domingo, 17 de maio de 2015

NOIVAS DA CORTE

            A crônica dos enlaces matrimoniais é recheada de episódios inusitados. Alguns bem humorados e interessantes, sempre lembrados com alegria e satisfação. Outros decepcionantes, desastrosos, premeditados por gente mal-intencionada, entram para o rol das tristes recordações que todos tentam apagar.
            Para os principais personagens, o casamento é o evento “top” de suas vidas. Por isso, não medem esforços para que tudo seja o melhor possível (e impossível!). O envolvimento costuma ser tanto, que eles nem se dão conta de que estão promovendo um evento, que, como tal, está sujeito a “eventualidades”. E essas são praticamente inevitáveis.
            O imprevisto mais comum é aquele em que, na hora “H”, um dos nubentes “pipoca”, deixando o outro a ver navios, no pé do altar. Mas não faltam celebrantes que se esquecem da cerimônia e vão rezar em outra paróquia; apagões que se iniciam no momento em que a noiva está entrando na igreja e duram até além da festa; sem falar nos “ex-casos” que não raro se apresentam, tentando impedir o “sim”.
            O último baque para noivos e noivas teve como palco a cidade mais condizente com sua natureza. Aconteceu em Brasília, onde, segundo as más línguas, as festas de casamento só perdem, em quantidade, para as celebrações extraconjugais. E as vítimas nada têm a ver com a elite da “Bolsa Família”. São humildes integrantes da classe média alta que, incautas, caíram no conto do vigário de um modesto mas competente trambiqueiro. Cheio de boas intenções, ele aplicou um calote que vai além de R$ 1,4 milhão, em dezenas de noivas contratantes de seus serviços. Muitas delas com bodas em vias de acontecer.
            O “gente fina” é Chrisanto Lopes Netto Galvão, dono de uma das mais requisitadas empresas de decoração de eventos da Capital Federal.
Ele foi até atencioso. Através de e-mail, informou à sua vasta clientela que, devido a problemas financeiros, não poderia cumprir os compromissos assumidos.  Acrescentou que estava sob sofrimento psicológico e pediu desculpas por “comprometer o sonho das noivas”. Isso depois de se submeter aos cuidados de um salão de beleza, fazer as malas e se mandar para Paris, com o propósito de curtir depressão, às margens do Sena, no aconchego de Pigalle, contemplando a Torre Eiffel. Enquanto isso, suas vítimas, financeira e emocionalmente abaladas, estão se segurando na base do Lexotan e de outros tranquilizantes, sem saber como agir.
            O golpe foi manchete nos principais jornais brasilienses, e mereceu destaque nos meios de comunicação nacional. O episódio repercutiu mais do que os desdobramentos da Operação Lava-Jato e as maldades com que, nos últimos dias, os trabalhadores e aposentados do país foram “premiados” pelo governo petista, com as bênçãos do Congresso Nacional.
            Indiciado por estelionato, o malandro teve pedida sua prisão preventiva, e corre o risco de tornar-se objeto de desejo da Interpol.
            Mas o caso pode ser equacionado antes do que se pensa. A boca miúda, espirituosos gozadoress têm espalhado que Netto Galvão, fiel à tendência da temporada, estaria disposto a abrir o jogo, em uma delação premiada que tenta negociar. Logrando êxito, revelaria que tudo não passou de complô com alguns noivos interessados em “vazar” do compromisso.

E esse plano ia bem, até que uma desconfiada noiva, metida a detetive, acabou descobrindo, também, que seu futuro cônjuge estava comprometido com dois eventos do gênero. Um dos quais não era com ela. Como de hábito, ninguém sabe, ninguém viu. Mas dizem que o pau quebrou. Coisa de mulher! 

Diário do Rio Doce