sexta-feira, 30 de agosto de 2019

GETÚLIO, O GRANDE


Por Etelmar Loureiro

- Diário do Rio Doce - 29.08.2019

            Como se não lhes bastasse provocar sobressaltos e intranquilidade em suas inúmeras vítimas, os problemas político-administrativos, agravados pela corrupção, pela retração industrial, pelo desemprego e por outras mazelas sociais, sempre contribuem para monopolizar as atenções populares.
            Talvez isso explique – embora não justifique – o esquecimento ou o melancólico decurso de algumas datas nacionais de histórica relevância, que acabam passando em branco.
            Nada a ver com o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, com o Dia Nacional de Combate ao Fumo, ou com o Dia de Santa Joana Maria da Cruz, aos quais o 29 de agosto é reservado. Em alguns locais, com maior ou menor intensidade, eles devem estar sendo celebrados.
           Mas há descasos inadmissíveis, como o acontecido no último dia 24, em vários pontos do país, quando transcorreu o 65º aniversário da morte do ex-presidente Getúlio Vargas.
            Grande personagem de uma época da qual ainda restam muitas testemunhas, Vargas é apontado como o mais importante chefe político brasileiro do último século.
            Gaúcho de São Borja-RS, presidiu o Brasil por duas ocasiões. A primeira de 1930 a 1945, conhecida como Era Vargas. Um marco na história brasileira, quando inúmeras alterações socioeconômicas aconteceram no país. A segunda de 1951 a 1954, eleito por voto direto.
            Entre outras grandes iniciativas, criou a Justiça do Trabalho, instituiu o salário mínimo e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Direitos trabalhistas, como carteira profissional, semana de trabalho de 48 horas e férias remuneradas, também são frutos de seu governo.
            Mesmo quando ditador foi um presidente que se destacou por importantes realizações como a criação da Cia. Siderúrgica Nacional, da Cia. Vale do Rio Doce e da Hidrelétrica Vale do São Francisco. Em 1953 criou a Petrobrás, resultado da campanha popular que começou em 1946, com o histórico slogan "O petróleo é nosso".
Assim como todo grande líder, tinha características próprias: foi o precursor do marketing pessoal em ampla escala, direitista convicto e populista ao extremo. Pelos admiradores era conhecido como “pai dos pobres”, por haver, em sua primeira passagem pelo poder, praticado uma abrangente política de direitos sociais e trabalhistas, atendendo a antigas reivindicações populares. Essas realizações foram amplamente divulgadas por um aparato publicitário que provocou verdadeiro "culto à personalidade" do então ditador.
No segundo mandato, iniciado em 1950, Getúlio manteve uma política nacionalista. Mas seu governo foi minado por várias crises.
Em 1954 a atmosfera política no Brasil tornou-se tensa e conturbada. Os últimos dias de governo foram marcados por forte pressão política feita pela imprensa e pelos militares. O povo estava insatisfeito com a situação econômica do país. Exigia-se a renúncia do presidente.
Vargas optou por ele próprio decidir seu destino. Cometeu suicídio no dia 24 de agosto de 1954, com um tiro no coração, em seu quarto, no Palácio do Catete, Rio de Janeiro, então capital federal.
Na carta-testamento que foi encontrada ao lado de seu corpo, escrita de próprio punho, Getúlio deixou um recado à nação: “Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente, dou o primeiro passo no caminho da eternidade, e saio da vida para entrar na história”. 
Getúlio levou consigo as qualidades de um grande estadista, ao qual o Brasil deve permanente e ampla reverência. Qualquer esquecimento será sempre imperdoável.