Por Etelmar Loureiro
- Diário do Rio Doce – 06.06.2019
As cidades possuem
marcas e marcos indeléveis. Épocas, locais, acontecimentos e pessoas que
mergulham no túnel do tempo, mas nunca são deletadas da memória popular. Os calendários
se sucedem, os costumes variam, o panorama se transforma, mas a lembrança
permanece. É o caso do samba, definitivamente incorporado ao sentimento
carioca; da garoa, que é parte da paisagem paulista; do pão de queijo, um dos
símbolos mineiros; do bumba meu boi, expressão maior do nosso folclore popular;
do réveillon em Copacabana, tido como a grande celebração de passagem de ano no
Brasil; da Lavagem do Bonfim, tradicional festa baiana, que em Salvador se
repete todo mês de janeiro, e tantos outros. .
Também Governador Valadares
possui reminiscências e emblemas culturais.
De início, o principal
ponto de concentração pública da cidade teria sido a Rua Prudente de Morais,
passarela que acolheu empreendimentos pioneiros e por onde desfilaram os
primeiros colunáveis da sociedade local.
Com o passar dos
anos, outros ambientes surgiram e foram palcos de histórias
memoráveis.
Os charmosos bailes,
os grandes carnavais e as vesperais estudantis do Ilusão e do Minas Clube, o
“footing” da Praça Serra Lima, as sessões do majestoso Cine Palácio, os embalos
da luxuosa Boate Groove e do frenético Paiol 120, e até (ou sobretudo) uma romântica
e atraente zona boêmia são hoje gratas recordações de um período esplendoroso.
No final dos anos 1940,
e em boa parte da década de 1950, as quermesses da Catedral de Santo Antônio já
se faziam importantes, e aconteciam sempre em maio, que no catolicismo é o Mês de
Maria.
Naquele tempo, o
morro da igreja católica era precariamente iluminado, carente de urbanização e
paisagismo. Mas ficava repleto de fiéis que iam assistir à coroação de Nossa
Senhora, encenada por inúmeras meninas vestidas de anjos, em um imponente altar
erguido à frente da matriz. Ao final, a cerimônia era saudada com foguetes e
modestos fogos de artifício, quase sempre ao som de uma banda musical.
Seguia-se o leilão comandado pelo insubstituível “Sô” Alfredo (Fabri), de
saudosa memória. A organização ficava a cargo dos moradores de uma ou mais
ruas, “festeiros” que se sucediam no arranjo do local da coroação e na coleta
das prendas a serem leiloadas. À frente o dinâmico e benquisto padre João
Verbeck, então vigário paroquial.
Período
pródigo em simplicidade e confraternização, do qual restou um poço de boas
recordações.
Ainda bem que esses
hábitos e costumes foram preservados.
Os festejos se
tornaram tradição. Multiplicaram-se por várias paróquias, onde despertam
crescente interesse comunitário. Agora, mais estruturados, envolvem um universo
de abnegados e incansáveis colaboradores. Seus resultados, sempre positivos,
são repassados a inúmeras entidades beneficentes. Tudo sob um cuidadoso
planejamento, rigoroso controle e com absoluta transparência.
Para homenagear o
padroeiro da cidade, a quermesse da catedral foi remanejada para a primeira
trezena de junho. Como Festa de Santo Antônio, passou a ser anualmente promovida
de 1º a 13 de junho, no largo paroquial. Significa dizer que o evento está em
plena efervescência, reunindo jovens de todas as idades e de todas as tribos, sob
o mesmo padrão de qualidade que o consagrou como um dos maiores e mais festivos
ensejos de reunião da comunidade valadarense.
Continua sendo a
chance de reencontrar amigos, compartilhar momentos alegres, saborear deliciosas
comidas e concorrer a valiosos prêmios. Oportunidade para também harmonizar
sentimentos de religiosidade e de apoio ao próximo, engajando-se em uma
promoção sadia, voltada para o bem-estar das pessoas carentes. Imperdível!