domingo, 15 de maio de 2011

POLÊMICA DAS ARMAS

            Motivos não faltam para que o brasileiro se sinta cético e desapontado em relação a determinadas campanhas para as quais tem sido convocado.
É o que às vezes se observa naquelas que buscam auxílio para vítimas de catástrofes. Boa parte dos donativos se perde nos pontos de recebimento, no transporte ou no destino final. Quando não é criminosamente comercializada.
            A maior decepção teria acontecido na campanha “Dê Ouro Para o Bem do Brasil”, realizada em 1964.  O período revolucionário estava no seu início, quando a população foi chamada a abrir mão de algum objeto de ouro e doá-lo ao país. Alianças, anéis, brincos, correntes, medalhas, crucifixos, pulseiras e quaisquer outras jóias eram aceitas. Muitas foram as ofertas, das mais modestas a carros fornecidos pela indústria automobilística. A coleta foi um sucesso.  Mas o povo, antes impedido de questionar e hoje desinteressado, jamais soube o que e o quanto foi arrecadado, tampouco sua destinação.
            São circunstâncias que geram desconfiança e podem enfraquecer outras ações, como parece acontecer com a campanha de desarmamento que o governo acaba de reeditar.
            Não que a iniciativa seja irrelevante. Pelo contrário, merece discussão mais aprofundada, capaz de afastar a nebulosidade que ainda impede a nítida visão de seus objetivos e alcance social.
            Em tese, o desarmamento tem como meta poupar vidas, evitando que o portador de uma arma cometa desatinos.
            Nas mãos de um bandido, de um doente mental, de alguém acometido de súbito transtorno físico ou emocional, a arma pode de fato tornar-se utensílio arrasador. Por isso o governo, que já proibiu o seu porte, quer reduzir a sua posse e, se possível, impedir que seja comercializada. Postulado que os criminosos teimam em desafiar, e o fazem abertamente.
            Mas os veículos automotores e o cigarro são também artigos mortais, até em maior escala. As vítimas do trânsito e do tabagismo se mostram mais numerosas que as de armas de fogo. Nem por isso já se falou em impedir a venda, a propriedade ou a utilização desses produtos. Apenas os fumantes enfrentam algumas limitações, nada que os impeça de manter o vício. Coisa que a sanha arrecadadora do governo talvez explique.
            O paralelo pode parecer descabido, até absurdo, ainda que exponha os riscos a que a vida se sujeita, em ambas as situações.
            A intenção, entretanto, é provocar uma melhor reflexão sobre o assunto, para que não prevaleçam decisões demagógicas ou insensatas.
Revólveres, punhais, automóveis, motocicletas e cigarros não passam de meios à disposição de quem precisa ser educado para não matar e não morrer. A afirmação está desgastada pelo uso, mas vale a pena repetir que “armas não matam pessoas; pessoas matam pessoas”.