sábado, 17 de agosto de 2013

COMBOIO DO ADONIRAN

           Não é que a corrupção tenha dado trégua, nem que os políticos tenham deixado de aprontar. No Brasil isso está fora de cogitação; é um carma, uma enfermidade crônica. Nos últimos dias, entretanto, a mídia resolveu quebrar a rotina, dando ênfase ao Trem de Alta Velocidade (TAV), o popular trem-bala que, se construído, ligará Rio, São Paulo e Campinas.
            Desde quando entrou na ordem do dia, o projeto transformou-se em polêmica nacional.
            Após muitas idas e vindas, a terceira tentativa de licitação estava marcada para o próximo mês.
  Havendo um só interessado, o governo se viu obrigado a promover novo adiamento do certame, por pelo menos um ano. Com isso, o projeto não deverá sair do papel até o término do (atual) mandato de Dilma Rousseff.
  Nas rodas oficiais, comenta-se que o TAV perdeu a prioridade. 
            Inicialmente estimado em R$ 14 bilhões, o valor do empreendimento já quase triplicou, acreditando-se que poderá ir além de R$ 50 bilhões.
             Devido a esse elevado custo e às dúvidas quanto à sua efetiva necessidade, o trem-bala vem recebendo severas críticas.
             Grande parte da opinião pública prefere que o governo invista em trens suburbanos, metrôs e Veiculo Leve sobre Trilhos (VLT) que facilitem a mobilidade nos grandes centros, bem como em trens comuns e ferrovias regionais que contribuiriam para diminuir a movimentação nas rodovias.
              Num país onde a marcação de uma consulta médica pelo SUS costuma demorar 12 meses ou mais; onde estudantes da zona rural perdem horas percorrendo enormes distâncias entre seus lares e as escolas; onde flagelados pela seca caminham quilômetros em busca de água, não há como correr atrás do conforto e velocidade de um trem-bala.   A prioridade deve ser a "saúde bala", "educação bala" e “justiça social bala”; o resto é insensatez!
   Cogitar de TAV é o mesmo que um cidadão comum investir em um helicóptero para uso pessoal, enquanto sua família continuará refém do transporte público.
             Controvérsias e mazelas à parte, o Brasil deve conformar-se e sentir-se honrado por possuir o “Trem das Onze”. Criado sem ajuda do governo, sem licitação e sem pagar propinas, o comboio de Adoniran Barbosa, puxado pelos Demônios da Garoa, está sempre nas paradas, transportando a alegria de passageiros que nunca perdem “esse trem”, com ou sem bala.