quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

ARRUMAR A ALMA PARA 20015

Por Mônica Loureiro


Chegou o momento .. Hora da ”boa nova” .. Hora de arrumar as gavetas, tirar do armário o que não quero .. Ventilar o que uso pouco, mas que ainda gosto .. Mudar as coisas de lugar, fazer espaços, encontrar boas soluções .. Limpar os cabides empoeirados, trocar os sachês e experimentar outros aromas .. Dispensar o que não combina comigo .. Descobrir um jeito novo pra fazer o de sempre .. Este é meu momento de reciclar o chato e o fútil, produzir men
os lixo, inventar caminhos mais eficientes, formar novos ciclos, batalhar por novas conquistas .. Porque estou convicta de que a vida é um conjunto de movimentos rápidos, e que a mim cabe escolher: participar ou declinar .. Meu tempo tá curto pras decepções, frustrações, inabilidades, intolerâncias e incompatibilidades .. Não tenho mais tempo pra quebra-cabeças e quedas de braço .. Mais que isto, não quero gastar meu tempo assim .. Quero viver pelo que acredito e valorizo .. Quero despertar sorrisos, agregar, confortar e dividir com quem amo .. Quero a reciprocidade, a gentileza, a fluidez, o que ilumina meu espírito .. Quero praticar mais o desapego das coisas, das manias e vícios, em troca do valor da verdade, do querer bem, do respeito, da cumplicidade e da consideração .. Porque mais vale o esforço em semear, com dedicação, perseverança, uma pitada de utopia, de esperança, do que dispensar energia ignorando, fechando portas, ditando regras, julgando e remoendo .. Para trás não posso voltar, nem devo .. Com o que errei, aprendi .. Me resta seguir em frente, percebendo que os rostos que me trazem referência, afago, história, amor são meus tesouros, meu oxigênio, são velas de uma luz única e perene .. Não há indícios de um ano novo tranquilo .. Há dores, tragédias, injustiças, indignidade espalhadas pelo mundo .. Penso no que nossas crianças enfrentarão .. Investimos uma força tarefa pra que sejam nobres, dignas, educadas, honestas e para que, simplesmente, brinquem .. Mas, creio que a dificuldade amadurece, posiciona e estimula .. Não é possível pensar só num futuro ruim, enquanto ainda houver vontade para abrir as janelas do peito .. Enquanto houver sol e água, sentimentos bons, integridade, informação e fecundação, haverá esperança .. Desejo luz, energia boa e proteção de Deus a nós todos .. Desejo que consigamos nos organizar, desapegar, despoluir, desobstruir .. Que mais um ano sirva pra nos sentirmos privilegiados, pois nos foi concedido outro calendário .. Que possamos praticar atitudes que, efetivamente, contribuam com a dignidade, a justiça, a gentileza, o discernimento e a felicidade .. Que as dificuldades nos motivem a consertar, vacinar, entender, a preservar e valorizar mais pessoas, mais praias, mais árvores, mais bichos .. Desejo um primeiro dia de 2015 com alma limpa, de “brilho definido”, para nosso bom proveito !!

domingo, 28 de dezembro de 2014

2014, UM ANO DIFUSO

            A opinião pública e os meios de comunicação têm o hábito de rotular os anos vividos, em função de episódios que os marcaram.
            Em termos internacionais, por exemplo, o fim da Segunda Guerra Mundial (1945), a descida do homem na Lua (1969), a queda do Muro de Berlim (1989) e o ataque às Torres Gêmeas americanas (2001) se tonaram referência dos anos em que aconteceram.
            Na história recente brasileira, essa mesma repercussão alcançou o suicídio do presidente Getúlio Vargas (1954), a primeira conquista da Copa do Mundo de Futebol (1958), a inauguração de Brasília (1960), o fim da ditadura militar (1985) e o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello (1992), entre outros importantes episódios que sozinhos conseguem simbolizar uma época.
            Chegamos ao final de 2014, outro ano que entrará para a história. Não por um fato isolado, mas por acontecimentos difusos que, no mínimo, lhe conferem condição multiface.
            No cenário mundial, será lembrado como o “ano das atrocidades”, em alusão ao genocídio praticado pelo Estado Islâmico, cujos brutais militantes praticam todo tipo de crueldade contra mulheres, crianças e quem mais se atreva a não segui-los. Degolas e execuções brutais são mostradas ao mundo, ao vivo e a corres, em tempo real, como se fossem “pegadinhas do Sílvio Santos” ou “vídeocassetadas do Faustão”.
            Em contrapartida, ninguém se esquecerá de que foi o “ano da reconciliação” entre Cuba e Estados Unidos, pondo fim a uma rusga que bestamente se arrastava por mais de meio século. Ponto para Barack Obama e Raúl Castro, que, num gesto de bom senso, resolveram soltar as amarras do passado e, como disse Obama, admitir que “somos todos americanos”.
            Internamente, não faltarão ao brasileiro alternativas para “batizar” o ano que se encerra. Pode, quando muito, haver necessidade de rever alguns títulos antes concebidos.
            De início, aquele que seria o “ano da consagração” futebolística, transformou-se no “ano da frustração”. Jogando em casa, no “Mineirão”, contra a Alemanha, nossa seleção foi alijada da final do torneio, sob uma esmagadora goleada de 7 x 0. Um vexame bem maior que o de 1950, quando o Uruguai nos derrotou por 2x1, em pleno Maracanã.
            Outra ajuda para que a frustração seja um dos símbolos de 2014 é o imoral e infindável escândalo “petrolão”, envolvendo agentes públicos, empresários e políticos de todos os níveis.
            Como há males que vêm para bem, o mesmo escândalo contribuiu para que este seja também o “ano da coragem”, em reconhecimento ao trabalho do juiz federal Sérgio Moro. Especialista em apurar crimes de lavagem de dinheiro, ele não hesitou em mandar pra cadeia e manter presos influentes figurões do mundo empresarial brasileiro. E tem mais gente graúda na fila de espera.
            Mas nem isso impediu a nódoa de “ano do descaramento”, surgida da desfaçatez de nossos políticos. No apagar das luzes, momentos antes de aumentarem os próprios salários, reincidiram em mais um imoral esquema de troca-troca. Na base do ”é dando que se recebe”, aprovaram o projeto de lei que elimina a meta fiscal deste exercício, livrando a presidente da República do risco ser incriminada por descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal. Uma safadeza sem tamanho.
            Certas práticas e virtudes não têm pátria. Assim, 2014 acabou se salvando como “ano da autocrítica e da humildade”. Com a serenidade e a coerência de sempre, o aclamado Papa Francisco aproveitou uma reunião de Natal, para apontar e prescrever tratamento para muitas “enfermidades” que afligem sua Igreja. Ao final, num inédito encontro com funcionários do Vaticano, pediu perdão pelos seus erros e os de seus colaboradores.
            Ainda que parcial, este é o balanço de uma temporada de múltiplas características, merecedora de análise e reflexão, em busca de alivio para os maus presságios que ameaçam o próximo ano. Sem isso, como diria um renomado e anônimo astrólogo, é melhor passar batido, na próxima virada, e apostar em feliz 2016.

