Familiares,
amigos, correligionários e até seus rivais, comovidos com o trágico
acontecimento, não têm poupado palavras de elogio à sua pessoa, ressaltando
méritos e virtudes que lhe eram inerentes.
Mais
uma vez a morte comprovou sua importância na consagração pessoal. Com ela são
sepultadas as dissidências e tudo é relevado. Críticas e restrições se
transformam em elogios, aplausos e reconhecimentos que em vida costumam ser
sonegados.
Não
é bem o caso de Campos, que já detinha bom índice de aceitação. Simpático,
habilidoso, bem-humorado, atencioso e realizador, ele sempre apareceu bem na
foto, como pessoa ou homem público. A esta altura, é provável que até as
denúncias de nepotismo que o incomodavam tenham ido para o ralo.
Mas
o que mais interessa, agora, é saber como ficará o cenário eleitoral
brasileiro, sem a participação de Eduardo Campos. Além do abalo sentimental,
sua morte lança uma série de incógnitas, a começar por quem o irá substituir
como candidato.
Pela
ordem natural, a opção deverá recair sobre Marina Silva, candidata a vice-presidente
na chapa que era por ele encabeçada.
Esse
é o pensamento dominante, defendido pelos líderes dos partidos coligados ao PSB,
na chapa "Muda Brasil”, e pelo advogado Antônio Campos, irmão de Eduardo.
A
questão, entretanto, não é tão simples, pois no alto comando do PSB há elementos
supostamente interessados em recolocar o partido na base aliada governista. Entre
esses Roberto Amaral, respondendo pela presidência da sigla, que, em 2013,
sugeriu que Eduardo Campos desistisse da candidatura e apoiasse a reeleição da
presidente Dilma. Também foi ele o articulador da aliança PSB/PT que, no Rio de
Janeiro, apoia a candidatura de Lindberg Farias ao governo estadual.
Enquanto
a coisa não se define, Dilma e Aécio devem estar perdendo preciosas noites de
sono.
Afinal,
dependendo do que acontecer, a reviravolta poderá ser grande, e nem mesmo os
cientistas políticos se arriscam a fazer previsões.
De
certo, apenas o fato de a próxima eleição já ter um vencedor. Por ironia do
destino, Eduardo Campos sai da cédula de votação, mas entra para a história, na
condição de político vitorioso, de novas ideias, que se ofereceu como
alternativa a um modelo político
ultrapassado, que há 20 anos sufoca o
país.
Em
entrevista concedida a jornalistas da TV Globo, na noite anterior à sua morte,
ele disse ao telespectador que “ao lado de Marina Silva, eu quero representar a
sua indignação, o seu sonho. Não vamos desistir do Brasil, o Brasil tem jeito”.
Que
Marina e o PSB respeitem e comunguem o mesmo pensamento.
- Jornal de Domingo