domingo, 12 de janeiro de 2014

BOLSA DA DISCÓRDIA

                Tudo começou com o Bolsa Escola, idealizado em 1986 pelo professor Cristovam Buarque, à época reitor da Universidade Federal de Brasília (UnB). O objetivo era pagar uma bolsa às famílias de jovens e crianças de baixa renda, como incentivo para que freqüentassem regularmente o colégio.
            A primeira expansão do programa aconteceu em Campinas (SP), onde foi implantado em janeiro de 1995.  No mesmo ano chegou ao Distrito Federal, então governado pelo próprio Cristovam Buarque. Foi enfim adotado pelo governo federal, em 2001, quando Fernando Henrique Cardoso presidia o Brasil. Nessa época o país contava com o programa “Comunidade Solidária”, em vigor desde janeiro de 1995, para combate à fome e a miséria, sob a presidência da ex-primeira-dama Ruth Cardoso.
            O “Comunidade Solidária” existiu até 2003, quando foi substituído pelo Programa Bolsa Família (PBF), do Governo Lula, criado para unificar Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Auxílio-Gás e outros programas sociais instituídos por FHC.
A partir de sua criação, o PBF transformou-se no cartão de visita do governo petista.
Pela contagem oficial, o programa atende anualmente quase 14 milhões de famílias, que representam mais de 50 milhões de pessoas. Números que nem mesmo os oposicionistas se atrevem a menosprezar.
Na última quinta-feira (9), a Lei que instituiu o Programa Bolsa Família completou 10 anos. Em uma década, a iniciativa conviveu com críticas e elogios, mas, no frigir dos ovos, acumulou resultados dignos de comemoração.
Interessante é a polêmica em torno do DNA do instrumento. Conscientes de sua importância social e de sua força eleitoral, até os adversários brigam para ser “o pai da criança”. Como reza o dito popular, “filho feio não nem pai”, mas se a criança é bonita não falta quem queira assumir a paternidade. Um jogo de “quem é quem”, onde os pretensos criadores aproveitam para se proclamarem guardiões de um benefício que, segundo eles, a outra parte sempre cogita abolir.
A questão repercutiu em várias eleições, mas corre sério risco de ficar fora dos palanques.
É que, no apagar das luzes de 2013, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou projeto do senador Aécio Neves (PSDB-MG), que converte o Bolsa Família em um programa de Estado. Pela proposta, o benefício se incorpora à Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) e se torna permanente, preso às políticas públicas de assistência social e erradicação da pobreza no país.
O projeto foi apresentado em fins do último outubro, quando Lula dizia que, se eleita, a oposição extinguiria o Bolsa Família. Na ocasião, o líder tucano argumentou que as famílias cadastradas no programa não podem conviver com o "terrorismo" de sua extinção, com ameaças feitas por aliados da presidente que desejam se "perpetuar no poder". 
O presidente do Partido dos Trabalhadores, Rui Falcão, reagiu com ironia, dizendo que “o Bolsa Família, maior programa de inclusão social do mundo, acaba de receber surpreendente láurea”. Esclareceu que se tratava da confirmação de seus méritos por gente que, até pouco tempo, o tachava de "bolsa esmola". Mas advertiu que o reconhecimento por parte de Aécio não vinha como um tributo aos muitos méritos do PBF, sim “com um viés de cunho eleitoreiro”, associando-se de forma oportunista à celebração do aniversário do programa, para apresentar um projeto que visa transformar o Bolsa Família em lei. “No entanto, projetos eleitorais à parte, o Bolsa Família, como ele (Aécio) bem sabe, já é lei! (…) É a lei nº 10.836, de 9 janeiro de 2004, promulgada no governo do presidente Lula”, acrescentou Falcão.
Antes de finalizar, o líder petista disse que “se o senador é sincero em seus propósitos mudancistas e em seu empenho de valorizar o Bolsa Família, melhor seria não reinventar a roda”.
Ainda indefinido, este é apenas mais um dos muitos “rounds” que deverão acontecer até as eleições.  Neste parece que a oposição está levando vantagem. Resta, porém, muito tempo de luta. Melhor ficar de olho no placar.


 Diário do Rio Doce