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quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

UFA, O NATAL CHEGOU!

            Desde criança, ouço dizer que o melhor da festa é esperar por ela. E acabei convencido disso. É de fato emocionante, a ponto de, às vezes, ser gostoso, ficar na expectativa de um bom evento. Batizado, primeira comunhão, aniversário, “debut”, formatura, casamento, réveillon, tudo pode provocar ansiedade. Depende do quanto a gente se liga no lance.
            Nesse rol, o Natal é “hors concours”. Com seu significado especial, tornou-se a mais carismática das celebrações. Arrasta gente de todas as idades, nas mais diversas partes do mundo. É fenômeno universal. Aguardar por ele não é fácil.
            O clima de manjedoura se faz sentir logo no começo de outubro, com o surgimento das primeiras anúncios comerciais, e age como um vendaval que se fortalece enquanto avança, levando todos de roldão.
            Quando menos se assusta, ele está de volta, arrasador.
            Abre-se a temporada de esperanças, de sonhos e ideais. Chega o tempo de agradecer a Deus, estender as mãos, pedir desculpas (hei, você aí, é com você mesmo que estou falando!), perdoar, chorar ou sorrir, sem contrariar o coração. É tempo de amor, compreensão, tolerância, humildade e solidariedade. É tempo de família, de amigos e de abraços. É tempo de ser gente!
            Mas por que tudo isso, se, em termos de movimentos terrestres, o Natal é um dia como qualquer outro?!
            São muitas as explicações, nem todas consistentes ou convincentes. Uma das mais plausíveis seria o fato de, após tanto tempo de “cada um na sua”, o Natal abrir oportunidade para, pelo menos na sua época, o ser humano se render ao “me engana que eu gosto”. Acreditar que não há injustiças, não há violência, não há corrupção, não há fome, não há abandono, não há sofrimentos, nem angústias, nem desamor. Só felicidade e nada mais!
            A caminhada nessa direção é empolgante, mas requer paciência. São quase três meses de músicas natalinas, vitrines e ruas enfeitadas, lojas superlotadas, muitas luzes, confraternizações, trocas de presentes, amigos ocultos, cartinhas para Papai Noel, mobilizações e viagens em busca da companhia querida.
            Quanto aos preparativos, quem curtiu, curtiu. Quem não curtiu, não curte mais; só no ano que vem.
            A grande noite chegou,  é de hoje para amanhã. Depois, só ressaca e o gosto de já passou. Que sua espera seja recompensada!

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sábado, 13 de dezembro de 2014

