domingo, 17 de abril de 2011

ALVO FORA DE ALCANCE

          Ninguém duvida da boa intenção de Fernando Henrique Cardoso ao assinar o artigo “O Papel das Oposições”. Até porque dele não se pode esperar menos que ajudar o PSDB no ambicioso sonho de reconquistar o poder.
O que não agradou foi o pilar em que sustentou sua tese.
Sem meias palavras, disse que em vez de correr atrás do ”povão”, irreversivelmente cooptado pelo PT, a oposição deve direcionar sua atenção para “as novas classes médias” que surgem no país. Isso se não quiser  acabar falando sozinha.
Coerente ou não em seu diagnóstico, FHC acabou passando a idéia de que as “massas mais carentes e pouco informadas” se subordinaram ao PT, em troca dos favores e benefícios recebidos do governo Lula.  Além disso, deixou no ar a insinuação discriminatória de que o “povão” não tem autonomia para votar.
Perplexos e sentindo que a mancada pode trazer indesejáveis consequências, seus aliados foram os primeiros a reagir. As palavras do senador Álvaro Dias dão a dimensão do descontentamento que se apossou dos tucanos. Após considerar que FHC se equivocou, o líder da oposição no Senado foi incisivo ao dizer que “um partido para ter sucesso precisa ter “sensibilidade social” e ela deve estar voltada justamente para as camadas mais pobres da população”.
Equívoco foi também o termo utilizado pelo deputado Roberto Freire (PPS/SP) para classificar o pensamento do ex-presidente. Enquanto, no entender do senador Aécio Neves (PSDB/MG), o discurso de FHC mais reflete a opinião de um sociólogo que de uma liderança política.
            Irritado com o que classificou de “incompreensão” de seus aliados, Fernando Henrique teria dito que eles “não leram e não gostaram” do seu artigo. Disse ter sido mal interpretado e que “não sou maluco de pregar que o meu partido esqueça o povão”.
            A necessidade de se recorrer ao “não foi bem isso que eu quis dizer”, é sinal de que o discurso não foi bom. Em política, uma colocação mal feita costuma ter maior repercussão e vida mais longa que boas intenções.
            Atento e oportunista, o ex-presidente Lula não perdoou a “pisada na bola” de seu antecessor. Sob holofotes londrinos, usou de toda ironia para afirmar não saber “como é que alguém estuda tanto e depois quer esquecer o povão”. Ainda segundo ele, “o povão é a razão de ser do Brasil”.
            Certo ou errado, FHC teve o mérito de provocar oposicionistas e governistas, acordando-os da letargia a que se acostumaram. Resta saber se o propósito de estimular a oposição incluía sua ressurreição no cenário político. Se afirmativo, falta alcançar apenas a primeira meta.