quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

TEMPO DE MUDANÇA


Por Etelmar Loureiro

- Revista “Mais Mais PERFIL” – Dez-2018

            De olho no calendário, o povo brasileiro conta nos dedos os dias que faltam para terminar o ano. Essa época é naturalmente marcada por um clima emocionante, em que despedidas, expectativas e ansiedades se misturam. Desta vez, um novo ingrediente se junta à fórmula, tornando mais tensa e intrigante a temporada.
            Nada que coloque em risco o especial de Roberto Carlos, as trocas de presentes e mensagens de época, os comes e bebes próprios do tempo de manjedoura, tampouco as queimas de fogos que agitam a virada de ano. Tudo isso certamente acontecerá, conforme mandam as tradições. O suspense também não se deve ao fim do governo Temer. Esse está se despedindo em silêncio e da forma melancólica como transcorreu, sem deixar saudade.
            O que está mesmo roubando as atenções é a posse do 38º presidente da República Federativa do Brasil, Jair Bolsonaro, prevista para o primeiro dia de janeiro próximo. Tornando-se cada vez mais cintilante, a estrela de Bolsonaro vem ofuscando todas as demais. Após a significativa vitória que obteve nas urnas, quase não se fala em outra coisa. Os holofotes estão voltados para aquele que, de um momento para outro, se transformou em símbolo nacional.
Sobre qualquer outro sentimento, paira no ar uma grande esperança de que o futuro governo possa colocar freios na enorme corrupção e na descontrolada criminalidade que assolam o país. Espera-se que, a um só tempo, ele consiga coibir os desmandos administrativos, as orgias políticas, as negociatas entre agentes de governo, seus aliados e fornecedores, o tráfico de drogas, o contrabando, e tantas outras mazelas que mancham o currículo nacional.
O próprio Bolsonaro, na apresentação do seu plano de governo, denominado “O Caminho da Prosperidade”, prometeu uma gestão “decente, diferente de tudo aquilo que nos jogou em uma crise ética, moral e fiscal. Um governo sem toma lá dá cá, sem acordos espúrios. Um governo formado por pessoas que tenham compromisso com o Brasil e com os brasileiros”.
A sua intenção é fazer uma administração liberal democrata, onde educação, saúde e segurança tenham prioridade. Na sua visão, o liberalismo “reduz a inflação, baixa os juros, eleva a confiança e os investimentos, gera crescimento, emprego e oportunidades”. Outro propósito é ter “tolerância zero com o crime, com a corrupção e com os privilégios”. Isso sem falar na redução do número de ministérios e extinção da abundância de órgãos hoje mantidos apenas com o objetivo de lotear o Estado e acomodar apadrinhados políticos. Ou seja: o homem que para muitos é um “mito” pretende mudar radicalmente a forma de conduzir o paísSe conseguir, será também um herói.
Claro que não será fácil levar a cabo tão ambicioso projeto, sobretudo num contexto onde, além dos entraves legais, a arraigada polarização entre vencedor e vencidos ficou longe de ser eliminada pelo resultado das urnas.  Remanesceu uma oposição que promete ser vigorosa, liderada por alto número de lulopetistas, que não hesitará em complicar a vida do capitão.
De outra parte, certo de que nem tudo são flores, o povo não esconde algum temor em relação às medidas “um pouco amargas” mencionadas mas ainda não  inteiramente reveladas por Bolsonaro. Lembrando-se de Fernando Collor, que no primeiro dia de seu governo confiscou os depósitos bancários, inclusive as cadernetas de poupança dos brasileiros, não falta quem esteja com um pé atrás. Afinal, um sábio ditado ensina que “cão mordido por cobra tem medo de linguiça”.
Mas a hora é de acreditar, ainda que não convenha colocar todas as fichas numa mesma jogada. Vale a pena reservar algumas, para, se houver chance, arriscar de novo.
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