Por
Etelmar Loureiro
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Diário do Rio Doce – 04.07.2019
A
primeira semana de julho começou sob o impacto das manifestações populares em
apoio ao ministro Sérgio Moro e ao seu pacote anticrime, ao governo do
presidente Jair Bolsonaro e à Operação Lava Jato. Os participantes aproveitaram
para também criticar o Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Congresso Nacional. Isso
aconteceu no último domingo, quando milhares de pessoas saíram às ruas das
principais capitais e de inúmeras outras cidades brasileiras, solidarizando-se,
de modo especial, com o titular da Justiça, que vem sendo espezinhado, desde quando
o site The Intercept Brasil deu início ao vazamento de reservados diálogos
entre ele, quando juiz da Lava Jato, e o procurador Deltan Dallagnol,
coordenador da força-tarefa da operação. Esse imbróglio, entretanto, promete
mais capítulos, podendo, de momento, ser deixado no “vinagrete”.
Outro acontecimento digno de
abordagem seria a Exposição Agropecuária de Governador Valadares, cuja 50ª
edição se inicia amanhã, no parque da União Ruralista Rio Doce (URRD), sua
promotora. Vai até o próximo dia 14. Mas o Jubileu de Ouro da Expoagro já foi
explorado à exaustão, no DRD de domingo passado. Ali, além de aclamado por
alguns dos mais destacados representantes do empresariado local, o evento ganhou
um bem elaborado texto da talentosa articulista Zenólia Maria de Almeida, que
esgotou o assunto.
Datas comemorativas, entretanto,
nunca faltam. Mais um jubileu, este de prata, acaba de transcorrer, sem despertar
todo o interesse a que fazia jus. Nesse 1º de julho, o real, lançado em 1994, completou
um quarto de século. Tornou-se a moeda com circulação ininterrupta mais longeva
da história contemporânea do Brasil. Suplantou o cruzeiro, que surgiu em
novembro de l942 e acabou em fevereiro de 1967, durando pouco mais de 24 anos.
Numa breve
retrospectiva, vale lembrar que o Plano Real foi um trabalho feito a múltiplas mãos.
Com ele colaboraram consagrados economistas, como Francisco Lopes, Pedro Malan,
André Lara Resende, Edmar Bacha, Gustavo Franco, Pérsio Arida e outros. Todos
sob a coordenação política do então ministro da Fazenda, Fernando Henrique
Cardoso, que fazia a ligação entre a equipe técnica e o presidente Itamar
Franco, o dono da ideia.
Segundo pessoas que
lhe eram próximas, Itamar jamais reconheceu em Fernando Henrique a paternidade do
Plano Real. Anos mais tarde, ele teria declarado ser “uma inverdade dizer que
quando ele (FHC) deixou o Ministério da Fazenda para se candidatar, tudo estava
pronto e feito”.
Para muitos analistas,
foi o ministro Rubens Ricupero – substituto de FHC, quando este se
desincompatibilizou do Ministério, para ser candidato à Presidência – o
responsável por disciplinar o Plano Real, estabelecendo as regras e condições
para emissão da nova moeda. Ao governo FHC pode-se atribuir o mérito de colocar
em prática o que previa o plano gerado antes de sua eleição, no governo Itamar.
Independentemente de
quem seja “o pai da criança”, não há como ignorar o êxito do Plano Real. Após
tantos insucessos na busca de estabilidade econômica, foi o conjunto de medidas
por ele incorporadas que possibilitou ao Brasil afugentar o dragão da hiperinflação.
Vivíamos uma alta de preços tão galopante que, se o indivíduo fosse a um bar,
beber duas cervejas, convinha pedir ambas ao mesmo tempo, para evitar que a
segunda viesse mais cara.
Para se ter uma noção
de como as coisas mudaram, em junho de 1994, o Índice de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA), do IBGE, acumulava alta de quase 5.000%, em 12 meses. Vinte e
cinco anos depois, essa mesma alta oscila em torno de 4%.
Os especialistas no
assunto argumentam que, apesar de a economia haver duplicado de tamanho, o
crescimento do país, nesse quarto de século, não foi bastante para incluí-lo
entre as maiores expansões mundiais.
Por sua vez, aqueles
que viveram as agruras do período inflacionário preferem as coisas como elas
estão. Torcem para que o Brasil cresça da forma incontida e arrojada, desde que
o custo de vida permaneça estável e controlável. A combinação é perfeita.