Teria
sido a gota d’água que faltava para “entornar o caldo”. Mas, quando a nascente
do Rio São Francisco secou, nem mesmo esse pingo remanesceu, para simbolizar a
gravidade da situação.
O inédito fenômeno pode
ainda não representar séria ameaça ao Velho Chico, pois outros rios e riachos o
abastecem. Contudo, segundo o analista ambiental Vicente de Paulo Faria, "ele simboliza que a mudança
climática é um fato, e que a gente tem que se preocupar com isso, os governos
têm que se preocupar com isso”.
E não se trata de caso isolado. Em mais regiões do país,
mananciais agonizam, sob a ação insana e deletéria do homem. O grande exemplo
está em São Paulo. Na terra dos bandeirantes, após muitos anos de poluição, o famoso
Rio Tietê tornou-se um megaesgoto a céu aberto. Como consequência, o sistema Cantareira,
que abastece a capital e vários outros municípios paulistanos, está à beira do colapso.
Nesta região, o Rio Doce está assustadoramente abaixo do
nível desejável. Segundo a Companhia de Pesquisas em Recursos Minerais (CPRM), trata-se
de uma das piores secas sofridas nos últimos 70 anos. As comunidades ribeirinhas
vêm sendo severamente castigadas.
Em Valadares, o problema se faz sentir na sua plenitude.
Já há registro de desabastecimento na periferia e em outros pontos, inclusive
na área central.
O Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) diz estar
adotando todas as providências ao seu alcance, para garantir o fornecimento. A
situação, porém, é preocupante.
A escassez de água é natural em qualquer localidade.
Muitos fatores contribuem para que ocorra. Entre eles, a falta de chuvas, o
aumento do consumo provocado pelo crescimento demográfico, e o desperdício.
Os dois primeiros são incontroláveis, mas o último pode
ser eliminado, com ajuda do povo e rigorosa fiscalização por parte do poder
público.
É o que precisa acontecer em Valadares, na intensidade
que a circunstância exige.
Basta uma ligeira caminhada pela
cidade, para constatar a indiferença de certas pessoas, empresas e até órgãos
públicos. Nem todos estão levando a sério o risco de falência do sistema.
Não é raro encontrar alguém
desperdiçando preciosos litros d’água. O desrespeito é maior nas áreas centrais.
É onde os mais abastados insistem em pródigas limpezas de passeios, irrigações
de plantas e jardins, lavagens de veículos e outras práticas que chegam a
afrontar à comunidade. Nesse rol estão condomínios,
postos de combustíveis, lava-jatos, colégios (inclusive oficiais), mansões,
casas e outros locais onde o líquido segue jorrando como se houvesse enchente.
Mesmo
sendo o Brasil um país privilegiado em termos de disponibilidade de água, a
preservação desse recurso natural deve ser motivo de constante preocupação.
Quando nada, em respeito aos muitos povos e regiões que dele carecem.
O
Velho Chico, o Rio Doce e tantos outros cursos d’água sofrem agressões que não
conseguem reprimir de pronto. Não lhes faltam, entretanto, meios de reagir. E a
reação é como o implacável castigo Divino:
tarda, mas não falha. A prova está visível!
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