sábado, 31 de dezembro de 2016

FELIZ ANO NOVO!
Para os céticos e insensíveis, a troca de calendário é um acontecimento trivial, numa data igual a tantas outras; nada de especial.
Uma enorme maioria, entretanto, formada por idealistas movidos a emoções, anseios e esperança, cada ano é um novo cenário que se descortina.
E a vastidão dos horizontes pertence aos que sabem, com perseverança, talento e otimismo, perseguir seus sonhos.
Aos familiares, amigos e todos aqueles com os quais temos a satisfação de conviver, eu e minha família desejamos que 2017 seja um incentivo na luta pela conquista de seus maiores anseios.


domingo, 6 de novembro de 2016

CIDADE DOS SONHOS

Texto para revista Mais Mais PERFIL de out/2016 

Por Etelmar Loureiro

            Nas eleições de 2012, Governador Valadares esteve prestes a se tornar a oitava cidade mineira a ter segundo turno. No apagar das luzes, entretanto, conforme o noticiário, a Justiça Eleitoral foi surpreendida por uma lista de valadarenses mortos, no Brasil e no exterior, cerca de 550 pessoas. Isso fez com que o número de eleitores, que já havia ultrapassado o piso, ficasse reduzido a pouco menos dos 200 mil exigidos para que houvesse o “returno”. Especula-se que tudo não passou de uma sorrateira e habilidosa manobra, ainda investigada pelo TRE.
Desta vez, não houve espaço para “surpresas”. Atendidas as exigências legais, o segundo turno estaria garantido em Valadares, se necessário fosse.
O valadarense, contudo, não se deixou seduzir por essa prerrogativa. Sem vacilo, preferiu liquidar a fatura no primeiro turno.
A chapa encabeçada por André Merlo (PSDB) obteve mais de 80% dos votos, derrotando, de forma acachapante, suas três concorrentes. Entre elas a do candidato do governo petista, que não passou de um humilhante penúltimo lugar, com apenas 7,39% dos sufrágios.
Assim como em São Paulo e em outras grandes cidades brasileiras, as eleições valadarenses tiveram um “quê” plebiscitário. Serviram para desnudar a contrariedade, a decepção e a revolta da comunidade, com um governo que se despede de forma melancólica, tendo vários de seus membros, ex-integrantes e aliados envolvidos em cabeludos escândalos. Também na terra do “Mar de Lama”, o pleito consolidou a decadência do Partido dos Trabalhadores.  A traulitada sofrida pela legenda sepultou de vez a falsa tese de que o seu alijamento do poder seria um desrespeito à vontade popular.
De um momento para outro, o panorama se modificou. Na fisionomia de um povo que tem acumulado muitas frustrações e desenganos, percebe-se mais otimismo, mais disposição e mais confiança.
Pela primeira vez em sua história, Valadares estará sob o comando administrativo de um filho da terra. Um graduado em engenharia que, aos 50 anos, detém respeitável currículo. Entre outros antecedentes que o habilitam a ocupar a Prefeitura, convém lembrar que foi presidente da União Ruralista Rio Doce (URRD), com elogiável desempenho. Foi ainda subsecretário do Agronegócio (2013/2014), antes de assumir a Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, onde permaneceu até o final do governo de Alberto Pinto Coelho. Em 2012, concorreu à Prefeitura Municipal, conquistando o segundo lugar.
Some-se a essa bagagem a solidariedade do seu vice, Dr. Luciano (de Oliveira e Silva), com quem demonstra total entrosamento, e o presumível apoio que deverá receber dos 24 partidos políticos que se coligaram em torno de sua eleição.
Fato é que André tem o que oferecer, tem munição para a “guerra”. Isso é bom, pois, com certeza, a exigência sobre ele terá a mesma amplitude dos problemas que há muito assolam o município. Resta saber se os exigentes estarão também dispostos a contribuir para que o melhor aconteça, e se têm consciência de que, além de torcer, é preciso participar.
 As lideranças sociopolíticas, empresariais, jurídicas e religiosas, as entidades de classe, a sociedade civil organizada, enfim, toda a sociedade terá que pôr a mão na massa, sem medo de ser feliz.

Estão em jogo alguns dos sonhos que André, na condição de valadarense nato e atuante, sempre acalentou em relação aos que se sentaram na cadeira de prefeito. Sonhos dos quais se tornou fiel depositário, com a missão de realizá-los. No resumo da ópera, ele passará a ser cobrado, naquilo em que até agora era cobrador. Que tenha êxito!

