sábado, 10 de maio de 2014

O SABOR DA CONQUISTA

            A mídia local não se cansa de ressaltar a importância do segmento educação, para o desenvolvimento sustentável de Valadares. Extensas reportagens têm mostrado, com riqueza de detalhes, a origem, as características e a importância das faculdades, universidades e outros educandários que fazem da cidade uma referência em termos de ensino.
             Sob essa ótica, entretanto, o leque é mais amplo.
            O setor saúde, por exemplo, computadas as ações médicas, odontológicas, hospitalares e afins, é outro que contribui de forma significativa para o prestígio e a sustentação da economia local. Afora os recursos da rede pública, dispomos de hospitais, clínicas, institutos e profissionais da melhor qualidade. Fatores que dão tranquilidade e conforto à população, atraem usuários de fora, gerando impostos e, principalmente, muitos empregos.
            Não menos importantes têm sido as realizações que fazem parte do calendário de eventos da cidade. Destaque para a Expoagro e a Expoleste, fundamentais para a divulgação dos produtos da terra, o intercâmbio comercial e a troca de experiências com empresários de outras regiões.
            Sem esquecer as datas festivas, a já tradicional Festa da Fantasia, as jornadas desportivas, os campeonatos de voo livre, as feiras, os eventos religiosos e outros acontecimentos, mesmo os de menor porte. Todos contribuem para aquecer as vendas do comércio, a utilização da rede hoteleira e as atividades ambulantes, elevando a receita municipal.
            Mas, se é pra enaltecer, nada mais justo que direcionar  aplausos para o Gevê Folia. O carnaval fora de época que há vários anos aqui acontece,  sempre com renovado êxito. Aliás, se todos os projetos locais fossem precedidos de semelhante planejamento e conduzidos com o mesmo zelo, igual competência e idêntico profissionalismo, Valadares seria campeã de sucessos.
            Na sua 19ª edição, acontecida no primeiro final de semana deste maio, nada saiu dos trilhos, como de praxe. Foram dois dias de festa, alegria e vibração, para um enorme público. Mega-atrações musicais, perfeita organização, horários, segurança, serviços, tudo conforme programado. Nenhuma decepção. Promotores, foliões, comunidade, todos ficaram satisfeitos e lucraram com o evento. Já começam a acumular energias para o próximo.
            É a forma como Valadares avança no tempo, suprindo suas carências e curtindo o sabor de cada conquista.  Resultado do louvável esforço de uma comunidade que não se acomoda, nem se rende às dificuldades. Pelo contrário, encara os desafios, utilizando seus próprios recursos, mas aberta a ajudas e boas parcerias. E é bola pra frente, porque a Copa vem aí, trazendo mais agitação! 

- Jornal de Domingo                     

 

 

domingo, 4 de maio de 2014

SABEDORIA DE RACHEL

             Por muitos anos, a cearense Rachel de Queiroz (1910-2003) deteve o cetro de grande dama da imprensa brasileira, escrevendo crônicas para a revista semanal “O Cruzeiro”, uma das mais importantes de seu tempo. Isso sem falar no prestígio que desfrutava como romancista, tradutora e teatróloga, primeira mulher a ter assento na Academia Brasileira de Letras.
            Em “Votar”, memorável artigo publicado na “O Cruzeiro” de janeiro/1947, ela ministrou verdadeira aula aos eleitores brasileiros.
            Começou realçando a importância da expressão “governo do povo”, que deve ser tomada no seu sentido mais literal, “porque, numa democracia, o ato de votar representa o ato de fazer o governo”.
            Na sequência, advertiu que “pelo voto não se serve a um amigo, não se combate um inimigo, não se presta ato de obediência a um chefe, não se satisfaz uma simpatia. Pelo voto a gente escolhe, de maneira definitiva e irrecorrível, o indivíduo ou grupo de indivíduos que nos vão governar por determinado prazo de tempo”.
            Em linguagem simples e didática, apontou quem são os escolhidos através do voto, alertando para os poderes de que eles se investirão.
            Lembrou “aqueles que nos vão cobrar impostos e, pior, aqueles que irão estipular a quantidade desses impostos”. E complementou: “Vejam como é grave a escolha desses cobradores. Uma vez lá em cima podem nos arrastar à penúria, nos chupar a última gota de sangue do corpo, nos arrancar o último vintém do bolso”.
            Noutra reflexão, fez ver que “pelo voto escolhem-se não só aqueles que vão receber, guardar e gerir a fazenda pública, mas também aqueles que vão ‘fabricar’ o dinheiro”. Considerou ser essa uma das missões mais delicadas que os votantes confiam aos seus escolhidos, “pois, se a função emissora cai em mãos desonestas, é o mesmo que ficar o país entregue a uma quadrilha de falsários. Eles desandam a emitir, sem conta nem limite, o dinheiro se multiplica tanto que vira papel sujo, e o que ontem valia mil, hoje não vale mais (que) zero”.
            Sob esses e outros exemplos, sugeriu que “quando vocês forem levianamente levar um voto para o Sr. Fulaninho que lhes fez um favor, ou para o Sr. Sicrano que tem tanta vontade de ser governador, coitadinho, ou para Beltrano que, tão amável, parou o automóvel, lhes deu uma carona e depois solicitou o seu sufrágio – lembrem-se de que não vão proporcionar a esses sujeitos um simples emprego bem remunerado. Vão lhes entregar um poder enorme e temeroso; vão fazê-los reis; vão lhes dar soldados para eles comandarem – e soldados são homens cuja principal virtude é a cega obediência às ordens dos chefes que lhes dá o povo”.
            Por isso, Rachel aconselha aos votantes: “Escolham com calma, pesem e meçam os candidatos, com muito mais paciência e desconfiança do que se estivessem escolhendo uma noiva. Porque, afinal, a mulher, quando é ruim, dá-se uma surra, devolve-se ao pai, pede-se desquite. E o governo, quando é ruim, ele é que nos dá a surra, ele é que nos põe na rua, tira o último pedaço de pão da boca dos nossos filhos e nos faz apodrecer na cadeia”.
            A brilhante escritora arriscou uma sugestão final: “se você estiver comprometido a votar com alguém, se sofrer pressão de algum poderoso para sufragar este ou aquele candidato, não se preocupe. Não se prenda infantilmente a uma promessa arrancada à sua pobreza, à sua dependência ou à sua timidez. Lembre-se de que o voto é secreto”.
            E arrematou: “Se o obrigam a prometer, prometa. Se tem medo de dizer não, diga sim. O crime não é seu, mas de quem tenta violar a sua livre escolha. Se, do lado de fora da seção eleitoral, você depende e tem medo, não se esqueça de que dentro da cabine indevassável você é um homem livre. Falte com a palavra dada à força, e escute apenas a sua consciência. Palavras o vento leva, mas a consciência não muda nunca, acompanha a gente até o inferno”.
            O texto foi escrito há 67 anos, mas a sabedoria de Rachel é duradoura; vale pra qualquer época!
 
- Jornal de Domingo
- Diário do Rio Doce