POÇO SEM FUNDO

                Um dos maiores escândalos ocorridos no governo Fernando Henrique Cardoso aconteceu nos idos de l988, durante a privatização do antigo Sistema Telebrás.
            Na ocasião, pressionado pelo governo, o Banco do Brasil concedeu carta de fiança de altíssimo valor ao consórcio liderado pelo Banco Oportunity, do banqueiro Daniel Dantas,  para que ele entrasse “com força” no leilão.
            Feita a operação, o ex-diretor da área internacional do BB, Ricardo Sérgio de Oliveira, em conversa telefônica “grampeada” no BNDES, disse ao então ministro das Comuncações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, a frase que provocou todo o rebu: “estamos no limite da irresponsabilidade”.
            Não demorou muito para que fossem demitidos esses dois personagens e outros enrolados na jogada, inclusive André Lara Resende (ex-presidente do BNDES).
            Isso foi quando a inconsequência e seus sinônimos ainda tinham teto. Época em que “fundo do poço” marcava o último estágio da degradação e a “gota d’água” era temida, porque fazia  transbordar o cálice da tolerancia.
            Hoje está tudo mudado.
            Cada vez mais intensos e recorrentes, os escândalos perderam o “charme”. Por sua vez, os contraventores modernos não possuem o “glamour” de Butch Cassidy & Sundance Kid, Al Capone, Robin Hood, Ronald Biggs e outros que roubavam com a classe e a elegântia próprias dos grandes ladrões.
A vulgaridade e a rotina hoje reinam absolutas. Bandidagem já não assusta, nem causa grande perplexidade. Quando muito, provoca passageiras decepções.
Parece que o povo não mais tem noção da intensidade e da gravidade das agressões sofridas. Tornou-se insensível e acomodado.  Ficou sem a capacidade de reagir ou simplesmente abdicou do direito de fazê-lo.
            Os números da corrupção, embora crescentes, perderam muito de sua representatividade. Prejuízos de milhões, bilhões e trilhões costumam ser assimilados com a mesma naturalidade. Em termos de importância, nivelaram-se aos resultados lotéricos: muitos nem conferem suas apostas, tampouco querem saber quem foi o ganhador.
            E não há sinais de luz no fim do túnel.
            Muito pelo contrário, a escuridão se alastra, envolvendo políticos, empresários e agentes públicos dos mais diversos níveis.
            Os ladrões estão à solta. Agem, com total desembaraço, como e onde querem, com preferência para os cofres públicos.
            Recentemente, após pedir demissão da Controladoria Geral da União, o ministro Jorge Hage não poupou críticas à falta de fiscalização nas empresas estatais. Segundo ele, a CGU, principal agente federal no combate à corrupção, tem poucos instrumentos para controlar essas empresas.
            Quase simultaneamente, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, aconselhou a demissão de toda a atual diretoria da Petrobrás, afirmando que “corruptos e corruptores precisam conhecer o cárcere e devolver ganhos espúrios que engordaram suas contas à custa da esqualidez do Tesouro Nacional e do bem-estar do povo”.
            Mas foi nesse clima, agravado pelo pedido de rejeição das contas de campanha da presidente Dilma, feito por técnicos do TSE, que o Congresso Nacional aprovou o projeto de lei que elimina a meta fiscal deste ano e livra a chefe do governo do risco de ser incriminada por descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal.
            Pior do que isso só mesmo a volta da CPMF, que estaria sendo tramada por alguns dos novos governadores eleitos, com consentimento de Dilma Rousseff.
            No contexto, fica fácil entender o comentário de um internauta, inspirado em “A Pátria”, de Olavo Bilac: “Criança! Não verás nenhum país como este!”. Do jeito que vai, não verá, mesmo.

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domingo, 7 de dezembro de 2014

MUROS INSANOS

            É inacreditável a rapidez com que o tempo passa, tornando distantes episódios que, no imaginário, parecem ser de ontem.
            Nem parece, por exemplo, que já decorreram 25 anos desde a derrubada do Muro de Berlim.
            Lá se foram duas décadas e meia, um quarto de século, de um fato que, pelas suas características, sobretudo a forma inusitada e tranquila como aconteceu, assombrou o mundo. 
            Entre os sensatos, ninguém imaginava que aquele paredão fosse durar tanto quanto as Muralhas da China. Faltava-lhe sustentação ideológica, justificativa relevante, algo que lhe conferisse o status de imprescindível e digno de se alojar na lembrança positiva da humanidade. Por outro lado, nem mesmo os otimistas supunham que o monstrengo cairia antes de 50 ou 100 anos. 
            Tinha como finalidade principal deter o elevado fluxo de gente para a parte ocidental de Berlim, onde forte retomada econômica pós-guerra oferecia melhores chances de trabalho e negócios.
            Mas o muro era um trambolho arquitetônico, símbolo da insensibilidade comunista. Verdadeira catástrofe ideológica causada pela Guerra Fria em que os Estados Unidos e a União Soviética disputavam a hegemonia mundial. 
            Começou a ser erguido na madrugada de 13 de agosto de 1961, logo provocando a separação de famílias, amigos e de toda uma nação por quase três décadas.
            Nos 28 anos em que se manteve de pé, causou sofrimentos e tragédias que jamais se apagarão da memória coletiva.
            Sua queda, em 9 de novembro de 1989, marcou o fim de um longo período de hostilidades e de disputas econômicas, filosóficas e militares, entre capitalistas e marxistas.
            Entretanto, embora exemplar e auspicioso, esse episódio não significou o fim das demais barreiras existentes, nem desestimulou a construção de outras tantas. Pelo contrário, a prática tornou-se recorrente, típica do egocentrismo em que vivemos.
            As Coreias continuam separadas. Na fronteira dos EEUU com o México há um imenso paredão, o mesmo acontecendo entre Israel e Palestina. Até no Rio de Janeiro eles foram erguidos, a pretexto de prevenir a expansão das favelas.
Fato é que nos quatro cantos do mundo os muros são mantidos ou proliferam, aos montes, aprofundando o abismo entre pretos e brancos, ricos e pobres, cultos e ignorantes, heteros e homossexuais, democratas e socialistas, liberais e conservadores, cristãos e islâmicos, e outras polarizações.
Velhos conhecidos, eles sempre existiram, separando pessoas e contribuindo para a legitimação de poderes presumidos. O passar do tempo apenas fez com que se tornassem cada vez mais sólidos, densos, espaçosos e intransponíveis.
Os mais difíceis de derrubar nem sempre são físicos e visíveis. Piores são os imateriais, de natureza política, econômica, social, étnica, moral, intelectual, religiosa e outras ditadas por paradigmas e regras subjetivas.
Assim como o Muro de Berlim, uns e outros devem ser exterminados, a bem da humanidade.
Bem pensado, o muro só é realmente útil em três situações: nas comunidades, como protetor de imóveis; na vida pública, como refúgio de maus políticos; na fantasia dos casais, como obstáculo a pular. Afora essas – mas também às vezes nessas – só traz constrangimentos. E dos grandes!

