Na definição genérica dada pelo antropólogo britânico Edward Burnett Tylor, cultura
é “todo aquele complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral,
a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo
homem como membro da sociedade”.
Tantas são as manifestações
culturais, que as comunidades mais evoluídas preferem concentrá-las num domicílio
próprio. Um local onde possam ser exibidas, apreciadas, debatidas e criticadas no
seu conjunto e em toda a sua extensão. São os centros culturais, espaços arquitetônicos onde elas se apresentam nas suas mais diferentes
modalidades.
Em termos de cultura,
Valadares não pode reclamar de seu acervo. Possui grandes escritores,
excelentes artistas plásticos, músicos virtuosos, atletas de renome, competentes
profissionais liberais, e muitos outros talentos. Além disso, conta com ótima
infraestrutura educacional, complementada por bons meios de comunicação e ampla
rede de entidades e estabelecimentos difusores das artes.
A cidade acaba de ganhar o
Centro Cultural Nelson Mandela, inaugurado no último dia 05, no local em que
por muitos anos existiu a cadeia pública. Convenientemente remodelado, transformou-se
no espaço moderno e confortável onde já funcionam a Academia Valadarense de
Letras (AVL) e a Biblioteca Pública Municipal Professor Paulo Zappi.
O
Centro inclui uma galeria de artes e um telecentro, tudo da melhor qualidade,
representando a realização de antigo desejo comunitário.
Apesar das obsequiosas explicações
dadas pela Prefeita Elisa Costa, o nome Nelson Mandela não deu “Ibope”. Foi
como chamar de Maradona o estádio corinthiano em que será aberta a próxima Copa
do Mundo.
Nada contra homenagear o
grande líder sul-africano, mundialmente aplaudido e reverenciado em razão de indiscutíveis
méritos. Chato foi isso acontecer em detrimento de personagens locais comprometidos
e identificados com o que ali se pretende mostrar. Sem falar que Mandela, por
maior que fossem seus conhecimentos geográficos, talvez não soubesse o ponto do
planeta em que fica Valadares.
No discurso de
inauguração, a própria Chefe do Executivo lembrou alguém mais merecedor da homenagem,
ao revelar que a realização da obra era um sonho do falecido ex-prefeito João
Domingos Fassarella, a quem o valadarense dedica enorme afeição.
Mas não faltariam outras
ilustres opções, como os Irmãos Sales (Wenceslau e Ladislau), fundadores do tradicional
Colégio Ibituruna; Talmir Canuto Costa, primeiro administrador do MIT, embrião
da Univale; Aurita Machado, notável intelectual e incansável desbravadora; Celso
Werneck, mestre em pirogravura, com obras espalhadas por todo o mundo; padre João Werbeck, responsável por vários
empreendimentos sócioculturais implantados na cidade; Parajara dos Santos,
gênio do jornalismo local; o imortal Hermírio Gomes, cujo DNA está em quase
todas as iniciativas progressistas de sua época; afora muito mais gente.
Outra alternativa teria
sito batizar o local com o nome de alguns dos símbolos e marcos históricos da
cidade: Ibituruna, Rio Doce, Princesa do Vale ou Figueira.
Na verdade, faltou uma
consulta popular, uma troca de ideias mais ampla, algo que tornasse a escolha
mais democrática. Talvez poupando Mandela, para não o expor ao risco de constrangedora lanterna.
- Jornal de Domingo