A
crônica dos enlaces matrimoniais é recheada de episódios inusitados. Alguns bem
humorados e interessantes, sempre lembrados com alegria e satisfação. Outros decepcionantes,
desastrosos, premeditados por gente mal-intencionada, entram para o rol das
tristes recordações que todos tentam apagar.
Para
os principais personagens, o casamento é o evento “top” de suas vidas. Por isso,
não medem esforços para que tudo seja o melhor possível (e impossível!). O
envolvimento costuma ser tanto, que eles nem se dão conta de que estão
promovendo um evento, que, como tal, está sujeito a “eventualidades”. E essas são
praticamente inevitáveis.
O
imprevisto mais comum é aquele em que, na hora “H”, um dos nubentes “pipoca”,
deixando o outro a ver navios, no pé do altar. Mas não faltam celebrantes que
se esquecem da cerimônia e vão rezar em outra paróquia; apagões que se iniciam no momento em que a noiva está entrando na
igreja e duram até além da festa;
sem falar nos “ex-casos” que não raro se apresentam, tentando impedir o “sim”.
O
último baque para noivos e noivas teve como palco a cidade mais condizente com sua
natureza. Aconteceu em Brasília, onde, segundo as más línguas, as festas de
casamento só perdem, em quantidade, para as celebrações extraconjugais. E as
vítimas nada têm a ver com a elite da “Bolsa Família”. São humildes integrantes
da classe média alta que, incautas, caíram no conto do vigário de um modesto
mas competente trambiqueiro. Cheio de boas intenções, ele aplicou um calote que
vai além de R$ 1,4 milhão, em dezenas de noivas contratantes de seus serviços. Muitas
delas com bodas em vias de acontecer.
O
“gente fina” é Chrisanto Lopes Netto Galvão, dono de uma das mais requisitadas
empresas de decoração de eventos da Capital Federal.
Ele foi até atencioso.
Através de e-mail, informou à sua vasta clientela que, devido a problemas
financeiros, não poderia cumprir os compromissos assumidos. Acrescentou que estava sob sofrimento
psicológico e pediu desculpas por “comprometer o sonho das noivas”. Isso depois
de se submeter aos cuidados de um salão de beleza, fazer as malas e se mandar
para Paris, com o propósito de curtir depressão, às margens do Sena, no
aconchego de Pigalle, contemplando a Torre Eiffel. Enquanto isso, suas vítimas,
financeira e emocionalmente abaladas, estão se segurando na base do Lexotan e
de outros tranquilizantes, sem saber como agir.
O
golpe foi manchete nos principais jornais brasilienses, e mereceu destaque nos
meios de comunicação nacional. O episódio repercutiu mais do que os
desdobramentos da Operação Lava-Jato e as maldades com que, nos últimos dias, os
trabalhadores e aposentados do país foram “premiados” pelo governo petista, com
as bênçãos do Congresso Nacional.
Indiciado
por estelionato, o malandro teve pedida sua prisão preventiva, e corre o risco
de tornar-se objeto de desejo da Interpol.
Mas
o caso pode ser equacionado antes do que se pensa. A boca miúda, espirituosos gozadoress
têm espalhado que Netto Galvão, fiel à tendência da temporada, estaria disposto
a abrir o jogo, em uma delação premiada que tenta negociar. Logrando êxito, revelaria
que tudo não passou de complô com alguns noivos interessados em “vazar” do
compromisso.
E esse plano ia bem,
até que uma desconfiada noiva, metida a detetive, acabou descobrindo, também, que
seu futuro cônjuge estava comprometido com dois eventos do gênero. Um dos quais
não era com ela. Como de hábito, ninguém sabe, ninguém viu. Mas dizem que o pau
quebrou. Coisa de mulher!
Diário do Rio Doce