- Revista "Mais Mais PERFIL" - edição nº 40
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domingo, 30 de novembro de 2014

MESES COLORIDOS

                O mês de outubro foi marcado pela campanha de conscientização da sociedade, em particular as mulheres, sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama.
            Carinhosamente chamado Outubro Rosa, o movimento originou-se em Nova York, na primeira Corrida pela Cura, realizada em 1990. Desde então, vem acontecendo em várias partes do mundo, de forma cada vez mais intensa e emblemática.
            Seu símbolo é o laço rosa, que representa a luta contra a doença e estimula a união das pessoas, empresas e entidades em torno da causa. A iluminação rosa, quando projetada sobre monumentos e prédios públicos, é cenário compreendido em qualquer parte do planeta.
            Depois do Outubro Rosa, foi a vez do “Novembro Azul”, que hoje se encerra. O penúltimo mês do ano tornou-se mundialmente reservado a ações ligadas ao câncer de próstata e à saúde dos “machões”. .A ideia nasceu na Austrália, em 2003, inspirada no Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata, celebrado em 17 de novembro.
            No Brasil, o movimento já faz parte do calendário nacional das campanhas de prevenção.
            Tem o objetivo de combater o mal e, sobretudo, motivar a galera masculina a submeter-se aos exames de praxe, inclusive a temida e, para muitos, humilhante “dedada”.
            Semelhante ao que aconteceu no "Outubro Rosa", houve distribuição de lacinhos e iluminação dos marcos e pontos turísticos das cidades, tudo na cor azul (o que alguns cruzeirenses entenderam ser também homenagem a seu time, pela conquista do tetra campeonato brasileiro).
            O Outubro Rosa repercutiu mais do que o Novembro Azul. Isso graças ao maior engajamento, à melhor disciplina e mais apurada intuição da mulher em relação aos cuidados para com saúde.
            No cômputo geral, entretanto, ambas as temporadas cumpriram sua finalidade. Está cada vez mais difícil alegar inadvertência ou ignorância quanto à necessidade um “check-up” periódico.
            O resultado foi tão auspicioso que a “colorização” poderia estender-se a mais meses, na tentativa de estancar outros males que afligem a sociedade.
            Boa ideia seria, na sequência, instituir o Dezembro Verde-Amarelo, inspirado no Dia Internacional de Combate à Corrupção, alojado no 9 de dezembro.
            Sob o clima de manjedoura, o mês do Natal acomodaria também implacável campanha contra os “maus hábitos” cultivados por empresários, políticos e autoridades de todo o mundo, com justificada ênfase para a turma a do “patropi”.
            Para maior interação dos festejos da época, a cauda da Estrela Guia teria as cores da seleção canarinho, enquanto a iluminação, no mesmo tom,  se estenderia a todos os presídios do país.
            Maquetes de presépios seriam colocadas nas penitenciárias, onde os Reis Magos, em homenagem aos “hospedes”, chegariam trajando o honroso modelito listrado.
            Papai Noel, incorporado pelo ex-ministro Joaquim Barbosa, abandonaria seu tradicional trenó. Apareceria pilotando um robusto e aconchegante camburão, preparado para acomodar corruptos de qualquer tribo.
            De início, apenas o símbolo do movimento seria trocado. O lacinho cederia lugar a delicadas algemas, compostas de uma argola verde e outra amarela.
            A Polícia Federal, como de praxe, se encarregaria de animar a festa.
            Lançada a ideia!

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domingo, 23 de novembro de 2014

ESCRAVOS DA AMBIÇÃO

            Não são muitas as datas históricas que o brasileiro reverencia com grande pompa.
            Entre as poucas estão o Dia de Tiradentes, o Dia da Independência e a Proclamação da República.
            São elas, de fato, ocasiões dignas de exaltação, por lembrarem importantes momentos da biografia nacional.
            Há outras, também significativas, mas menos prestigiadas. De modo geral, são comemoradas sem muito estardalhaço, quando não passam despercebidas. É o caso, por exemplo, do Dia do Descobrimento e do Dia da Bandeira, lembrados apenas em escolas, unidades militares e outros ambientes mais restritos.
            Num ponto intermediário está o Dia da Abolição da Escravatura, que, em maior ou menor nível, é sempre marcado por solenidades públicas um pouco mais esmeradas.
            Pelo seu alcance social e, sobretudo, humanitário, a Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel, em 13 de maio de 1988, está entre os maiores marcos de nossa história.  Foi ela que aboliu a escravidão no Brasil, pondo fim a um longo período de sofrimentos.
            Atualmente, além do Código Penal Brasileiro, que cuida especificamente do assunto, há extensa legislação criminalizando e punindo o ato de “reduzir alguém a condição análoga à de escravo”. Nesse meio, está o preceito constitucional que manda expropriar imóveis onde seja constatada exploração de trabalhos desse tipo.
            Ainda assim, a atrocidade persiste.
            Segundo o relatório Global Slavery Index (Índice de Escravidão Global) 2014, da Fundação Walk Free, divulgado na última segunda-feira (17), o Brasil possui 155,3 mil pessoas submetidas ao trabalho escravo.
            Ainda que represente um decréscimo de 26% em relação à estatística do ano anterior, a quantidade é assombrosa, coisa de fazer a Princesa Isabel exasperar-se no túmulo.
Esses dados mostram que não têm repercutido à altura os esforços do governo e da sociedade, no sentido de exterminar a escravidão no Brasil.
O mais triste é constatar que, além do trabalho forçado, os oprimidos se debatem contra vários outros tipos de abuso.
As argolas e correntes foram rompidas e retiradas dos que eram subjugados pela força “persuasiva” da chibata, dos ferros de marcar e mais atrocidades. Remanesceram, entretanto, os grilhões da ganância, da opressão, do poder econômico, da tirania e da insensibilidade humana.
A impressão é de que o fim da escravidão, propalado em versos e prosas, ainda está longe de ser realidade. Por enquanto, não vai muito além de um sofisma, um “faz de conta” destinado a impressionar o mundo, engrossar os livros de história e inspirar artes plásticas.
Ainda assim, restam esperanças de que, um dia, o bom senso prevaleça, e os mais fortes despertem para uma inexorável realidade: pior do que escravo do trabalho é ser escravo da ambição. A ficha custa a cair, mas, quando cai, machuca! 
           
