domingo, 6 de setembro de 2015

MARRÁIA

            Oficial e humildemente admitida a quebradeira do país, a preocupação de nossas autoridades – se é que elas se preocupam com algo além dos próprios interesses – é agora o que fazer pra sair da enrascada. A situação está pior do que a da equipe da Cruz de Malta no Campeonato Brasileiro.
            Sempre comodistas e ambiciosos, os gênios da área econômica logo conceberam um ajuste fiscal, envolvendo aumento de impostos, elevação de juros, redução de direitos trabalhistas e previdenciários, afora outras maldades. Para tapar o rombo, pouco importa arrombar o povo.
            O tiro saiu pela culatra. A inflação disparou, o dólar acompanhou, o desemprego aumentou, a recessão se instalou, e tome rimas.
            Como se o estrago não estivesse de bom tamanho, ameaçam criar novos tributos, além de majorar os já existentes. Despudoradamente, querem que o contribuinte banque as mancadas e falcatruas até agora cometidas por administradores incompetentes, políticos desonestos, lobistas e empreiteiros pilantras que há muito vêm saqueando os cofres do Tesouro.
            Porém a resistência a esses propósitos indecorosos mostra-se grande, maior do que a esperada.
            Não só o povo, mas até mesmo algumas surpreendentes lideranças políticas têm se insurgido contra mais essa extorsão. Chega de sacrifícios!
            Exausta de pagar por erros e crimes que não cometeu, a sociedade exige que, primeiro, o governo faça sua parte. Marráia!
            Além de medidas morais que restabeleçam a confiança na dignidade dos homens públicos e na austeridade de suas ações – meta difícil de ser alcançada –, pretende-se o enxugamento dos gastos públicos, de modo a compatibilizá-los com a arrecadação oficial.
            Um dos primeiros passos seria a redução do número de ministros, hoje na marca dos 39, colada nos 40 que celebrizaram a equipe de Ali-Babá.
            Segundo dados publicados pela revista ISTOÉ, edição 2365, “os 39 ministérios de Dilma custam mais de R$ 400 bilhões por ano e empregam 113 mil apadrinhados. Só os salários consomem R$ 214 bilhões - quase quatro vezes o ajuste fiscal que a presidente quer fazer à custa da sociedade”.
            Vale lembrar que Getúlio Vargas mantinha apenas 11 pastas de primeiro escalão. Juscelino governou com 13. Os militares se satisfizeram com 16.  Sarney aumentou para 25. Fernando Henrique terminou seu mandato com 24. Lula chegou a 35. Criando mais quatro cabides de emprego, Dilma tornou-se a recordista.
            Convenhamos ser um número exagerado, a ponto de comprometer a eficiência administrativa governamental. Além disso, reforça o sentimento popular de que o objetivo principal é preservar espaço para negociatas com partidos aliados, onde impera o “é dando que se recebe”.
            A título de curiosidade, os Estados Unidos, a grande potência mundial, tem apenas 15 ministérios. Mais perto de nós, o Chile, com 20 órgãos da espécie, exibe o maior IDH latino americano. O mais parecido com o Brasil é o modesto Gabão, o único país com 40 ministérios.
                Fortemente pressionada, inclusive por alguns de seus coligados, a presidente Dilma, já admite o corte de pelo menos 10 das pastas existentes e inúmeros cargos comissionados. Mas diz que não dará prosseguimento a uma reforma administrativa, enquanto permanecer aguda a crise política.
            Nesse clima de “vai num vai” presidencial, tramita na Câmara, já aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que reduz para 20 a quantidade de ministérios. O autor da proposta é ninguém mais, ninguém menos do que o deputado Eduardo Cunha, presidente da Casa, hoje o mais fiel e cordial desafeto de dona Dilma.

            Alguma coisa ameaça “pintar”, além da derrocada do Vasco e da queda de seu presidente. E não demora!

- Diário do Rio Doce