sábado, 18 de fevereiro de 2012

PRA QUANDO O CARNAVAL VOLTAR

            A grande festa popular brasileira ainda é o carnaval. A
cada ano demonstra maior força e aceitação, fazendo a alegria dos
participantes e alavancando a economia de onde acontece.
           Nos palcos em que os turistas mais se concentram a folia
teve início há vários dias e pode ultrapassar a quarta-feira de
cinzas.
          Os bonecões e os grupos de frevo dominam as ruas de Recife
e Olinda, onde o grande momento é o desfile do Galo da Madrugada, o
maior bloco carnavalesco do mundo. Na Bahia, os trios elétricos tomam
conta de Salvador, levando ídolos do axé e da MPB, seguidos por
milhares de foliões. .No Rio de Janeiro, a atração é o apoteótico
desfile das escolas de samba no Sambódromo, este ano ampliado e
revitalizado.
           Muita animação também em Diamantina, Ouro Preto, Mariana e
outras cidades históricas de Minas Gerais, onde predomina a folia de
rua, com desfile de blocos caricatos.
           Esse roteiro já abrangeu Valadares. Nos anos 60 e 70 havia
na cidade uma das melhores festas mineiras. A boa programação incluía
desfiles de blocos, escolas de samba e carros alegóricos. Até bonitas
mulheres da zona boêmia se apresentavam na passarela.  Animados bailes
carnavalescos eram promovidos por Minas e Ilusão, principais clubes da
época, disputando a preferência da sociedade.
           Sobreveio um declínio impiedoso e até agora irreversível.
Atualmente, nos dias de carnaval, a cidade se confunde com local de
sossego e refúgio espiritual. Mais parece um convento que se abre aos
querem escapar da temporada momesca.
            Aqui, como em outras cidades do interior, o carnaval de
época perdeu espaço. Não tem mais o magnetismo que lhe permitia
competir com outras atrações.
           As praias ficaram mais próximas, mais acessíveis e mais
sedutoras para os foliões. As prefeituras encolheram seu apoio, os
clubes se desinteressaram, a boemia perdeu o ânimo, o custo/benefício
tornou-se desfavorável. Expulsaram da avenida surdos, cuícas e
tamborins.
            Lamentam os que não se esquecem do lança-perfume, do confete e das
serpentinas. Reclamam os saudosos de Bandeira Branca, Chiquita Bacana,
Máscara Negra, Jardineira, Pastorinhas e outras preciosas marchas
carnavalescas. Choram pierrôs e colombinas.
            Inconformados com o que vêem, não aceitam justificativas
e confiam em que tudo retornará ao que era. Tolerantes mas
persistentes, acalentam sonhos, conservam suas fantasias e estão se
guardando pra quando o carnaval voltar.
            A esperança reside agora no Trupico do Lalá, bloco
carnavalesco que já festeja dois anos de sucesso. Tipo luz no fim do
túnel que poderá fazer ressuscitar a alegria de outrora, sufocando a
saudade que privilegia os remanescentes dos bons tempos.  A torcida é
grande.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

APATIA PREOCUPANTE

           Banalização é a conseqüência mais danosa e perversa dos
acontecimentos recorrentes. Gera indiferença em relação a contextos que, se
eventuais, certamente ensejariam reações firmes e contundentes.
           Ao vulgarizar os fatos, faz com que eles sejam logo esquecidos,
concorrendo para que erros e equívocos se repitam com impressionante
naturalidade.
           O fenômeno é observado na limpa que Dilma Rousseff vem
promovendo em seu ministério.
           Quando Antonio Palocci deixou a Casa Civil, o espanto foi
geral. O país não estava habituado à queda de figura tão notável, tida como
braço direito da presidente, logo no início do governo.
           Também surpreendeu a subsequente exoneração de Alfredo
Nascimento do Ministério dos Transportes, nem tanto pelas graves acusações
de que era alvo, mas por se tornar a segunda grande baixa naquele pouco
tempo.

           Logo a seguir o ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi recebeu
o terceiro pontapé. Outra vez a atitude chamou a atenção pelo ineditismo e
por fazer supor que Dilma estava realmente empenhada em se livrar da
herança maldita.
           Daí pra frente, as atenções foram se dissipando e as freqüentes
substituições passaram a ser encaradas como as de um jogo amistoso de
veteranos pernas-de-pau. Até porque não produziram resultados práticos. Não
se viu retorno dos valores desviados, nem punições de contraventores. Pelo
contrário, encenadas as formalidades de bota-fora, os ejetados tomaram os
rumos que melhor lhes convinham, deixando sucessores que mais denotam uma
troca de seis por meia dúzia.
           O recente tombo de Mário Negromonte, ex-ministro das Cidades,
repercutiu menos que um “paredão” do Big Brother Brasil. Exceto para o
ex-pugilista Acelino Popó de Freitas que, como suplente, ocupava pródiga
vaga na Câmara dos Deputados; perdeu a boca.
           O desinteresse da massa tem sido notado para com as mudanças ministeriais e
outros temas relevantes. Que o digam as prometidas reformas institucionais!
           Percebendo que sua opinião tem pesado pouco ou nada nas decisões
governamentais – hoje sujeitas aos caprichos e interesses dos partidos
políticos entre os quais o Poder foi rateado – o cidadão comum resolveu
jogar a toalha. Rendeu-se a uma apatia preocupante, sintomática de que
aumenta a distância entre povo e governo.
           Motivação pública não resulta de decreto, depende de ações envolventes,
efetivas, oportunas e de alcance popular.
           O brasileiro é influenciável e participativo.  Só não quer cumplicidade com
erros que se repetem em nome de acertos que nunca acontecem; seria muito
vulgar!