sábado, 1 de agosto de 2015

MUNDO CÃO

Na contramão de um vertiginoso desenvolvimento industrial, tecnológico e científico, o ser humano patina. Em termos de coexistência, pouco ou nada evoluiu em relação ao padrão Fifa, ops!,  padrão caverna. E olhe lá se não retrocedeu!
            Movidos pelo egoísmo e pela ambição, homens e mulheres agem com total desenvoltura, quando se trata de mentir, subornar, roubar e matar, num processo bem próximo da autodestruição.
            Entregue a divagações, ocorreu-me que, se a humanidade pudesse voltar às origens, com liberdade para reescrever sua história, mostraria um “my way” bem diferente do atual.
Provavelmente, estaríamos num paraíso em que todos falariam a mesma língua e professariam uma só fé. Nada de guerras, atos terroristas, golpes de estado, conflitos raciais ou religiosos.
 “Ipso facto”, não existiriam assassinatos, assaltos, uso de drogas, escravidão, prostituição, pedofilia e outras mazelas sociais. Tampouco haveria corrupção, desvios de recursos oficiais, lavagem de dinheiro, superfaturamento de gastos públicos, falcatruas nas entidades esportivas, pedaladas fiscais, nem adultérios chapas-brancas. Um autêntico “Shangri-la”, sem defeitos.
            A imaginação avançava nesse rumo, fértil e ambiciosa, quando, a exemplo das bulas de medicamentos, surgiram as fatais contraindicações.
            Pra começar, à falta de guerras, terrorismo e outras formas de conflitos armados, a indústria bélica inexistiria. Além de catástrofe econômica, isso seria uma tremenda sacanagem com os abnegados contrabandistas de armas, que, com muito esforço e sacrifício, extraem dessa nobre atividade o seu modesto sustento. Já pensou?!
            Sem o consumo de heroína, ópio, maconha, crack e outras drogas, prestigiados e habituais traficantes, inativos, entrariam em desespero. O mercado especializado viraria pó, com graves consequências para o narcotráfico e para as baladas de socialites. Melhor esquecer!
            Exorcizar golpes de estado seria duvidar da tendência liberal dos governantes latino americanos, em especial o venezuelano Nicolas Maduro. Desprendidos e desapegados ao poder, eles não precisariam disso, para demonstrar que respeitam a vontade popular. A história já os consagrou como intransigentes defensores dos princípios democráticos apregoados pela doutrina bolivariana. Fora de cogitação!
            O mais difícil, entretanto, foi vislumbrar um mundo isento da corrupção e seus desdobramentos. Até onde alcancei, o quadro era caótico.
Num clima de absoluta consternação, políticos, empresários e entes governamentais batiam cabeças, sem saber como turbinar seus suados ganhos atípicos. Isolado em seu gabinete de trabalho, sem a Lava-Jato, o juiz Sérgio Moro lamentava o tempo que perdeu nos Estados Unidos, ampliando conhecimentos sobre combate à lavagem de dinheiro. Enquanto isso, procuradores públicos e policiais federais temiam férias coletivas e até demissões, por falta de gente graúda a quem investigar e prender. Nem pensar!
            Em meio a tantas controvérsias, o jeito foi pedir a opinião do sociólogo Belechiano Conçelheiro Dubar (escreve-se assim mesmo), amigo e companheiro de longas refregas.

Expert em generalidades, mestre Belé, codinome de sua preferência, filosofou que este é um mundo cão, difícil de ser entendido. Após muito refletir, ele lembrou que não se mexe em time que está ganhando, sobretudo quando esse time é o adversário. Apoiado nessa máxima, disse ser melhor deixar tudo como está, pra não aumentar o risco de piorar. Quem sou eu pra discordar?!

Texto para a revista "Mais Mais PERFIL" - Edição de Julho/2015

domingo, 26 de julho de 2015

SINUCA DE BICO

            Chega a hora em que não se pode mais ficar concentrado em acontecimentos recorrentes, sobretudo quando eles nada têm de positivo, estimulantes ou agradáveis. Pelo contrário, são profundamente incômodos e execráveis, não apenas por serem repetitivos, mas pelo seu conteúdo indigesto, não raro afrontoso à inteligência e à cidadania de quem a eles assiste.
            É o caso dos periódicos escândalos republicanos. Ocupando os espaços mais nobres dos meios de comunicação, eles há muito vêm “torrando” a paciência popular.
Nos últimos anos, a situação piorou. Não se fala em outra coisa senão em bandidos de colarinho branco que roubam a cena, saqueando os cofres públicos. Destaque para os badalados personagens do “mensalão”, do “petrolão” e de outros recentes e vergonhosos episódios da vida nacional.
Os tolos que se amarram nesses lances não sabem ou não percebem que há coisas mais interessantes pra ver.
Ainda agora, desenrolam-se os Jogos Pan-Americanos de Toronto, mostrados em tempo real, um espetáculo imperdível.
O Brasil se faz presente, exibindo surpreendente evolução em várias modalidades desportivas. Tem alcançado resultados históricos e aparece como a terceira melhor delegação de certame. Até a última sexta-feira, havia conquistado 121 medalhas, sendo 34 de ouro, bem mais do que Cuba, Colômbia, México, Argentina e outros tradicionais “bichos-papões” de troféus.
Para os que não são chegados ao esporte, a pedida é se servir de um bom vinho ou de um legítimo scotch, acomodar-se numa confortável poltrona, se possível bem acompanhado, e curtir na telinha as emoções de “Desejos Secretos”.
A meganovela da Globo está  “matando”.  Exibida nos fins de noite, ela mostra o submundo da prostituição de luxo, camuflado pelo glamour do universo da moda.
Com bom elenco, esmerado acabamento e bem dosado erotismo, o folhetim tem levado os telespectadores à loucura, exibindo cenas excitantes, interpretadas por atores de grande beleza física. Coisa pra ninguém botar defeito.
Convenhamos, pois, não haver justificativa para permanecer fissurado no noticiário político-econômico, que cuida apenas de gente safada e suas bandalheiras, ou de situações em que o povo só ganha quando perde pouco.
As óbvias exceções ficariam por conta das matérias que despertem alguma esperança, tipo as que falem de possíveis mudanças no comando do país. Mas até nessa hipótese específica o brasileiro se sentiria hoje numa sinuca de bico.
Se, por alguma das várias razões já diagnosticadas e amplamente conhecidas, Dilma Rousseff decidisse “jogar a toalha”, ou fosse ejetada do trono presidencial, seu substituto automático seria o vice-presidente Michel Temer, que pouco tem de admirável, além de uma bela esposa. Na linha sucessória, viriam, pela ordem, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha; o presidente do Senado, Renan Calheiros; e o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowisk, figuras tão queridas quanto o horário eleitoral gratuito.
No caso de uma nova eleição, as opções naturais seriam os clássicos Aécio Neves, Geraldo Alckmin, José Serra e Marina Silva, políticos determinados e corajosos, que, na oposição, têm sido quase tão competentes e brilhantes quanto os craques da Seleção canarinho. Na disputa, se ele ainda reunir condições “técnicas” para fazê-lo, certamente estaria o emérito palestrante Lula “Brahma” da Silva, cada vez mais experiente na arte de embromar.

Melhor assistir ao “Domingão do Faustão”. O sacrifício será menor!

- Diário do rio Doce - 26.07.2013