Por Etelmar Loureiro
Diário do Rio Doce – 28.02.2019
Praieiros
contumazes, os valadarenses encontraram no litoral capixaba o ponto de partida
para desenvolver essa tendência. Em
meados do século passado, eles descobriram as belas praias capixabas, em
especial Guarapari, transformando-as no seu principal reduto de férias. Não era
fácil chegar até lá. A opção mais tranquila e segura era passar por Realeza. De
lá à beira-mar, havia outros incômodos 260 quilômetros, ou mais. Ainda não
existia a estrada que passa por Colatina. O trem da EFVM – agora Trem da Vale –
era uma alternativa, para a locomoção até Vitória. Mas pecava pela duração da
viagem e por oferecer apenas um giro diário, além de deixar o passageiro longe
do seu destino final. De qualquer forma, Guarapari, Marataízes, Nova Almeida,
Jacaraípe, Anchieta, Praia da Costa e adjacências reinaram absolutas, por
muitos anos, como sendo os xodós do pessoal de Valadares e de muitos outros
mineiros.
Com a ampliação da malha rodoviária e a disponibilidade
de meios de transporte mais seguros e modernos, apareceram várias alternativas.
No próprio Estado do Espirito Santo, novidades como Conceição da Barra e Guriri
logo conquistaram adeptos. As maiores novidades, entretanto, estavam no extremo
sul da Bahia, onde Nova Viçosa, Mucuri, Alcobaça e Prado, localidades
litorâneas antes ignoradas, se tornaram refúgio de verão de inúmeros
valadarenses.
Em 1973, tive a oportunidade de ser contemplado, com um
dos lotes que a Prefeitura Municipal de Nova Viçosa, com o intuito de atrair
gente para a localidade, estava ofertando, a título de doação. Como estava me mudando para Brasília, recusei.
Uns dez ou mais anos depois, a convite de um amigo, conheci a cidade, e tive a melhor impressão. Desde então, eu e
minha família temos passado as temporadas de verão na localidade. Não é nada,
não é nada, lá se foram mais de 30 anos.
E
como explicar esse comportamento? O que há de tão interessante, que justifique
abdicar da oportunidade de estar em Copacabana, Guarujá, Itaparica, Canoa
Quebrada, Porto de Galinhas, Guarajuba, ou outros litorais bem mais
desenvolvidos? A resposta não é fácil,
mas existe. Para quem gosta de modernidades, conforto e requinte, a opção não é
das melhores. É um local que ainda preserva muito primitivismo, se comparado com
grandes balneários. Possui uma estrutura capaz de atender às necessidades
básicas de consumo, incluindo um bom supermercado, várias mercearias, padarias
e farmácias, além de um comércio razoavelmente satisfatório, em termos de alimentos,
bebidas, roupas, móveis, utensílios, eletrodomésticos, materiais de construção e
outros artigos. Isso sem falar num enorme conjunto de quiosques praianos,
protegidos por coqueirais e frondosas castanheiras, todos de boa qualidade. Faltam,
entretanto, uma vida noturna intensa, shoppings, luxuosos restaurantes, cinemas,
teatros e outras atrações que “esquentam” os balneários famosos. Também deixa a
desejar a assistência médica, que está a cargo de uma insuficiente clínica
municipal e de alguns poucos médicos residentes, mas nem sempre conhecidos,
muito menos encontrados. Problemas que com certeza serão superados, à medida
que a cidade esteja em mãos de administradores competentes e comprometidos com os
seus interesses. O importante é que Nova Viçosa, com suas extensas e belas
praias, possui um carisma e uma magia que ninguém consegue explicar. Talvez isso
se deva ao fato de, com suas limitações, suas muitas ruas ainda não
pavimentadas, seu povo simples e hospitaleiro, o local permanecer como uma
privilegiada exceção nesse imenso litoral brasileiro, onde predominam a elite e
o poder do dinheiro. As deficiências
existem, mas são compensadas pela companhia de amigos valadarenses e inúmeros outros,
pelas águas “mornas” e ondas envolventes, por um céu estrelado e uma lua cheia que,
quando surge no céu, provoca emocionados suspiros. Predicados que fazem a diferença;
e como fazem!