sábado, 28 de abril de 2012

A FESTA CONTINUA

            Tornou-se repetitivo, maçante, mas não resta opção: o assunto segue girando em torno do escândalo Carlinhos Cachoeira.
            A mídia até tenta desviar as atenções para outros episódios, como a troca de chumbo entre Joaquim Barbosa e Cesar Peluso, ministros do Supremo Tribunal Federal. Coisa de colocar no chinelo qualquer baixaria entre casal de gafieira. Mas nem o barraco aprontado na mais alta Corte do país conseguiu roubar a cena.
            Quando não se fala no bicheiro, o foco vai para políticos, empresários e outros ilibados espertalhões que praticavam “bungee jump” na Cachoeira. E como as denúncias vêm sendo divulgadas em doses homeopáticas, no ritmo de novela, a cada dia surgem novas bombas; a festa continua.
O último grande acontecimento relacionado com a história foi a instalação da CPI mista através da qual o Congresso Nacional espera colocar tudo em pratos limpos, se é que ainda há pratos inteiros.
Depois de muitas firulas, a Comissão está formada por deputados e senadores das mais diversas siglas, a maioria governista, inclusive o Presidente e o Relator.
Desacreditadas pelos resultados inócuos de seus últimos trabalhos, as comissões parlamentares de inquérito têm outra chance mostrar a capacidade saneadora que lhes é atribuída. A oportunidade ímpar de firmar-se como meio do qual o Parlamento se utiliza para corresponder às expectativas de seriedade que lhe são depositadas.
Forças contrárias certamente existirão, como não faltará quem queira transformar a CPI em instrumento de retaliação ou em palanque eleitoral.
Também não há dúvida de que os trabalhos percorrerão uma estrada desconhecida e sinuosa, onde poderão tombar políticos de ambos os lados. Importante, pois, que o barco seja levado com total imparcialidade, sem proteção aos aliados ou desamparo aos adversários.
Nesse clima de incertezas, onde nenhum agente público ou privado está seguro de que não será envolvido, surge um intransigente defensor do sigilo dos fatos, para que não sejam bisbilhotados pelos meios de comunicação e alguns de seus “rabiscadores”. Segundo ele “é preciso não deixar que o colegiado se torne instância fadada a servir de mero palco para a vileza política e um campo fértil de desrespeito aos mais elementares direitos constitucionais dos homens públicos ou de qualquer cidadão brasileiro. Muito menos permitir que, em plena democracia, a comissão transforme-se em um autêntico tribunal de exceção”. Completou dizendo que a Constituição dá aos membros da CPI poderes para investigação, mas que eles não podem se tornar “inquisidores definitivos”. No melhor estilo “Hay que endurecer, pero sin perder la ternura jamás” defendido por Che Guevara?
O precioso discurso é do senador Fernando Collor de Melo, um dos dezesseis senadores titulares da CPI. Aquele que, anos atrás, foi apeado da presidência da República, por corrupção. Só o tempo dirá se sua retórica é sincera. Mas há quem já duvide.