A corrida às revendedoras de
automóveis tende a intensificar-se neste final de mês. Habituados a deixar tudo
pra última hora, vários interessados só agora decidiram entrar na fila, para
beneficiar-se da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que,
não existindo outra decisão do governo, será suspensa após 31 de agosto.
Apesar de o ministro da Fazenda haver
declarado que a prorrogação do benefício não está sendo cogitada, muitos
apostam na possibilidade de que isso venha a acontecer. Mesmo assim, os que
aspiram comprar um carro novo, e reúnem condições para tanto, preferem não se
arriscar; o seguro morreu de velho!
Por conta dessa política oficial de
incentivo, a comercialização de veículos vem batendo sucessivos recordes. No
ano, o volume acumulado está bem próximo de dois milhões de unidades vendidas.
O que impressiona nesse contexto é o
fato de o brasileiro não se inibir diante dos altos preços dos carros no
mercado nacional.
Em matéria publicada na versão online
da revista Forbes, o jornalista Kenneth Rapoza, especializado na cobertura dos
Brics (Brasil, Rússia, Índia e China), considera "ridículos" os
valores aqui praticados.
Na sua opinião, o consumidor local, em
busca de status, confunde preço com qualidade. “Alguém
pode imaginar que pagar US$ 80 mil por um Jeep Grand Cherokee significa que ele
vem equipado com rodas folheadas a ouro e asas. Mas, no Brasil, esse é o preço
de um básico”, escreveu ele, acrescentando que, “com os R$ 179 mil que paga por
um único Grand Cherokee, um brasileiro poderia comprar três, se vivesse em
Miami”.
Em tom de censura, disse não encontrar
outra razão para tamanha disparidade, a não ser os altos impostos incidentes
sobre o produto e a ingenuidade do consumidor, que considera o carro de luxo um
atestado de sucesso.
"Desculpem, brazukas..., não
existe status em um Toyota Corolla, Honda Civic, Grand Cherokee ou Dodge
Durango", escreveu, aconselhando que “não se deixem enganar pelo preço.
Vocês estão sendo roubados".
No tocante à tributação, a crítica de
Rapozo nada tem de original; retrata uma situação amplamente conhecida. Não é
de agora que nos sabemos escorchados pelo erário, nessa e em várias outras
"mordidas". O governo usa e abusa do direito de espoliar o cidadão,
que tudo aceita, mansa e passivamente.
O grande mérito do jornalista,
entretanto, foi mexer com os brios do brasileiro, criticando uma vaidade a que
poucos podem se dar o luxo, enquanto muitos dela se distanciam.
Ideal é que os compradores resistissem
às imposições e distorções do mercado, abstendo-se de comprar.
Seria a forma de o carro de luxo
deixar de ser objeto de ostentação, para transformar-se em conforto a que todos
teriam acesso.
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