quinta-feira, 8 de novembro de 2018

TRÊS DÉCADAS DE DEMOCRACIA


Por Etelmar Loureiro

- Diário do Rio Doce – 08.11.2018

            Com a atenção voltada para os desdobramentos das eleições deste ano, o brasileiro quase não se deu conta do 30º aniversário da Constituição Federal vigente. Por sorte, a data foi celebrada pelo Congresso Nacional, na última terça-feira (06), em cerimônia da qual participaram os presidentes dos três poderes e outras autoridades. A bem da verdade, entretanto, o que mais realçou no evento foi a presença do presidente eleito, Jair Bolsonaro, marcando o início do processo da transição do governo de Michel Temer para o dele.
            A atual Carta Magna resultou da Assembleia Nacional Constituinte instalada em 01.02.1987, com o objetivo de produzir uma Constituição democrática para o país. Era uma promessa de campanha presidencial de Tancredo Neves, que, eleito, morreu antes de assumir o cargo. Em seu lugar, José Sarney foi empossado, e honrou o compromisso. Presidida pelo deputado Ulysses Guimarães, essa Assembleia trouxe muitas mudanças, fruto de um trabalho que durou 20 meses e teve a participação de 559 parlamentares, sendo 72 senadores e 487 deputados federais.
Desde sua independência, o Brasil teve sete constituições. Nenhuma delas, porém, esteve tão aberta à opinião pública como a atual. Tanto assim que o Congresso Nacional recebeu em torno de 120 emendas, assinadas por mais de 12 milhões de populares.
                A promulgação do texto constitucional aconteceu no dia 05 de outubro de l988, em uma histórica sessão solene do Poder Legislativo. Naquela data, após assinar os originais da nova constituição, Ulysses Guimarães se levantou da cadeira, empunhou um exemplar e, em memoráveis palavras, proclamou “o documento da liberdade e da dignidade. Da democracia. Da justiça social. Do Brasil”. Esse se transformou num dos momentos mais importantes de nossa história, em que o povo brasileiro, marcado pela repressão dos 21 anos de regime militar, pactuou o início de um novo tempo.
A Constituição Cidadã, como Ulysses a chamou, tornou-se emblemática do processo de redemocratização do país, assegurando a liberdade de pensamento e criando instrumentos para evitar excessos de poder do Estado.  Além disso, estabeleceu a independência dos poderes constituídos, com voto direto para a eleição de presidente, governadores e prefeitos.
            Promulgada com 245 disposições permanentes e 70 transitórias, ela, ao longo do tempo, foi modificada mais de 100 vezes, um recorde que divide opiniões.   
            Para Gilmar Mendes, ministro do STF, “há excesso de emendas constitucionais no Brasil. Isso decorre de um modelo constitucional, que é um texto analítico, e um texto analítico acaba provocando emendas. Nenhuma emenda constitucional, no entanto, foi feita para atacar cláusulas pétreas”.
            Por sua vez, Carlos Ayres Britto, ex-ministro do mesmo STF, considera esse número elevado. Para ele, não havia necessidade de tanta emenda. Britto, entretanto, pontua que “o que nos cabe é nos convencermos de que ela é de excelente qualidade. Nos torna um país juridicamente primeiro-mundista. A mais democrática de todas as nossas constituições, seja no seu processo de elaboração, seja no seu conteúdo. Fez da democracia o princípio dos princípios”.
            Os 30 anos de nossa Lei Maior se completam no momento em que o Brasil acalenta sonhos de novos tempos, a partir de uma mudança de governo em que todos depositam enorme esperança.
            No entendimento do ministro Edson Fachin, outro integrante do STF, "a última palavra na sociedade democrática não é de juiz, mas da própria sociedade que constrói e reconstrói seu contrato social e o projeta para a ordem normativa".
            Sábia e oportuna, essa reflexão enfatiza a necessidade de se preservar uma Constituição que valha para todos, pois disso depende uma nação democrática que busque a justiça e a igualdade social. Nosso caso!