           




domingo, 16 de novembro de 2014

NÃO ERA BEM ISSO ...

            Primeiro, foi aquele tsunami eleitoral, uma baixaria de alto nível, em que honra e dignidade eram inatacáveis, exceto as do adversário.
            Passada a votação e proclamado o resultado, chegou o momento do rescaldo, de remover os escombros, juntar os cacos remanescentes e partir para a reconstrução.
            Mas a tarefa não está sendo nada fácil. Pelo contrário, parece que a contenda ainda não terminou. As rusgas seguem acontecendo, inclusive entre aliados.
            Além disso, nota-se uma total reviravolta entre o que foi falado e prometido durante campanha e o que se pratica no pós-eleitoral.  O país está sob a égide do “dito pelo não dito”.
            Do lado da oposição, Aécio Neves retornou ao Congresso Nacional não como derrotado, mas como o “vitorioso” segundo colocado. Fez pose de vice-campeão, posição honrosamente conquistada num Segundo Turno dos mais concorridos. Isso sem falar nas manobras arriscadas e nas heroicas ultrapassagens que realizou sobre Marina Silva, na primeira parte da “corrida”, com a decisiva ajuda espiritual de Eduardo Campos.
            Por falar no neto de Miguel Arraes, justo seria que as Eleições 2014 entrassem para a história com o seu nome. Foi ele que, alijado da contenda por um acidente fatal, acabou sendo o grande responsável por transformá-la na disputa mais acirrada de todos os tempos. Ainda bem que outro neto, o de Tancredo Neves, restou para agitar a festa.
            Acusado de não descer do palanque, Aécio proferiu no Senado um tão eloquente e moderno discurso, que fez lembrar o seu avô. Entre outras afirmações, disse que qualquer papo com o governo “será condicionado ao aprofundamento das investigações e a exemplares punições daqueles que protagonizaram o maior escândalo de corrupção do país, o petrolão”. Pelo visto, não combinou com seu partido. Logo de cara, o PSDB teria participado de um acordo para evitar que certos políticos fossem convocados pela CPI da Petrobras, entre eles Dilma, Lula, Palocci e o próprio Aécio. Desmentidos foram feitos, sob a mesma credibilidade de uma nota de três dólares.
            Tudo indica que a pretensão do tucano é mesmo permanecer na vitrine, já pensando em 2018. Só falta Zé Serra concordar!
            Quanto a Dilma, além de descer, ela virou o palanque de cabeça pra baixo, jogando por terra as promessas de campanha. Assim que sua vitória foi proclamada, seu discurso mudou de tom e de rumo.
            Pra começar, bradou que não representa o PT, mas a Presidência da República.
            Sempre amável, prometeu amplo diálogo com todos os possuidores de bom ouvido.  Também anunciou incontido desejo de negociar com quaisquer partidos que tenham muito a dar e pouco a pedir.
            No primeiro sinal de que a coisa está ruim, mas pode piorar, o BACEN elevou a taxa básica de juros, a famosa Selic, para 11,25%, a mais alta desde 2011. Os bancos ficaram gratos.
            Evitando que o povo se sentisse preterido, a Petrobrás aumentou o preço dos combustíveis, enquanto falava-se que as tarifas de eletricidade, que em 2014 já subiram 15%, sofrerão novo reajuste no próximo ano.
            Essas seriam apenas amostras do que está guardado na caixinha de maldades a ser aberta no próximo mandato.
Segundo fontes mais chegadas ao Planalto, o pacote econômico reservado para 2015 já tem o sugestivo nome de “Sangue, Suor e Lágrimas”, em homenagem aos que continuam acreditando em mula sem cabeça. E não são poucos!

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domingo, 9 de novembro de 2014

O PESO DAS MULTAS

                Desde o início deste mês, vigora no Brasil a Lei 12.971/2014, que prevê punições mais severas para os apressadinhos que praticarem ultrapassagens em local proibido ou pelo acostamento e para os exibicionistas adeptos de “rachas”. Há casos em que as multas se tornaram 900% mais onerosas, igualando-se à maior penalidade da lei seca (R$ 1.915,40). E se o abusado repetir o erro, em menos de 12 meses, a segunda paulada lhe será aplicada em dobro (R$ 3.830,80).
            O tempo de cadeia também aumentou, para os casos em que o “pega” resultar em lesão corporal ou morte. Na pior hipótese, a pena variará de 5 a 10 anos.
            Segundo o Governo, o objetivo das mudanças é aumentar a segurança dos motoristas, pedestres e das infraestruturas urbanas, combinando medidas que incluem a cooperação nacional, a partilha de boas práticas, a realização de estudos de investigação, a organização de campanhas de sensibilização e a adoção de regulamentação. A intenção é incentivar os condutores de veículos a fazê-lo de forma segura. Para isso, é fundamental educar, formar e fazer cumprir as regras.
            Sob essa ótica, a nova lei é bem-vinda e salutar, pois é notório que a imprudência figura entre as principais causas de acidentes e mortes no trânsito brasileiro. Sabe-se também que as ultrapassagens proibidas ou arriscadas estão entre as maiores responsáveis por colisões frontais, forma de acidente mais mortal nas estradas.  Nos nove primeiros meses deste ano, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) registrou mais de 5.000 ocorrências dessa natureza, que deixaram 2.067 vítimas fatais.
            O que muito desagradou foi o exorbitante percentual de reajuste aplicado, mostrando que o governo continua recorrendo à forma mais cômoda de disciplinar o comportamento dos cidadãos: através do achaque financeiro.
            O Brasil deve à sociedade investimentos na educação para o trânsito, na melhor conservação e sinalização das rodovias, na duplicação das estradas, no aumento e aperfeiçoamento dos meios de fiscalização e em tudo mais que possa contribuir para melhorar a segurança do setor. Mas o governo parece acreditar que a elevação das multas torna dispensáveis quaisquer dessas providências; é tudo bobagem! Basta mexer no bolso do povo, para que não mais haja acidentes, nem mortos, nem feridos. Em síntese, quer pagar sua dívida, com o dinheiro do credor.
Pior que nem isso acontece. Passado o efeito do arbítrio, as mazelas persistem, as tragédias seguem acontecendo, o dinheiro arrecadado vai pro ralo, e nenhuma autoridade é punida por deixar de fazer seu dever de casa.
Ainda bem que esperança não se perde, arquiva-se!

