domingo, 16 de novembro de 2014

NÃO ERA BEM ISSO ...

            Primeiro, foi aquele tsunami eleitoral, uma baixaria de alto nível, em que honra e dignidade eram inatacáveis, exceto as do adversário.
            Passada a votação e proclamado o resultado, chegou o momento do rescaldo, de remover os escombros, juntar os cacos remanescentes e partir para a reconstrução.
            Mas a tarefa não está sendo nada fácil. Pelo contrário, parece que a contenda ainda não terminou. As rusgas seguem acontecendo, inclusive entre aliados.
            Além disso, nota-se uma total reviravolta entre o que foi falado e prometido durante campanha e o que se pratica no pós-eleitoral.  O país está sob a égide do “dito pelo não dito”.
            Do lado da oposição, Aécio Neves retornou ao Congresso Nacional não como derrotado, mas como o “vitorioso” segundo colocado. Fez pose de vice-campeão, posição honrosamente conquistada num Segundo Turno dos mais concorridos. Isso sem falar nas manobras arriscadas e nas heroicas ultrapassagens que realizou sobre Marina Silva, na primeira parte da “corrida”, com a decisiva ajuda espiritual de Eduardo Campos.
            Por falar no neto de Miguel Arraes, justo seria que as Eleições 2014 entrassem para a história com o seu nome. Foi ele que, alijado da contenda por um acidente fatal, acabou sendo o grande responsável por transformá-la na disputa mais acirrada de todos os tempos. Ainda bem que outro neto, o de Tancredo Neves, restou para agitar a festa.
            Acusado de não descer do palanque, Aécio proferiu no Senado um tão eloquente e moderno discurso, que fez lembrar o seu avô. Entre outras afirmações, disse que qualquer papo com o governo “será condicionado ao aprofundamento das investigações e a exemplares punições daqueles que protagonizaram o maior escândalo de corrupção do país, o petrolão”. Pelo visto, não combinou com seu partido. Logo de cara, o PSDB teria participado de um acordo para evitar que certos políticos fossem convocados pela CPI da Petrobras, entre eles Dilma, Lula, Palocci e o próprio Aécio. Desmentidos foram feitos, sob a mesma credibilidade de uma nota de três dólares.
            Tudo indica que a pretensão do tucano é mesmo permanecer na vitrine, já pensando em 2018. Só falta Zé Serra concordar!
            Quanto a Dilma, além de descer, ela virou o palanque de cabeça pra baixo, jogando por terra as promessas de campanha. Assim que sua vitória foi proclamada, seu discurso mudou de tom e de rumo.
            Pra começar, bradou que não representa o PT, mas a Presidência da República.
            Sempre amável, prometeu amplo diálogo com todos os possuidores de bom ouvido.  Também anunciou incontido desejo de negociar com quaisquer partidos que tenham muito a dar e pouco a pedir.
            No primeiro sinal de que a coisa está ruim, mas pode piorar, o BACEN elevou a taxa básica de juros, a famosa Selic, para 11,25%, a mais alta desde 2011. Os bancos ficaram gratos.
            Evitando que o povo se sentisse preterido, a Petrobrás aumentou o preço dos combustíveis, enquanto falava-se que as tarifas de eletricidade, que em 2014 já subiram 15%, sofrerão novo reajuste no próximo ano.
            Essas seriam apenas amostras do que está guardado na caixinha de maldades a ser aberta no próximo mandato.
Segundo fontes mais chegadas ao Planalto, o pacote econômico reservado para 2015 já tem o sugestivo nome de “Sangue, Suor e Lágrimas”, em homenagem aos que continuam acreditando em mula sem cabeça. E não são poucos!

- Jornal de Domingo
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