domingo, 23 de agosto de 2015

NA CORDA BAMBA

                Nos locais onde tufões, furacões e vendavais são frequentes, autoridades e moradores possuem toda uma estratégia de defesa e proteção. 
            Com a possível antecedência, procuram mapear o itinerário dos ciclones, calcular a intensidade dos ventos e o tempo provável de sua duração, afora outros cuidados.
            Na hora “H”, entretanto, muitos ignoram outras orientações, e preferem ficar em casa, fechando portas e janelas, até que o fenômeno se desfaça. Atitude própria de veteranos de outras refregas, sabedores de que as tormentas, por mais ameaçadoras que se anunciem, acabam perdendo forças, e com o tempo se dispersam. Só depois eles se preocupam com os estragos e os consertos necessários. E o fazem sem reclamar, conformados com as perdas e agradecidos por terem sido poupados de piores castigos.
            Teria sido essa a tática do governo, diante dos protestos do último domingo.
Revoltado com a calamitosa situação do país, o povo voltou às ruas. Dessa vez não apenas para mostrar indignação, mas para exigir o “impeachment”, a cassação ou a renúncia da presidente Dilma Rousseff. Reclamava também o banimento de Lula, sem esconder absoluta rejeição ao PT.Reverências só ao juiz Sérgio Moro, aclamado como grande herói e justiceiro nacional.
Percebendo o “tempo fechado”, os governantes optaram por se resguardar.
A presidente Dilma trancou-se no Palácio da Alvorada, onde, segundo dizem, deu ordens para não ser incomodada, enquanto a manifestação estivesse no ar. Suspendeu as tradicionais pedaladas e disse que não atenderia chamadas telefônicas, nem mesmo as do nutricionista ou de seu “personal trainer”.
O conselheiro Lula e os integrantes da tropa de choque presidencial também se esconderam. Cada qual no seu cantinho.
Encerrado o movimento, ninguém entendia o jeito humilde, resignado e civilizado com que o governo digeriu os protestos.
Quem apostou numa enérgica e contundente reação, se espantou com as palavras do ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, o primeiro a tentar minimizar a repercussão dos fatos. Segundo ele, o Palácio do Planalto encarou os protestos como fatos naturais de um regime popular e avaliou que eles ficaram “dentro da normalidade democrática”. Só faltou insinuar que os palavrões, xingamentos e gritos de ordem pelo “impeachment” não passaram de carinhosa manifestação de apareço e agradecimento ao governo.
            Bem verdade que nem todos analisaram dessa forma.
          O líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), entendeu que “este espírito de intolerância é manipulado em parte pela oposição, que semeia o ódio, um antídoto da democracia, formada e construída nas lutas pelas Diretas Já e contra o regime militar”.
Mais “light”, a presidente Dilma, optou por dizer que “valeu a pena lutar pela democracia” e que o país “está mais forte”. Aproveitou para afirmar sua disposição de conversar e ouvir “com humildade”, mas sem abdicar de suas convicções.
A tática do governo para “administrar” crises tem sido, no primeiro momento, evitar o confronto, absorver o impacto, amortecê-lo e, se possível, transformar o limão em limonada, dando uma de solidário com os reclamos do povo. Depois, tentar reverter a bronca, em desfavor do adversário.
Até agora, logrou êxito. Tanto é que, só neste ano, entre outras turbulências, enfrentou três grandes protestos populares, e permanece de pé.
        Essa sustentação, entretanto, tem exigido frequentes declarações de acatamento à vontade das massas.
Ainda referindo-se ao último protesto, a Presidente afirmou que “nas democracias, nós respeitamos as urnas, respeitamos as ruas”.
O problema é que as ruas estão gritando “fora Dilma”, “fora Lula” e “fora PT”.

Haja equilíbrio e habilidade pra se segurar!

- Diário do Rio Doce 
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