Primeiro,
foi aquele tsunami eleitoral, uma baixaria de alto nível, em que honra e
dignidade eram inatacáveis, exceto as do adversário.
Passada
a votação e proclamado o resultado, chegou o momento do rescaldo, de remover os
escombros, juntar os cacos remanescentes e partir para a reconstrução.
Mas
a tarefa não está sendo nada fácil. Pelo contrário, parece que a contenda ainda
não terminou. As rusgas seguem acontecendo, inclusive entre aliados.
Além
disso, nota-se uma total reviravolta entre o que foi falado e prometido durante
campanha e o que se pratica no pós-eleitoral.
O país está sob a égide do “dito pelo não dito”.
Do
lado da oposição, Aécio Neves retornou ao Congresso Nacional não como
derrotado, mas como o “vitorioso” segundo colocado. Fez pose de vice-campeão,
posição honrosamente conquistada num Segundo Turno dos mais concorridos. Isso
sem falar nas manobras arriscadas e nas heroicas ultrapassagens que realizou
sobre Marina Silva, na primeira parte da “corrida”, com a decisiva ajuda
espiritual de Eduardo Campos.
Por
falar no neto de Miguel Arraes, justo seria que as Eleições 2014 entrassem para
a história com o seu nome. Foi ele que, alijado da contenda por um acidente
fatal, acabou sendo o grande responsável por transformá-la na disputa mais
acirrada de todos os tempos. Ainda bem que outro neto, o de Tancredo Neves,
restou para agitar a festa.
Acusado
de não descer do palanque, Aécio proferiu no Senado um tão eloquente e moderno
discurso, que fez lembrar o seu avô. Entre outras afirmações, disse que
qualquer papo com o governo “será condicionado ao aprofundamento das
investigações e a exemplares punições daqueles que protagonizaram o maior
escândalo de corrupção do país, o petrolão”. Pelo visto, não combinou com seu
partido. Logo de cara, o PSDB teria participado de um acordo para evitar que certos
políticos fossem convocados pela CPI da Petrobras, entre eles Dilma, Lula, Palocci
e o próprio Aécio. Desmentidos foram feitos, sob a mesma credibilidade de uma
nota de três dólares.
Tudo
indica que a pretensão do tucano é mesmo permanecer na vitrine, já pensando em
2018. Só falta Zé Serra concordar!
Quanto
a Dilma, além de descer, ela virou o palanque de cabeça pra baixo, jogando por
terra as promessas de campanha. Assim que sua vitória foi proclamada, seu
discurso mudou de tom e de rumo.
Pra
começar, bradou que não representa o PT, mas a Presidência da República.
Sempre
amável, prometeu amplo diálogo com todos os possuidores de bom ouvido. Também anunciou incontido desejo de negociar
com quaisquer partidos que tenham muito a dar e pouco a pedir.
No
primeiro sinal de que a coisa está ruim, mas pode piorar, o BACEN elevou a taxa
básica de juros, a famosa Selic, para 11,25%, a mais alta desde 2011. Os bancos
ficaram gratos.
Evitando
que o povo se sentisse preterido, a Petrobrás aumentou o preço dos
combustíveis, enquanto falava-se que as tarifas de eletricidade, que em 2014 já
subiram 15%, sofrerão novo reajuste no próximo ano.
Essas seriam apenas amostras do que está guardado na caixinha de maldades
a ser aberta no próximo mandato.
Segundo fontes mais
chegadas ao Planalto, o pacote econômico reservado para 2015 já tem o
sugestivo nome de “Sangue, Suor e Lágrimas”, em homenagem aos que continuam
acreditando em mula sem cabeça. E não são poucos!
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