domingo, 12 de junho de 2011

MAIORIAS DESCOMPROMETIDAS

            No final do ano passado, uma vergonhosa maioria de deputados e senadores aprovou robusto aumento dos próprios salários. Como se não bastasse, estendeu a bondade aos ministros, vice-presidente e presidente da República, quando o povo entendia que todos já ganhavam mais do que mereciam.
            Sobreveio a votação do reajuste do salário mínimo. Novamente a maioria prevaleceu e o percentual votado pelo Congresso ficou abaixo do que pretendia a grande massa de trabalhadores.
            Episódio recente, ainda por conchavo de maioria, o ex-ministro Antonio Palocci deixou de ser convocado para explicar no Congresso a surpreendente elevação de seu patrimônio. A mesma maioria que tem impedido a instalação de CPI destinada a apurar esse anômalo milagre. Em ambos os casos, a opinião pública foi e permanece desconsiderada.
            Embora desejável, não se pode exigir absoluta sintonia entre os anseios populares e as decisões adotadas pelas maiorias que se alojam nos Três Poderes da nação. Compreende-se que nem todas as vontades possam ser satisfeitas.
            Mas o que deveria ser exceção se tornou habitual. O povo tem sido frequentemente contrariado, como se seus apelos fossem sempre descabidos. As maiorias deixaram de brigar pelas causas públicas, para se formar em torno de interesses próprios ou corporativos, nem sempre legítimos.
            O pior é que esses grupos, além de desagradar à população, costumam criar sérios problemas para o país.           
            Veja-se, por exemplo, o caso do ex-ativista italiano de extrema esquerda, Cesare Battisti. Mesmo sob princípios legais, o Supremo Tribunal Federal (STF) bateu de frente com boa parte da opinião pública. Por decisão da maioria de seus ministros, posicionou-se contra a sua extradição para a Itália e a favor de que fosse colocado em liberdade.
            A deliberação poderá abalar as relações entre Brasil e Itália, se é que isso não já aconteceu.
            Basta ver a reação da ministra italiana da Juventude, Giorgia Meloni, segundo a qual "A decisão da Justiça brasileira constitui um tapa nas instituições italianas e um ato indigno de uma Nação civilizada e democrática".
            Ainda está atravessada na garganta do brasileiro a afirmação de que “o Brasil não é um país sério”, feita pelo general Charles De Gaulle.  Agora, teremos que engolir nova humilhação.        
            E as coisas tendem a piorar, se as decisões majoritárias continuarem não refletindo o pensamento e as aspirações da sociedade.