Como
sempre existe a outra face da moeda, as mobilizações serviram pra mostrar que
nem tudo está perdido. Aos nossos políticos e administradores pode faltar maior
preparo para cuidar das coisas essenciais, mas lhes sobram habilidade e sorte
para embolar o jogo. São mestres na administração de conflitos e no inverter situações.
O
povo não escondeu seus clamores. Nada pediu de supérfluo. Exigiu – e permanece
exigindo – o básico, aquele mínimo de planejamento, administração, execução e
honestidade que tornam disponíveis os serviços e recursos a que todos têm
direito.
Pressionados,
mas expertos, os entes públicos resolveram mostrar serviços, atirando em todas
as direções, numa indisfarçável intenção de tumultuar o ambiente e abafar o
grito das massas.
Um
plebiscito não cobrado pelo povo, para que ele se manifeste sobre uma açodada reforma
política que tampouco demandou, foi a reação imediatamente esboçada. A ideia não empolgou, mas ajudou a esfriar os
ânimos.
Também a importação
de médicos e o acréscimo de mais dois anos na duração do curso de medicina transformaram-se
em temas polêmicos e ofuscaram fatos mais relevantes. Há suspeita de que foram colocados
na ordem do dia para mascarar os grandes problemas da Saúde.
Além
disso, as atenções populares ficaram divididas com a Copa das Confederações,
conquistada pela Seleção Brasileira; a espionagem americana denunciada por
Edward Snowden; o “affaire” internacional envolvendo o presidente boliviano Evo
Morales; a tramitação do projeto de “cura gay”; a farra em aviões da FAB,
promovida por figurões do Poder; os recorrentes protestos isolados que quase
sempre terminam em violentos confrontos e deplorável vandalismo, a visita do Papa Francisco, afora outras
questões desconexas. Coincidência
ou não, essa concentração de ocorrências contribuiu para desviar o foco dos
protestos e arrefecer as grandes mobilizações.
Acreditando
que “tá tudo dominado”, deputados e senadores fizeram as malas e partiram para
um descanso de duas semanas, deixando uma série de pendências para o segundo
semestre, inclusive a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). “Será apenas uma pausa pelo período de 15 dias
sem deliberações nos plenários da Câmara e do Senado”, explicou o presidente da
Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Afinal, ninguém
é de ferro.
Certamente
não levaram em conta que o recuo do povo também pode significar só um breve
recesso. Não perdem por esperar!