quinta-feira, 25 de outubro de 2018

NA RETA DE CHEGADA


Por Etelmar Loureiro

- Diário do Rio Doce - 25.10.2018

            Mais três dias, e o Brasil conhecerá o seu próximo presidente.
            A campanha política deste ano contrariou as mais abalizadas previsões. Depois de uma modorrenta largada, transformou-se em acirrada disputa, num clima de quase beligerância. Em todos os momentos, sobretudo no segundo turno, o desrespeito, a troca de farpas e agressões, as mentiras, as tentativas de desconstrução entre os adversários e muitas outras baixarias têm prevalecido sobre a apresentação de projetos e a discussão dos grandes temas de interesse nacional. Um ambiente surreal, onde as “fake news” e as tramas de bastidores repercutem muito mais do que os arranjos de vitrine.
            Neste cenário, as redes sociais vêm dando verdadeiro banho na TV, na propaganda eleitoral gratuita e até mesmo nos debates e sabatinas com candidatos. Na visão de Daniel Machado, especialista em marketing político, “há um descontentamento com o político tradicional e isso reverbera também no modelo de se fazer campanha”. E é bom que os eleitores estejam preparados para as surpresas e pegadinhas que poderão pintar no apagar das luzes. Sempre há tempo para mais uma sacanagem!
            Desde o primeiro turno, instalou-se uma forte polarização entre petismo e antipetismo, centrada nos dois candidatos que se mantiveram na pista. Cada uma deles conta com a simpatia e o apoio de um exército de seguidores autênticos e leais. Mas há muitos eleitores que não simpatizam com nenhum dos dois.  Entre esses, uns votarão em Haddad, apenas defender conquistas sociais e democráticas que imaginam estar ameaçadas. Outros vão de Bolsonaro, para impedir que o PT retorne ao governo, trazendo consigo todas as mazelas que tanto afligiram o Brasil, nos 13 recentes anos em que ele esteve sob o comando petista. No fundo, ambos se inclinam pelo que julgam ser o menos ruim.
            É entre a cruz e a espada que o brasileiro chega à reta final das eleições de 2018. Os analistas são unânimes em dizer que a atmosfera que abarca a competição entre os dois finalistas é a mais tensa, desde que o país foi redemocratizado. Perguntado sobre isso, o ministro Marco Aurélio Mello, do STF, respondeu à Rede Brasil Atual (RBA) ser apenas “um período conturbado, e que sugere uma incógnita”. Dizendo esperar que não tenhamos o pior, o magistrado finalizou a entrevista acrescentando que “eu não estou tranquilo, e julgo os demais por mim. Penso que a pessoa conscientizada não está vendo com bons olhos o contexto. Mas vamos esperar”.        
            Bem ou mal aceitas, as eleições continuam sendo o grande ponto de convergência da opinião pública. É o meio democrático pelo qual pessoas da sociedade são escolhidas para exercerem o poder que a elas é outorgado pelo povo.
Mesmo nos países onde o voto é facultativo, o processo eleitoral mobiliza as atenções populares, envolvendo acirradas disputas.
Na hora H, há os que pensam em votar em branco, anular voto ou simplesmente não comparecer. Boa forma de se rebelar contra as promessas enganosas, a demagogia, o cinismo, a incompetência, a falta de idealismo, e outras vergonhas que enodoam a campanha eleitoral.
            Seria essa a decisão mais sensata, não fosse o perigo de ela se transformar no que os contraventores da vida pública mais gostam. Na omissão dos que podem julgar se sustenta a vitória dos não merecem nem mesmo a oportunidade de competir.
            As eleições oferecem valiosa ocasião de exercer-se a cidadania, e ninguém deve abdicar desse direito. A legitimidade do processo político só será alcançada com a participação de todos.
            Ademais, segundo o filósofo Platão, “o castigo dos bons que não fazem política é ser governados pelos maus”. Palavras de sábio!