Um dos maiores escândalos ocorridos no governo Fernando Henrique
Cardoso aconteceu nos idos de l988, durante a privatização do antigo Sistema
Telebrás.
Na ocasião, pressionado pelo
governo, o Banco do Brasil concedeu carta de fiança de altíssimo valor ao
consórcio liderado pelo Banco Oportunity, do banqueiro Daniel Dantas, para que ele entrasse “com força” no leilão.
Feita a operação, o ex-diretor da
área internacional do BB, Ricardo Sérgio de Oliveira, em conversa telefônica
“grampeada” no BNDES, disse ao então ministro das Comuncações, Luiz Carlos
Mendonça de Barros, a frase que provocou todo o rebu: “estamos no limite da irresponsabilidade”.
Não demorou muito para que fossem
demitidos esses dois personagens e outros enrolados na jogada, inclusive André
Lara Resende (ex-presidente do BNDES).
Isso foi quando a inconsequência e
seus sinônimos ainda tinham teto. Época em que “fundo do poço” marcava o último
estágio da degradação e a “gota d’água” era temida, porque fazia transbordar o cálice da tolerancia.
Hoje está tudo mudado.
Cada vez mais intensos e
recorrentes, os escândalos perderam o “charme”. Por sua vez, os contraventores
modernos não possuem o “glamour” de Butch Cassidy & Sundance Kid, Al Capone,
Robin Hood, Ronald Biggs e outros que roubavam com a classe e a elegântia
próprias dos grandes ladrões.
A vulgaridade e a
rotina hoje reinam absolutas. Bandidagem já não assusta, nem causa grande
perplexidade. Quando muito, provoca passageiras decepções.
Parece que o povo não
mais tem noção da intensidade e da gravidade das agressões sofridas. Tornou-se insensível
e acomodado. Ficou sem a capacidade de
reagir ou simplesmente abdicou do direito de fazê-lo.
Os números da corrupção, embora crescentes,
perderam muito de sua representatividade. Prejuízos de milhões, bilhões e
trilhões costumam ser assimilados com a mesma naturalidade. Em termos de
importância, nivelaram-se aos resultados lotéricos: muitos nem conferem suas apostas, tampouco querem saber quem foi
o ganhador.
E não há sinais de luz no fim do
túnel.
Muito pelo contrário, a escuridão se
alastra, envolvendo políticos, empresários e agentes públicos dos mais diversos
níveis.
Os ladrões estão à solta. Agem, com
total desembaraço, como e onde querem, com preferência para os cofres públicos.
Recentemente, após pedir demissão da
Controladoria Geral da União, o ministro Jorge Hage não poupou críticas à falta
de fiscalização nas empresas estatais. Segundo ele, a CGU, principal agente
federal no combate à corrupção, tem poucos instrumentos para controlar essas
empresas.
Quase
simultaneamente, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, aconselhou a
demissão de toda a atual diretoria da Petrobrás, afirmando que “corruptos e
corruptores precisam conhecer o cárcere e devolver ganhos espúrios que
engordaram suas contas à custa da esqualidez do Tesouro Nacional e do bem-estar
do povo”.
Mas foi nesse
clima, agravado pelo pedido de rejeição das contas de campanha da presidente
Dilma, feito por técnicos do TSE, que o Congresso Nacional aprovou o projeto de
lei que elimina a meta fiscal deste ano e livra a chefe do governo do risco de
ser incriminada por descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal.
Pior do que
isso só mesmo a volta da CPMF, que estaria sendo tramada por alguns dos novos
governadores eleitos, com consentimento de Dilma Rousseff.
No contexto,
fica fácil entender o comentário de um internauta, inspirado em “A Pátria”, de
Olavo Bilac: “Criança! Não verás
nenhum país como este!”. Do jeito que vai, não verá, mesmo.
- Diário do Rio Doce
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