Nos locais onde tufões, furacões e
vendavais são frequentes, autoridades e moradores possuem toda uma estratégia
de defesa e proteção.
Com a possível antecedência, procuram mapear o itinerário dos ciclones,
calcular a intensidade dos ventos e o tempo provável de sua duração, afora
outros cuidados.
Na hora “H”, entretanto, muitos ignoram outras orientações, e preferem ficar em
casa, fechando portas e janelas, até que o fenômeno se desfaça. Atitude própria
de veteranos de outras refregas, sabedores de que as tormentas, por mais
ameaçadoras que se anunciem, acabam perdendo forças, e com o tempo se
dispersam. Só depois eles se preocupam com os estragos e os consertos
necessários. E o fazem sem reclamar, conformados com as perdas e agradecidos
por terem sido poupados de piores castigos.
Teria sido essa a tática do governo, diante dos protestos do último domingo.
Revoltado
com a calamitosa situação do país, o povo voltou às ruas. Dessa vez não apenas
para mostrar indignação, mas para exigir o “impeachment”, a cassação ou a
renúncia da presidente Dilma Rousseff. Reclamava também o banimento de Lula,
sem esconder absoluta rejeição ao PT.Reverências só ao juiz Sérgio Moro,
aclamado como grande herói e justiceiro nacional.
Percebendo
o “tempo fechado”, os governantes optaram por se resguardar.
A
presidente Dilma trancou-se no Palácio da Alvorada, onde, segundo dizem, deu
ordens para não ser incomodada, enquanto a manifestação estivesse no ar.
Suspendeu as tradicionais pedaladas e disse que não atenderia chamadas
telefônicas, nem mesmo as do nutricionista ou de seu “personal trainer”.
O
conselheiro Lula e os integrantes da tropa de choque presidencial também se
esconderam. Cada qual no seu cantinho.
Encerrado o movimento, ninguém
entendia o jeito humilde, resignado e civilizado com que o governo digeriu os
protestos.
Quem
apostou numa enérgica e contundente reação, se espantou com as palavras do
ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, o primeiro a tentar minimizar a
repercussão dos fatos. Segundo ele, o Palácio do Planalto encarou os protestos
como fatos naturais de um regime popular e avaliou que eles ficaram “dentro da
normalidade democrática”. Só faltou insinuar que os palavrões, xingamentos e
gritos de ordem pelo “impeachment” não passaram de carinhosa manifestação de
apareço e agradecimento ao governo.
Bem verdade que nem todos analisaram dessa forma.
O líder do governo na Câmara,
deputado José Guimarães (PT-CE), entendeu que “este espírito de intolerância é
manipulado em parte pela oposição, que semeia o ódio, um antídoto da
democracia, formada e construída nas lutas pelas Diretas Já e contra o regime
militar”.
Mais
“light”, a presidente Dilma, optou por dizer que “valeu a pena lutar pela
democracia” e que o país “está mais forte”. Aproveitou para afirmar sua
disposição de conversar e ouvir “com humildade”, mas sem abdicar de suas
convicções.
A
tática do governo para “administrar” crises tem sido, no primeiro momento,
evitar o confronto, absorver o impacto, amortecê-lo e, se possível, transformar
o limão em limonada, dando uma de solidário com os reclamos do povo. Depois,
tentar reverter a bronca, em desfavor do adversário.
Até
agora, logrou êxito. Tanto é que, só neste ano, entre outras turbulências,
enfrentou três grandes protestos populares, e permanece de pé.
Essa sustentação, entretanto,
tem exigido frequentes declarações de acatamento à vontade das massas.
Ainda
referindo-se ao último protesto, a Presidente afirmou que “nas democracias, nós
respeitamos as urnas, respeitamos as ruas”.
O
problema é que as ruas estão gritando “fora Dilma”, “fora Lula” e “fora PT”.
Haja
equilíbrio e habilidade pra se segurar!
- Diário do Rio Doce
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