domingo, 10 de abril de 2011

A VEZ DE AÉCIO

            Comenta-se que, em sua recente visita a Portugal, Dilma Rousseff teria revelado ao presidente lusitano que sente falta de uma oposição capaz de lhe deixar mais forte para reagir à ganância de seus aliados.
            Se de fato aconteceu, o desabafo mostra que a presidente não está satisfeita com a pressão por cargos exercida pelos “cumpanheiros”, nem com a complacência de seus adversários.
            Enquanto Dilma se abria perante Cavaco Silva, o senador Aécio Neves – como que adivinhando – dosava as palavras que iria proferir na quarta-feira (06), em seu primeiro pronunciamento nesta legislatura.
            Nas cinco horas em que ocupou a tribuna do Senado, o neto de Tancredo Neves abriu mãos da “mineirice” e abandonou o muro onde se aninham os tucanos.
            Com a habilidade e elegância, o senador mineiro não poupou críticas ao governo federal.
Diante de um plenário repleto de integrantes da oposição e da base governista, abordou o momento político sob um ponto de vista histórico, mostrando a evolução do nosso processo democrático. Acreditando ser a hora de “fazer o que precisa ser feito” disse “Ou o faremos ou continuaremos colecionando sonhos irrealizados. Não temos esse direito. Precisamos estar, todos, à altura dos sonhos de cada um dos brasileiros”. Arrematou prometendo que “Nós, da oposição, estaremos”.
Lembrou a eleição de Tancredo Neves, a criação do Plano Real  e outros capítulos importantes da história nacional, nem sempre apoiados por seus adversários.  Foi quando disse que "entre o interesse do país e do partido, o PT escolheu o do PT".  A reação petista foi incontinenti.
Em nova estocada, utilizou um chavão de Lula para afirmar que “nunca antes se viu na nossa história” tão grave aparelhamento e inchaço do Estado brasileiro, sob patrocínio do poder federal.
Antes de denunciar gargalos que a seu ver atrasam o progresso nacional, o tucano sentenciou que o país necessita de um choque de realidade. “O Brasil cor-de-rosa vendido durante a campanha política não se confirma na realidade”, acrescentou. A desorganização fiscal, a pesada carga tributária e a precariedade da infraestrutura foram alguns dos pontos negativos que apontou.
Mas reconheceu que houve melhorias no governo Lula, cujo mérito, segundo ele, foi manter os fundamentos da política econômica implantada pelos governos anteriores.
O ex-governador mineiro advertiu que não exercerá oposição na base de ataques pessoais. Disse que não confunde agressividade com firmeza, nem adversário com inimigo. Fará o tipo de política em que brigam as idéias, não os homens.
Com um discurso coerente e consistente, Aécio mostrou ser o político da vez, o que reúne melhores condições de liderar a oposição. Pode até não ser o opositor desejado por Dilma Rousseff, mas tem tudo para impedir que ela continue navegando em um mar de rosas.