domingo, 20 de outubro de 2013

AJUSTANDO O RELÓGIO

               Corroborando a tese de que não só as coisas boas se repetem, o horário de verão está de volta. Moradores de grande parte do território nacional acordaram sob seu comando. Preciosos 60 minutos lhes foram surrupiados, após a zero hora de hoje.
            Adotado por cerca de 30 nações, o horário de verão originou-se na Inglaterra (1907), embora o primeiro país a adotá-lo tenha sido a Alemanha (1916). Em pleno conflito mundial, a economia de energia foi considerada importante esforço de guerra, diminuindo o consumo de carvão, principal fonte energética da época.
            No Brasil foi instituído em 1931, pelo então presidente Getúlio Vargas, mas só após 1985 tem vigorado sem interrupção, nos estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste (afora Tocantins, excluído a partir deste ano).
            Em 2008 estabeleceu-se que a mudança de horário – antes definida por decretos anuais – acontecerá invariavelmente no terceiro domingo de outubro e terminará no terceiro domingo de fevereiro. Se este coincidir com o carnaval, o encerramento será adiado para o domingo seguinte.
            Sempre que colocada em prática, a medida polariza as opiniões em torno de sua conveniência e eficácia. Poucos se mostram favoráveis, enquanto a grande maioria fica dividida entre os que não gostam, os que abominam e os que gostariam de “exterminar” os responsáveis por sua adoção. Há também os que anseiam por sua chegada, só pra ter a chance de festejar e soltar foguetes no seu enterro.
            Para os muitos opositores, o horário de verão só convém aos políticos, aos servidores públicos do alto escalão, aos aposentados, aos genros de sogro rico e aos malandros que não têm hora para sair da cama, entre outros.
            Os que começam a trabalhar nas primeiras horas do dia, os estudantes do turno matinal, seus pais, e os que curtem a noite mas têm obrigações na manhã seguinte, estão entre os que mais detestam a medida.
            O grande questionamento tem sido em relação ao seu custo/benefício, ou seja, se a economia de energia justifica os transtornos causados à população.
            Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) – entidade responsável pela área –, o estímulo para adoção desse instrumento no Brasil é a segurança do sistema, não predominando a economia de energia elétrica.
            No verão eleva-se o consumo, sobretudo em torno das 18 horas, quando as pessoas voltam aos seus lares e ligam luzes, televisores, chuveiros, etc., no momento em que a iluminação pública também é acionada. Esse súbito aumento da demanda pode desestabilizar o sistema elétrico.
            Com a iluminação natural ainda presente, o horário de verão permite que a entrada da iluminação pública seja retardada, de forma a não coincidir com a chegada das pessoas em casa, após o trabalho. Assim, o aumento da demanda se dá de forma mais gradual, melhorando a segurança do sistema, esclarece o ONS.
            Em termos financeiros, espera-se uma economia de R400 milhões nos quatro meses de vigência do horário, bem maior do que a obtida no último período, em torno de R$ 160 milhões.
                Nesse ponto, é inevitável um parêntesis, para observar que se trata de valor irrisório, comparado com o dinheiro despejado no ralo da corrupção nacional. Segundo estimativa da Federação das Industrias do Estado de São Paulo (Fiesp), divulgada em maio último, o rombo fica entre R$ 40 a R$ 70 bilhões por ano. Mas isso é mero comentário, que nada tem a ver com o tema sob abordagem.
Explicações à parte, o novo horário está em vigor e, gostando ou não, com ele teremos de conviver até zero hora de 16.02.2014.
            O consolo é que, segundo velho ditado, “Deus ajuda quem cedo madruga”. Que seja verdade!