturais de um regime popular e avaliou que eles ficaram “dentro da normalidade democrática”. Só faltou insinuar que os palavrões, xingamentos e gritos de ordem pelo “impeachment” não passaram de carinhosa manifestação de apareço e agradecimento ao governo.
            Bem verdade que nem todos analisaram dessa forma.
          O líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), entendeu que “este espírito de intolerância é manipulado em parte pela oposição, que semeia o ódio, um antídoto da democracia, formada e construída nas lutas pelas Diretas Já e contra o regime militar”.
Mais “light”, a presidente Dilma, optou por dizer que “valeu a pena lutar pela democracia” e que o país “está mais forte”. Aproveitou para afirmar sua disposição de conversar e ouvir “com humildade”, mas sem abdicar de suas convicções.
A tática do governo para “administrar” crises tem sido, no primeiro momento, evitar o confronto, absorver o impacto, amortecê-lo e, se possível, transformar o limão em limonada, dando uma de solidário com os reclamos do povo. Depois, tentar reverter a bronca, em desfavor do adversário.
Até agora, logrou êxito. Tanto é que, só neste ano, entre outras turbulências, enfrentou três grandes protestos populares, e permanece de pé.
        Essa sustentação, entretanto, tem exigido frequentes declarações de acatamento à vontade das massas.
Ainda referindo-se ao último protesto, a Presidente afirmou que “nas democracias, nós respeitamos as urnas, respeitamos as ruas”.
O problema é que as ruas estão gritando “fora Dilma”, “fora Lula” e “fora PT”.

Haja equilíbrio e habilidade pra se segurar!

- Diário do Rio Doce 
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domingo, 9 de agosto de 2015

DIVÓRCIO À VISTA

Até momento, o governo surfou sobre sofismas e inverdades que a conjuntura atual desnudou em toda a sua amplitude. 
Ficou claro que a onda de desenvolvimento, conquistas sociais e estabilidade econômica, alardeada nos últimos 13 anos, está bem mais próxima da ficção do que da realidade. Alguma coisa se fez, mas muito menos do se esperava, do que foi prometido e, sobretudo, do que tem sido propalado.
Com a vaca no brejo, atolada até o pescoço e esperneando para não morrer sufocada, a verdade veio à tona. A nação atravessa um dos piores momentos de sua história. Tudo resultado de falhas administrativas, falcatruas e bandalheiras que há muito vinham sendo cometidas. Mazelas que, entretanto, só se tornaram conhecidas depois que a imprensa e a justiça conseguiram expor e atacar o megaprocesso de corrupção que corroia as entranhas do país.
De repente, todas as adversidades entraram em evidência. Desemprego, recessão econômica, inflação incontrolável, dólar em forte alta, antagonismos políticos, descrença nos governantes e outros males se irmanaram na construção do caos.
Assustado, desorientado e percebendo que o agravamento da crise é tão incontrolável quanto à insatisfação popular, o governo tem recorrido a todos os meios, na tentativa de reverter esse quadro.
 Na prática, entretanto, não fez mais do que lançar um plano de ajuste fiscal que evolui na base de um passo à frente e dois atrás, graças ao clima de beligerância que se instalou entre o Executivo e o Legislativo.
Nada melhor do que um arrocho, um bom aperto, para colocar as coisas nos seus devidos lugares.
Quando menos se esperava, o governo dá sinais de que mudou de postura. Nada de arrogância, intransigência, autocracia e outras atitudes que denotem superioridade ou autoafirmação. O negócio, agora, é mostrar humildade, disposição para o diálogo, respeito aos adversários e, se necessário, até fazer uma espécie de “mea culpa” premiada.
Uma boa demonstração nesse sentido foi dada pelo ministro-chefe da Casa Civil, Aloísio Mercadante. Em conversa com o deputado Rodrigo de Castro (PSDB/MG), ele admitiu que o governo cometeu erros e pediu apoio da oposição à responsabilidade fiscal. Sem mudar de cara, disse que “vivemos um momento politizado, com erros que cometemos, e se comete quando se governa. Vocês têm experiências importantes na administração de estados e do Brasil e precisamos ter pactos de política de estado que vão além do governo". Uma pérola de discurso!
Trilhando a mesma linha, o vice-presidente e articulador político do governo, Michel Temer, falando a senadores, reconheceu que o país enfrenta uma grave crise política e econômica. Segundo ele, a situação  “é grave porque há uma crise política se ensaiando. Há uma crise econômica que está precisando ser ajustada. Mas, para tanto, é preciso contar com o Congresso Nacional. É preciso contar com os vários setores da sociedade brasileira”. Até parece!
A metamorfose é válida, mas um tanto tardia.
A julgar pelos 71% de reprovação da presidente Dilma Rousseff, percentual maior do que os 68% atribuídos a Fernando Collor, às vésperas de seu “impeachment”, não há nada que permita qualquer otimismo em relação ao futuro do atual governo.
Na verdade, o país atravessa uma crise parecida com a do casal que está se separando, por motivo de traição de uma das partes. Filhos, familiares e amigos, desolados, tudo fazem no sentido de impedir a ruptura. Mas a decepção do cônjuge traído é semelhante à de um povo que não mais suporta conviver com um ente que não soube corresponder à sua confiança.
Fica difícil. Pra caramba!

