Mesmo fiel à criação, o corpo feminino continua
centralizando atenções, como se fosse um eterno fato novo.
A fixação
é antiga, justa e certamente interminável.
Até há pouco tempo, entretanto, a timidez, a
censura, os preceitos religiosos e o falso pudor impediam que a mulher exibisse
a plenitude e a exuberância de seus dotes. Tudo constituía tabu.
Vestidos colantes, saias curtas e decotes generosos
eram coisas raras, vistas quase só no cinema.
Extremamente comportados, os maiôs que desfilavam
nas praias e piscinas impediam a segura conferência de seu precioso conteúdo.
Uma cruzada de pernas mais sensual talvez fosse a
forma mais arrojada de ostentar predicados.
Nas raras revistas masculinas, tipo Playboy, o nu
frontal ficava por conta da imaginação.
Dissertar sobre as partes íntimas da mulher, sem
dissimular, só escritores renomados e autores de livros técnicos especializados
podiam fazê-lo. Os demais tinham que recorrer a metáforas ou a comedidos
sinônimos. Qualquer termo explícito poderia significar palavrão ou agressão aos
bons modos.
Eis que surge a pílula anticoncepcional, marcando o
início da liberação sexual.
Livre e solta para direcionar sua vida, a mulher
optou por curtir a sexualidade, na plenitude. Ao mesmo tempo, percebeu que não
mais havia razões para esconder atributos físicos. O belo é pra ser mostrado;
quem não gostar, feche os olhos.
Assumiu o direito de posar nua, estrelar filmes
pornôs, participar do Miss Bumbum, do Garota Popozuda, do Mulher Melancia e de
fazer o que mais lhe desse na cuca. Quebrou paradigmas e passou a ousar no modo
de vestir e de agir.
Já que liberou geral, todo mundo se sentiu em
condições de dar pitaco no comportamento da mulherada. O que antes era motivo
de recato e privilégio de poucos, caiu no domínio popular.
Aproveitando a deixa, o ator Antonio Fagundes
resolveu turbinar a antologia “bundista”. Com a autoridade de um sessentão que
surfa na fama de mulherengo, entende que as mulheres não deveriam colocar
silicone nos seios. “O homem brasileiro não gosta de peito. A gente gosta de
bunda”, disse ele em entrevista à revista “Quem” (julho/2012).
A grande maioria concordou, como era esperado.
Afinal, a anatomia glútea feminina é idolatrada, desde quando Eva agitou o
Paraíso, com o primeiro rebolado.
No
Brasil, sob o nome de nádegas, traseiro, fundilhos, bumbum e outros vocábulos,
tem sido cantada em verso e prosa.
Chegou a ponto de ser homenageada pelo genial Oscar Niemeyer, que, no projeto
do arco do Sambódromo carioca, se inspirou numa bunda com biquíni e fio dental.
Não é
fácil, porém, escolher entre pomos e calipígio. Ambos são extremamente
atraentes, e o que vale é o conjunto da obra. Mas, para prestigiar Fagundes, e
lembrando o célebre Nelson Rodrigues, "se um dia a vida lhe der as costas,
passe a mão na bunda dela”. Com todo respeito!
Revista “Mais
Mais PERFIL Mulher”
Edição de
dezembro/2012