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domingo, 2 de novembro de 2014

NA ONDA DO MARKETING

           Abstraídos alguns avanços resultantes da modernidade, as eleições preservam suas características originais.
Na essência, continuam sendo uma disputa ferrenha e apaixonada entre candidatos a cargos políticos, raramente pautada pela ética e pela moral. Os objetivos permanecem os mesmos, variando apenas as formas de persegui-los.
O horário político obrigatório, os debates ao vivo e os vários recursos disponibilizados pelos meios de comunicação, sobretudo a internet, são boas amostras de como o processo evoluiu.
Antigamente, apoiada em instrumentos quase artesanais, a contenda era mais racional, branda e civilizada, ainda que não menos frenética.
Entretanto, mesmo mantendo algumas tradições, e por mais repetitivas que sejam, elas sempre produzem novidades e trazem ensinamentos.
No último pleito, por exemplo, ficou mais nítido que um bom candidato, um partido forte, boas coligações e uma fiel militância são importantes, mas não garantem a vitória. Quem quiser ganhar tem que também recorrer ao marketing, essa ferramenta mágica que se torna cada vez mais importante no cenário político. Sua influência é notada em todas as fases do processo eleitoral, inclusive depois do pleito, através de ações que contribuem para consolidar uma imagem positiva do vencedor.
Considerando que a regra vale para todos, o diferencial fica por conta da escolha do marqueteiro: não basta que seja bom, tem que ser o melhor.
Nesse quesito, o Partido dos Trabalhadores caprichou e não abre mão de uma velha aquisição. Há muito, mantém contratado João Santana, um dos mais talentosos consultores político brasileiros, com elevado prestígio internacional.
Pra se ter uma ideia de sua capacidade, Santana comandou o marketing vitorioso de várias eleições presidenciais, entre elas as de Lula da Silva (2006) e Dilma Roussef (2010 e 2014), no Brasil; Hugo Chávez (2012) e Nicolás Maduro (2013), na Venezuela; Mauricio Funes, em El Salvador; Danilo Medina, na República Dominicana; e José Eduardo Santos, em Angola. Esteve também à frente de inúmeras campanhas para governador, prefeito, senador e deputados no Brasil e na Argentina.
No pleito deste ano, ele e sua equipe deram um show de competência. Cuidaram de Dilma Rousseff, como se estivessem preparando uma noiva para casar-se com um rei.
Graças a essa assessoria, ela soube ser vigorosa e enérgica no ataque; habilidosa e cautelosa na defesa; teatral e articulada, quando queria se fazer de vítima; e convincente, até mesmo nos momentos em que era acusada de escamotear a verdade.  Além disso, conseguiu apossar-se das principais bandeiras levantadas pelos adversários, inclusive a de combate à corrupção. Nesse caso, Dilma teve jogo de cintura para se impor não como conivente, sim como inimiga número um dos corruptos, que, segundo disse, ela sempre combateu de forma implacável e intransigente. Enfim, bem orientada, desempenhou com êxito a arte de transformar limão em limonada.
Interessante é que Minas acabou sendo o local onde a eficiência marqueteira mais se fez sentir. Ela conseguiu que os mineiros dividissem quase irmãmente seus votos com Dilma e Aécio, sob o argumento de que o Estado seria de qualquer forma vitorioso, pois ambos eram naturais da terra. Só depois da votação perceberam que, além da Certidão de Nascimento, Dilma, de mineira, tem apenas o hábito de beber chimarrão. Já era tarde!

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sábado, 25 de outubro de 2014