- Diário do Rio Doce 

sábado, 1 de agosto de 2015

MUNDO CÃO

Na contramão de um vertiginoso desenvolvimento industrial, tecnológico e científico, o ser humano patina. Em termos de coexistência, pouco ou nada evoluiu em relação ao padrão Fifa, ops!,  padrão caverna. E olhe lá se não retrocedeu!
            Movidos pelo egoísmo e pela ambição, homens e mulheres agem com total desenvoltura, quando se trata de mentir, subornar, roubar e matar, num processo bem próximo da autodestruição.
            Entregue a divagações, ocorreu-me que, se a humanidade pudesse voltar às origens, com liberdade para reescrever sua história, mostraria um “my way” bem diferente do atual.
Provavelmente, estaríamos num paraíso em que todos falariam a mesma língua e professariam uma só fé. Nada de guerras, atos terroristas, golpes de estado, conflitos raciais ou religiosos.
 “Ipso facto”, não existiriam assassinatos, assaltos, uso de drogas, escravidão, prostituição, pedofilia e outras mazelas sociais. Tampouco haveria corrupção, desvios de recursos oficiais, lavagem de dinheiro, superfaturamento de gastos públicos, falcatruas nas entidades esportivas, pedaladas fiscais, nem adultérios chapas-brancas. Um autêntico “Shangri-la”, sem defeitos.
            A imaginação avançava nesse rumo, fértil e ambiciosa, quando, a exemplo das bulas de medicamentos, surgiram as fatais contraindicações.
            Pra começar, à falta de guerras, terrorismo e outras formas de conflitos armados, a indústria bélica inexistiria. Além de catástrofe econômica, isso seria uma tremenda sacanagem com os abnegados contrabandistas de armas, que, com muito esforço e sacrifício, extraem dessa nobre atividade o seu modesto sustento. Já pensou?!
            Sem o consumo de heroína, ópio, maconha, crack e outras drogas, prestigiados e habituais traficantes, inativos, entrariam em desespero. O mercado especializado viraria pó, com graves consequências para o narcotráfico e para as baladas de socialites. Melhor esquecer!
            Exorcizar golpes de estado seria duvidar da tendência liberal dos governantes latino americanos, em especial o venezuelano Nicolas Maduro. Desprendidos e desapegados ao poder, eles não precisariam disso, para demonstrar que respeitam a vontade popular. A história já os consagrou como intransigentes defensores dos princípios democráticos apregoados pela doutrina bolivariana. Fora de cogitação!
            O mais difícil, entretanto, foi vislumbrar um mundo isento da corrupção e seus desdobramentos. Até onde alcancei, o quadro era caótico.
Num clima de absoluta consternação, políticos, empresários e entes governamentais batiam cabeças, sem saber como turbinar seus suados ganhos atípicos. Isolado em seu gabinete de trabalho, sem a Lava-Jato, o juiz Sérgio Moro lamentava o tempo que perdeu nos Estados Unidos, ampliando conhecimentos sobre combate à lavagem de dinheiro. Enquanto isso, procuradores públicos e policiais federais temiam férias coletivas e até demissões, por falta de gente graúda a quem investigar e prender. Nem pensar!
            Em meio a tantas controvérsias, o jeito foi pedir a opinião do sociólogo Belechiano Conçelheiro Dubar (escreve-se assim mesmo), amigo e companheiro de longas refregas.

