Com o trânsito cada
vez mais caótico e a precariedade do transporte público, andar transformou-se
em boa alternativa para os deslocamentos pessoais. Conforme levantamento do
IBGE (2010), cerca de 30% das locomoções cotidianas são realizadas a pé. Não só
por ser uma opção saudável, que permite interagir com a cidade e seus
moradores, mas devido ao elevado custo do transporte público. São necessárias,
pois, calçadas adequadas, em quantidade e qualidade capazes de atender a
crianças, jovens,
adultos, idosos e deficientes físicos.
Entretanto, a
caminhada transformou-se numa prova de obstáculos. Os desafios vão da péssima
condição dos passeios públicos, cheios de buracos, desníveis, degraus,
alagamentos e outras deficiências, até sua ocupação por bancas de revistas,
camelôs, cavaletes publicitários, filas de bancos, financeiras e casas lotéricas,
entulhos, mesas de bares e outras parafernálias. Sem falar nos incômodos
pedintes, malandros e drogados que se agrupam em certos pontos, constrangendo
os transeuntes.
Defensores desse
espaço essencial para garantir a mobilidade urbana, os pernambucanos Francisco
Cunha (consultor de empresas) e Luiz Helvécio (engenheiro) escreveram o livro “Calçada:
o primeiro degrau da cidadania urbana”. Na obra advogam a ideia de que o
desrespeito à calçada é também um desrespeito ao direito de ir e vir, comum a todo
cidadão.
Na opinião de Cunha, “sem
podermos trafegar por calçadas seguras, desobstruídas e regulares, estamos
impedidos – ou não podemos fazê-lo dignamente –, de chegar ao trabalho, à
residência, à escola e ao transporte público. Ficamos isolados ou gravemente
restringidos por carros invasores, barracas, lixo, esgotos estourados e
inúmeros outros abusos que atormentam a vida do cidadão pedestre”.
A importância de
preservar e construir calçadas cresce na proporção direta do vertiginoso
aumento da frota de veículos. Com as ruas tomadas por automóveis, caminhões,
motos e bicicletas, o pedestre se sente cada vez mais confinado nos passeios
públicos.
O problema é nacional,
com ênfase nas localidades onde a prefeitura é mais omissa e a comunidade menos
zelosa dos próprios interesses.
Nesse contexto,
Valadares deixa muito a desejar. De modo geral, suas calçadas encontram-se em
estado lastimável. A necessidade de revitalizá-las há muito caiu no
esquecimento do Poder Público e da maior parte dos proprietários de imóveis. Que
o digam os idosos, os cadeirantes, os pais que gostariam de usar carrinhos de
bebê, e tantos outros.
Os especialistas em
mobilidade urbana asseguram que a qualidade das calçadas é o melhor indicador
de desenvolvimento humano, além de funcionar como um sensor para medir o nível
de civilidade de um povo. Não há o que contestar!