domingo, 1 de maio de 2016

REJEITOS DO PODER

            A lama que se espalhou por toda a extensão do Rio Doce não é fruto do acaso, nem surgiu de um momento para outro. Ela se formou ao longo de anos, lenta e gradualmente. Tudo sob o olhar complacente de autoridades, empresários e membros de uma comunidade, que, seduzidos pelos resultados econômicos e financeiros das atividades que lhe deram causa, não atentaram para o risco a que estavam expostos.
            O que já é considerado o maior desastre mundial do gênero teve origem no em Mariana (MG), onde aconteceu o rompimento de uma barragem de rejeitos da mineradora Samarco. As calamitosas consequências, que até hoje se ampliam, incluem a morte de 19 pessoas e incalculáveis danos ambientais.
            Na definição técnica, os rejeitos são substâncias impuras ou defeituosas, resultantes do processo de beneficiamento do minério. Para que não prejudiquem a natureza, devem ser guardados em reservatórios apropriados e seguros, conhecidos como barragens de rejeitos.
            Em outras palavras, é o imprestável, o lixo da atividade mineradora, amontoado num dique que a qualquer momento pode não mais aguentar tanta imundice. Quando isso ocorre, a barragem se rompe e a tragédia é inevitável.
            Pensando bem, não só a mineração produz rejeitos. Na vida pública eles aparecem em larga escala, pouco importando a capacidade de suporte dos depósitos que os recebem. Isso é comum em todo o mundo, mas, no Brasil dos últimos 13 anos, a realidade tem sido cruel e insofismável. Parece que o país se transformou numa imensa barragem de rejeitos, utilizada por políticos, governantes, outros agentes públicos, empresários, lobistas e “amigos do rei”, para despejo de suas atitudes desonestas.
            Nesse ambiente repugnante, onde impera a corrupção, o brasileiro se sente ultrajado. Não mais aguenta conviver com tantas maracutaias, mentiras, hipocrisias, explicações medíocres, negativas descabidas, zombarias e muitas outras sem-vergonhices praticadas por bandidos de colarinho branco.
            Ninguém melhor do que o renomado conferencista Luiz Inácio Lula da Silva, de “notável saber” e comedida verborragia, para qualificar os responsáveis pela caótica “calmaria” em que se encontra o país. Num papo de alto nível com a presidente Dilma, irreverentemente grampeado, ele avaliou que "Nós temos uma Suprema Corte totalmente acovardada, nós temos um Superior Tribunal de Justiça totalmente acovardado, um parlamento totalmente acovardado”. E, talvez querendo amenizar, arrematou dizendo que “Nós temos um presidente da Câmara filho da ****, um presidente do Senado filho da ****, não sei quantos parlamentares ameaçados, e fica todo mundo no compasso de que vai acontecer um milagre e que vai todo mundo se salvar”. Teve o altruísmo de poupar a chefe do Governo, certamente porque conversava com a própria.
            Os sinais de sobrecarga há muito se faziam sentir. Mas os escândalos revelados pela Operação Lava Jato foram a gota d’água que fez desmoronar a barragem de rejeitos do poder.
            E um mar de lama tomou conta da nação, hoje mergulhada em inflação galopante, juros altos, instabilidade cambial, recessão econômica, desemprego e outros flagelos.
            Diante de um Governo devastado pelo descrédito, o povo clama por troca de comando. Ideal, mesmo, seria que houvesse uma “limpa geral”, e o nosso mundo político recomeçasse no Éden (não confundir com Enem).      

Os otimistas sabem que a possibilidade de revitalizar o Rio Doce é remota, mas factível. Quanto à recuperação do Brasil, do jeito que as coisas andam, até Deus duvida. Com razão!

- Revista "Mais Mais PERFIL" de abril/2016
- www.nosrevista.com.br

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

O Rio Doce

Por Vinícius Bertoletti

 
         Quando eu era garoto pequeno, lá em Barbacena, à noite minha avó contava histórias para a gente e, quase sempre, terminava assim:
−Então, o rei deu uma festa enorme, com muitos bailes, doces e bebidas. Eu fui convidada e me diverti muito. Dancei, comi e bebi até me fartar e, quando a festa acabou, eu voltei para casa, trazendo doces na garrafa e vinho na peneira.
Invariavelmente, um dos netos perguntava (nós éramos crianças muito inocentes, não como as de hoje que sabem até brincar no computador):
− Vó, onde estão os doces?
A velha ria e dizia:
− Ah, meu neto! Os doces acabaram; quando eu estava passando na ponte, tropecei e eles caíram no rio. É por isso que agora ele se chama Rio Doce.
Nós ficávamos tristes com essa informação, tantas vezes repetida, e com uma vontade enorme de beber a água desse rio, que devia ser uma delícia. Mas, para nossa alegria, ela informava:
− Porém, eu consegui salvar um doce para vocês.
E trazia um manjar, que encerrava o festival de histórias de forma deliciosa.
Hoje não foram doces que caíram no rio e sim resíduos de minério de ferro, o que tornou o Rio Doce o mais amargo do mundo, algo que nenhuma avó poderá salvar.
E, como ela sempre dizia:
− Pé de pinto, pé de pato,
Quem quiser que conte quatro.
Agora, eu digo:
− Pé de pato, pé de pinto,
Quem quiser que conte cinco.
Salvem o Brasil das mineradoras
De ferro, nióbio ou zinco…


Guarapari, 22/02/2016