HORA DA AGULHADA

            A temporada eleitoral de 2014 atinge o seu término.  Confirmando que “não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe”, é o momento de a onça beber água.
            Depois de extensa caminhada, em que muito se ouviu, mas pouco se aproveitou, chegou o dia de o brasileiro escolher o próximo presidente da República.
            O que teve duração mínima foi a esperança de que a disputa se convertesse num fórum de boas discussões. Em oportunidade para que relevantes temas nacionais fossem tratados de maneira franca, ampla, objetiva e séria. Até para fundamentar e dar credibilidade às promessas dos candidatos.
            Isso não ocorreu. Embora acirrados, os debates foram medíocres, sem consistência ou criatividade. Em lugar de discutir ideias e projetos, os adversários privilegiaram uma inútil troca de acusações, em que o sujo criticava o mal lavado. Na base de violentos ataques e grotescas pegadinhas, um procurava desconstruir a imagem do outro. Autênticos “barracos” orquestrados por marqueteiros.
            Meio assombrado, diante de tanta agressividade, o povo vai às urnas sem saber o que Dilma Rousseff ou Aécio Neves realmente pretendem fazer pela nação.
O corte de gastos públicos, a redução dos impostos, a diminuição dos juros e o ajuste cambial foram apenas alguns dos temas em que não quiseram se aprofundar ou simplesmente ignoraram, apesar de sua importância para o futuro do país. Ninguém sabe, por exemplo, se e como eles planejam enxugar a máquina pública, promover as reformas política e tributária, reduzir a maioridade penal, combater a violência urbana e a discriminação racial, e praticar outras ações insistentemente reclamadas pela sociedade. Preferiram render-se à beligerância e à futilidade.
Tumultuada por acontecimentos inesperados, e agitada por acalorados bate-bocas, a eleição está sendo vista como a mais disputada desde a redemocratização do país. Na opinião de Carlos Augusto Montenegro, presidente do Ibope, é a “mais difícil da história”. Decepcionou, porém,  em termos de civilidade. A baixaria representou o que de mais longo e indesejável poderia acontecer.
No cômputo geral, entretanto, foi mais um grande passo rumo à consolidação democrática do país. O “meu bem, meu mal” que ora incomodou, ora empolgou e, agora, só voltará no próximo pleito. Até lá, nada de horários políticos, propagandas, comícios, carreatas, pesquisas, mensagens virtuais e outras “benesses" que fizeram a alegria de uns e a outros aporrinharam.
Logo mais, os vencedores estarão comemorando. Para eles, a batalha terá sido tão boa que seu término deixará saudade. Do outro lado, tristes derrotados agradecerão o fim de um período estafante e inglório. Tempo em que nadaram muito, pra morrer na praia. Faz parte do jogo!
Para isso, o ciclo tem que se fechar. Voto anulado, em branco ou abstenção é covardia, pura sacanagem. Não condiz com o cidadão responsável.
O Brasil espera que todo eleitor cumpra o seu dever. Inclusive aquele para quem, nesta eleição, votar é como tomar injeção no bumbum: sabe que vai doer, mas só lhe resta escolher o lado. Ossos da cidadania!

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domingo, 19 de outubro de 2014

DEBATES AO MOLHO PARDO

O primeiro debate político na TV aconteceu em 1960, entre Richard Nixon e John Kennedy, que, à época, disputavam a presidência dos Estados Unidos.
Desde então, virou costume universal, capaz de influir decisivamente no resultado de uma eleição.
No Brasil, ganhou popularidade nas eleições presidenciais de 1989, quando Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor de Mello, já finalistas, quase se engalfinharam diante das câmaras. Protagonizaram dois antológicos confrontos, marcados pela baixaria e por ataques pessoais. Tudo mostrado ao vivo e a cores, por uma cadeia de emissoras formada por Globo, Bandeirantes, Manchete e SBT.  
Depois disso, os debates adquiriram crescente e indiscutível importância.
Na atualidade, são bem mais atraentes e influentes do que as apresentações no horário eleitoral gratuito, o que nem tanto mérito lhes confere, diante da mediocridade do programa obrigatório.
Ao pé da letra, debates são discussões amigáveis entre duas ou mais pessoas que queiram expor suas ideias ou discordar das demais, sempre tentando impor seu ponto de vista ou sendo convencidas pelas opiniões opostas. Costumam ser longos e às vezes não levam a conclusões. Mas são práticas saudáveis, que permitem que sejam apreciados vários ângulos de uma mesma questão. Podem abranger diferentes temas, inclusive futebol, política e religião. De modo geral, os debatedores são concisos e miram a troca de ideias, sem ofensas recíprocas.
O que se vê nas Eleições 2014 está bem longe desse civilizado conceito: os debates se transformaram em contendas em que a ética, o respeito e as ideias foram para o espaço.
Na primeira parte da campanha, os candidatos ainda se respeitaram um pouco mais. Nem tanto por consideração, mais pela preocupação em não inviabilizar possíveis acordos no segundo turno.
Entretanto, desde o momento em que a disputa ficou entre Aécio Neves e Dilma Rousseff, os dois colocaram as garras de fora e partiram pro vale-tudo.
O debate promovido pela TV Bandeirantes, repleto de acusações de corrupção e nepotismo, foi logo comparado com uma sangrenta luta de UFC. Pensava-se que Dilma levaria um “chocolate” de Aécio. Isso não aconteceu. Acuada no início, ela conseguiu reagir e foi para o contra-ataque. Ao final, arrancou “glorioso” empate, que, para o tucano, teve certo gosto de derrota.
No segundo confronto, levado ao ar pelo SBT, prevaleceu a troca de farpas entre os candidatos a respeito das denúncias de corrupção envolvendo seus partidos. Mas o resultado foi diferente. Dessa feita, na análise do jornalista Ricardo Noblat, “Aécio impôs sua agenda, rebateu os ataques de Dilma, com calma, lógica e argumentos bem pensados, e foi impiedoso”. Referindo-se ao mal-estar que a presidente sofreu no final, Noblat concluiu: “Ela saiu nocauteada, não é força de expressão”.
Embora não envolvendo discussões mais aprofundadas acerca dos grandes temas de interesse nacional, os debates, (ou embates, como queiram) não parecem muito fora do agrado popular.

Não são poucos os indícios de que, no fundo, o brasileiro gosta mesmo é de “ver sangue”. Até o famoso “paz e amor” lhe parece mais gostoso quando ao molho pardo. A dúvida é se vale a pena mudar essa tendência.