Expert em generalidades, mestre Belé, codinome de sua preferência, filosofou que este é um mundo cão, difícil de ser entendido. Após muito refletir, ele lembrou que não se mexe em time que está ganhando, sobretudo quando esse time é o adversário. Apoiado nessa máxima, disse ser melhor deixar tudo como está, pra não aumentar o risco de piorar. Quem sou eu pra discordar?!

Texto para a revista "Mais Mais PERFIL" - Edição de Julho/2015

domingo, 26 de julho de 2015

SINUCA DE BICO

            Chega a hora em que não se pode mais ficar concentrado em acontecimentos recorrentes, sobretudo quando eles nada têm de positivo, estimulantes ou agradáveis. Pelo contrário, são profundamente incômodos e execráveis, não apenas por serem repetitivos, mas pelo seu conteúdo indigesto, não raro afrontoso à inteligência e à cidadania de quem a eles assiste.
            É o caso dos periódicos escândalos republicanos. Ocupando os espaços mais nobres dos meios de comunicação, eles há muito vêm “torrando” a paciência popular.
Nos últimos anos, a situação piorou. Não se fala em outra coisa senão em bandidos de colarinho branco que roubam a cena, saqueando os cofres públicos. Destaque para os badalados personagens do “mensalão”, do “petrolão” e de outros recentes e vergonhosos episódios da vida nacional.
Os tolos que se amarram nesses lances não sabem ou não percebem que há coisas mais interessantes pra ver.
Ainda agora, desenrolam-se os Jogos Pan-Americanos de Toronto, mostrados em tempo real, um espetáculo imperdível.
O Brasil se faz presente, exibindo surpreendente evolução em várias modalidades desportivas. Tem alcançado resultados históricos e aparece como a terceira melhor delegação de certame. Até a última sexta-feira, havia conquistado 121 medalhas, sendo 34 de ouro, bem mais do que Cuba, Colômbia, México, Argentina e outros tradicionais “bichos-papões” de troféus.
Para os que não são chegados ao esporte, a pedida é se servir de um bom vinho ou de um legítimo scotch, acomodar-se numa confortável poltrona, se possível bem acompanhado, e curtir na telinha as emoções de “Desejos Secretos”.
A meganovela da Globo está  “matando”.  Exibida nos fins de noite, ela mostra o submundo da prostituição de luxo, camuflado pelo glamour do universo da moda.
Com bom elenco, esmerado acabamento e bem dosado erotismo, o folhetim tem levado os telespectadores à loucura, exibindo cenas excitantes, interpretadas por atores de grande beleza física. Coisa pra ninguém botar defeito.
Convenhamos, pois, não haver justificativa para permanecer fissurado no noticiário político-econômico, que cuida apenas de gente safada e suas bandalheiras, ou de situações em que o povo só ganha quando perde pouco.
As óbvias exceções ficariam por conta das matérias que despertem alguma esperança, tipo as que falem de possíveis mudanças no comando do país. Mas até nessa hipótese específica o brasileiro se sentiria hoje numa sinuca de bico.
Se, por alguma das várias razões já diagnosticadas e amplamente conhecidas, Dilma Rousseff decidisse “jogar a toalha”, ou fosse ejetada do trono presidencial, seu substituto automático seria o vice-presidente Michel Temer, que pouco tem de admirável, além de uma bela esposa. Na linha sucessória, viriam, pela ordem, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha; o presidente do Senado, Renan Calheiros; e o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowisk, figuras tão queridas quanto o horário eleitoral gratuito.
No caso de uma nova eleição, as opções naturais seriam os clássicos Aécio Neves, Geraldo Alckmin, José Serra e Marina Silva, políticos determinados e corajosos, que, na oposição, têm sido quase tão competentes e brilhantes quanto os craques da Seleção canarinho. Na disputa, se ele ainda reunir condições “técnicas” para fazê-lo, certamente estaria o emérito palestrante Lula “Brahma” da Silva, cada vez mais experiente na arte de embromar.

Melhor assistir ao “Domingão do Faustão”. O sacrifício será menor!

- Diário do rio Doce - 26.07.2013