sábado, 4 de janeiro de 2014

SEMPRE O MESMO

            Decorridas as festas de Natal e Ano Bom, o desafio passa a ser acomodar na agenda tudo o que está programado para o “restinho de 2014”.
            Até 04 de março, não tem pra ninguém; Momo reina absoluto. O espírito de carnaval se aloja na mente de cada brasileiro, Nada consegue atrapalhar a concentração dos foliões, exceto – claro! – a fatura do cartão de crédito, engordada pelas compras natalinas, e os gastos com IPTU, IPVA, matrículas e materiais escolares, inevitáveis nesta época do ano.
            Quando o pessoal começa a se refazer da rebordosa, chega abril, com um feriadão de pelo menos quatro dias (18 a 21), emendando Semana Santa e o Dia de Tiradentes. Chance de nova esticada às áreas de lazer, em busca de bronzeado e forças para enfrentar o feriadão que virá logo a seguir. Para a alegria de todos e felicidade geral da nação, o Dia do Trabalho, este ano, acontecerá numa quinta-feira.
             A essa altura, o Brasil já estará vestindo verde/amarelo, ”ligadaço” na Copa do Mundo que se iniciará em 12 de junho, com o jogo Brasil e Croácia. Nos 30 dias seguintes, ninguém pensará noutra coisa, a não ser em futebol.
            Além de ser alcançado por jogos da Copa, julho é época de férias escolares, que sempre envolvem mais viagens e outras induções ao relax.
            O Dia dos Pais e o Dia do Soldado impedem que agosto passe em “brancas nuvens”.
            Quando setembro vier, haja coração.  Além das festividades alusivas à Semana da Pátria, o brasileiro estará convivendo com a reta final da campanha política.
            As eleições para presidente, governadores, senadores, deputados federais, estaduais e distritais (estes só em Brasília) acontecerão no início de outubro (05), e tudo leva a crer que a disputa será ferrenha.
            Se necessário, o segundo turno está previsto para 26/10, na base do salve-se quem puder. Será “briga de cachorro grande”.
            Quando menos se espera, novembro e dezembro estão de volta, trazendo consigo luzes coloridas, vitrines e árvores iluminadas. Papai Noel, “jingle Bells”, perus, leitoas, frutas de época, panetones, champagne, show de Roberto Carlos, tudo na base do “vale a pena ver (e consumir) de novo”.
            Repete-se o círculo vicioso, sob o olhar passivo de uma elite acomodada, desinteressada ou incapaz de promover renovações.
            Nenhuma mudança, só mesmice. Quem até então nada fez, dificilmente fará alguma coisa; “Inês é morta”!
            Outro calendário irá pra lixeira, num piscar de olhos.
            O primeiro de janeiro continua sendo apenas o primeiro dia de um novo fim de ano.
            Melhor para os que nunca saem do “clima”, mas insistem em dizer que só bebem nessa época. Não precisam largar o copo.

 

Exclusivo para o Blog

domingo, 29 de dezembro de 2013

ESTAÇÃO DE PERIGO

            Temporada de férias, muitas festas, muitas viagens e muitas chuvas, dezembro e janeiro são também meses de grandes tragédias.
            Violência urbana, graves acidentes rodoviários, tempestades, inundações, deslizamentos de terra e outras tristes ocorrências são cada vez mais frequentes, com mortos, feridos e enormes prejuízos materiais.
            A grande corrida em busca de descanso e distração aumenta o movimento nas estradas e eleva a concentração de pessoas nas praias, estâncias hidrominerais, pousadas e outros locais aprazíveis, mas nem sempre seguros.
            Acrescente-se a isso o maior consumo de bebidas alcoólicas e outras drogas, a imprudência ao volante, a má conservação das estradas, a fiscalização deficiente, o desrespeito às normas de segurança e as agressões ao meio ambiente, ingredientes perfeitos para finais melancólicos.
            Parece ser o tempo em que a natureza e as forças sobrenaturais se unem para um acerto com os humanos, atraindo-os para situações e locais onde a cobrança é coletiva, rigorosa e impiedosa. Justos e pecadores são punidos por erros próprios e de terceiros.
            Permanece na memória nacional, por exemplo, a tragédia acontecida na Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro, no início de 2011. Enorme quantidade de moradores e turistas ali perdeu a vida, vítima de violenta avalanche que soterrou tudo e todos que estavam em seu caminho. Os números oficiais, ainda hoje discutíveis, apontam quase mil mortes e cerca de duzentos desaparecidos, afora milhares de desabrigados.
Neste ano, até o momento, a conta está com Minas Gerais e Espírito Santo, onde fortes chuvas e o Rio Doce colocaram várias cidades em situação de emergência, inclusive Governador Valadares. Um balanço parcial da calamidade inclui dezenas de mortos e mais de 60.000 desalojados. Só na cidade mineira de Sardoá, seis pessoas da mesma família morreram soterradas. São muitos os que pagam alto preço por ocupar áreas de risco, erro quase sempre imperdoável.  
            A maior preocupação, entretanto, são os deslocamentos rodoviários.
            Nesta época o fluxo de veículos amplia consideravelmente e o número de motoristas não acostumados a estradas aumenta quase na mesma proporção. O resultado está expresso nos mais de três mil acidentes registrados no último feriado de Natal, quando o número de mortos ficou acima de duzentos e o de feridos aproximou-se de mil. Em Minas, a Polícia Militar Rodoviária estima que passe de 55 a quantidade de vítimas fatais em desastres rodoviários.
            De forma simplista, o governo não titubeou em criar um factóide, atribuindo ao motorista alcoolizado a maior culpa por esse caos. Nada mais cômodo do que arranjar um bode expiatório! Flagrado pelo bafômetro, o bebum, além da multa, pagará o pato pelas estradas obsoletas, esburacadas, mal sinalizadas, sem adequada fiscalização e congestionadas por uma frota de veículos que cresce descontroladamente.
            Sem intenção de defender os bêbados do volante, é tempo de compartilhar responsabilidades. É inconcebível que os agentes da segurança pública permaneçam livres das penalidades aplicáveis aos que, por ação ou omissão, contribuam para a ocorrência de tragédias. Devem ser rigorosamente punidos por negligência, indiferença e desrespeito à vida, tanto quanto os infratores da Lei Seca.
            A estação do lazer está aberta. Viagens de ida e vinda estarão acontecendo, chova ou faça sol. Tem gente já pensando no carnaval.
            Tudo indica que a coisa permanecerá na base do salve-se quem puder. Fatalidades são incontroláveis, mas há meios minimizar seus efeitos. Um deles é conscientizar-se de que o risco existe, por menor que seja. Faça as contas.  

Diário do Rio Doce
29.12.2013