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sábado, 11 de outubro de 2014

CONTINUAR OU MUDAR, EIS A QUESTÃO

            Uma análise mais isenta e menos passional mostra que o resultado da eleição presidencial, no primeiro turno, não foi tão atípico quanto muitos insistem em propalar.
            Avaliado com frieza e naturalidade, o produto das urnas foi exatamente o esperado, desde quando os concorrentes se tornaram conhecidos.
            Por mais que os políticos falem em surpresas e decepções, estava “escrito nas estrelas” que, no segundo turno, a disputa seria entre Dilma Rousseff e Aécio Neves. As chances de Eduardo Campos eram mínimas, mesmo sendo ele a terceira via que poderia sepultar a polarização entre PT e PSDB, há 12 anos impingida aos brasileiros.
            A campanha transcorria numa malemolência digna de fazer inveja às obras de transposição do Rio São Francisco.
            De repente, a morte de Eduardo Campos e o consequente surgimento de Marina Silva agitaram a disputa. Tiveram o efeito de queda de barreira, numa pista até então tranquilamente transitável.  O jeito foi encarar trilhas tortuosas e acidentadas, próprias para “rally”, que levariam ao mesmo destino, mas sob condições muito mais difíceis. O planejamento foi pro ralo.
            Cheia de gás, e inflada pela comoção da tragédia acontecida com Campos, Marina “bombou”, logo na primeira pesquisa em que entrou no páreo. Desbancou Aécio Neves, e já apareceu como vencedora de um eventual segundo turno.
            Tudo fogo de palha. A candidata seringueira subiu como um foguete e despencou como um meteoro.
            No frigir dos ovos, prevaleceu a lógica: Dilma x Aécio; briga de “cachorro grande”.
            A tradicional e decepcionante surpresa está debitada aos institutos de pesquisa. Por incompetência ou por razões inconfessáveis, eles mais uma vez “pisaram na bola”, exibindo números irreais. Entre outros equívocos (?!), passaram todo o tempo mostrando que Dilma mantinha sobre Aécio uma vantagem bem maior do que a finalmente apurada.
            Agora, limitada a dois os candidatos, a escolha é mais fácil.
            Escaldado das demagogias e inverdades que lhe empurraram goela a baixo no primeiro turno, o eleitor adquiriu melhor condição de escolher entre a continuidade, personificada por Dilma, e a renovação, encarnada por Aécio.  
            As primeiras pesquisas publicadas nesta nova etapa mostram uma disputa equilibrada, com viés de crescimento para o candidato mineiro.
            Outros cenários, entretanto, podem e devem surgir.
            O momento é de ficar atento aos lances, em busca de dados que permitam formar juízo próprio. Lembrando que pesquisa, mesmo quando séria, só acerta quando erra pouco.
 
- Jornal de Domingo

domingo, 5 de outubro de 2014

RECEITA CASEIRA

            A força política de uma cidade não é obra do acaso, não surge num passe de mágica.
Na sua essência, é o auspicioso resultado uma conjugação de idéias e esforços, em torno de metas perseguidas pelo grupo. Ela vem no mesmo comboio em que viajam o idealismo, o respeito às tradições e o espírito de união. Onde também trafegam o orgulho de pertencer à comunidade e o saber valorizar as lideranças locais, afora outras virtudes que precisam ser cultivadas e, sobretudo, praticadas.
            Ao longo de sua história, Valadares tem ressentido de uma representatividade política mais expressiva, coesa e vigorosa o bastante para se impor e batalhar com êxito por suas aspirações.
            Várias e importantes conquistas estão contabilizadas, todas dignas de aplausos.  Muitas, entretanto, deixaram de acontecer, não por desinteresse ou falta de empenho, sim devido à insuficiência de prestígio político.
Até hoje, por exemplo, o município não conquistou a sonhada grande empresa que daria mais sustentação e dinamismo à sua economia. Também não viu a chegada do gasoduto há muito prometido, que agregaria mais atrativos ao seu perfil empresarial. Isso sem contar a carência de serviços aéreos e de um aeroporto à altura do que necessitam a comunidade e aqueles que alimentariam algum projeto em relação à cidade.
A rigor, nem mesmo a duplicação da BR-381pode ser tida como vitória consumada. Pelo menos de início, as duas raias só existirão entre Belo Horizonte e Belo Oriente. Daí pra cá, apenas melhoramentos na pista única existente, decisão absolutamente discriminatória e desrespeitosa para com Valadares. Após muita grita, há juras de que a mancada será corrigida. Se a promessa será cumprida, só o tempo e as urnas dirão.
Não é justo, porém, centrar nos homens públicos a responsabilidade por esse contexto.  Seriam eles os maiores, mas não os únicos culpados.
Também a comunidade tem muito a ver com a questão. Afinal, é ela quem sufraga seus mandatários públicos. Entre eles forasteiros, que, em época de eleições, se apresentam como guardiões dos interesses locais, prometendo mundos e fundos. Conquistam preciosos votos, depois se mandam, deixando o povo a ver navios.
O “pepino” sobra para os políticos “caseiros”, que, salvo honrosas exceções, sem grande talento, sem cacife e sem união, pouco ou nada podem fazer.
As eleições acontecem neste domingo. É a nova chance de essa lamentável situação ser revertida ou, pelo menos,  minimizada.
É verdade que o eleitor se sente cada vez mais desmotivado. Não que esteja brigado com as urnas ou renunciando ao direito de escolher seus representantes. Mas está farto de ter que optar entre o ruim e o pior, dilema cada vez mais presente nas eleições.
Valadares, porém, não parece tão atolada nesse imbróglio.
Para este pleito, há aqui bons candidatos que são da terra, por berço, adoção ou afinidade. Excluídos os “malas”, sobra muita gente boa. Gente conhecida, tradicional, séria e bem intencionada. Gente dedicada e batalhadora, que, apesar dos obstáculos, já mostrou serviços e pode fazer mais pela cidade.
Se o eleitor quiser zelar para que haja uma representação política autêntica, robusta e comprometida com os anseios valadarenses, a receita é prestigiar os “prata-da-casa”. Nada de dar boa vida a alienígenas oportunistas, que só aparecem na hora de garimpar votos.  
Repaginando o velho ditado popular, poder-se-ia dizer que Santo de casa não faz milagres, exceto alguns que só ele consegue praticar. Convém acreditar!

- Revista “Mais Mais PERFIL”