Na contramão de um
vertiginoso desenvolvimento industrial, tecnológico e científico, o ser humano
patina. Em termos de coexistência, pouco ou nada evoluiu em relação ao padrão Fifa,
ops!, padrão caverna. E olhe lá se não retrocedeu!
Movidos pelo egoísmo e pela ambição,
homens e mulheres agem com total desenvoltura, quando se trata de mentir,
subornar, roubar e matar, num processo bem próximo da autodestruição.
Entregue
a divagações, ocorreu-me que, se a humanidade pudesse voltar às origens, com
liberdade para reescrever sua história, mostraria um “my way” bem diferente do
atual.
Provavelmente,
estaríamos num paraíso em que todos falariam a mesma língua e professariam uma
só fé. Nada de guerras, atos terroristas, golpes de estado, conflitos raciais
ou religiosos.
“Ipso facto”, não existiriam assassinatos,
assaltos, uso de drogas, escravidão, prostituição, pedofilia e outras mazelas
sociais. Tampouco haveria corrupção, desvios de recursos oficiais, lavagem de
dinheiro, superfaturamento de gastos públicos, falcatruas nas entidades
esportivas, pedaladas fiscais, nem adultérios chapas-brancas. Um autêntico
“Shangri-la”, sem defeitos.
A
imaginação avançava nesse rumo, fértil e ambiciosa, quando, a exemplo das bulas
de medicamentos, surgiram as fatais contraindicações.
Pra
começar, à falta de guerras, terrorismo e outras formas de conflitos armados, a
indústria bélica inexistiria. Além de catástrofe econômica, isso seria uma
tremenda sacanagem com os abnegados contrabandistas de armas, que, com muito
esforço e sacrifício, extraem dessa nobre atividade o seu modesto sustento. Já
pensou?!
Sem
o consumo de heroína, ópio, maconha, crack e outras drogas, prestigiados e
habituais traficantes, inativos, entrariam em desespero. O mercado
especializado viraria pó, com graves consequências para o narcotráfico e para
as baladas de socialites. Melhor esquecer!
Exorcizar
golpes de estado seria duvidar da tendência liberal dos governantes latino
americanos, em especial o venezuelano Nicolas Maduro. Desprendidos e
desapegados ao poder, eles não precisariam disso, para demonstrar que respeitam
a vontade popular. A história já os consagrou como intransigentes defensores
dos princípios democráticos apregoados pela doutrina bolivariana. Fora de
cogitação!
O
mais difícil, entretanto, foi vislumbrar um mundo isento da corrupção e seus
desdobramentos. Até onde alcancei, o quadro era caótico.
Num clima de absoluta
consternação, políticos, empresários e entes governamentais batiam cabeças, sem
saber como turbinar seus suados ganhos atípicos. Isolado em seu gabinete de
trabalho, sem a Lava-Jato, o juiz Sérgio Moro lamentava o tempo que perdeu nos
Estados Unidos, ampliando conhecimentos sobre combate à lavagem de dinheiro.
Enquanto isso, procuradores públicos e policiais federais temiam férias
coletivas e até demissões, por falta de gente graúda a quem investigar e
prender. Nem pensar!
Em
meio a tantas controvérsias, o jeito foi pedir a opinião do sociólogo
Belechiano Conçelheiro Dubar (escreve-se assim mesmo), amigo e companheiro de
longas refregas.
Expert em
generalidades, mestre Belé, codinome de sua preferência, filosofou que este é
um mundo cão, difícil de ser entendido. Após muito refletir, ele lembrou que
não se mexe em time que está ganhando, sobretudo quando esse time é o
adversário. Apoiado nessa máxima, disse ser melhor deixar tudo como está, pra
não aumentar o risco de piorar. Quem sou eu pra discordar?!
Texto para a revista "Mais Mais PERFIL" - Edição de Julho/2015