domingo, 9 de março de 2014

RESURGINDO DAS CINZAS

            A apologia que se faz do carnaval valadarense das décadas de 1960 e 1970 é compreensível, louvável, e deve ser estimulada. 
            Nada mais justo do que propalar aquela que se incluía entre as melhores festas carnavalescas de Minas Gerais. Fase esplendorosa, muito bem relembrada por Márcio Castelo Branco, na sua coluna do último domingo.
            Além de dar alegria ao povo, era importante fator de desenvolvimento, atraindo turistas, aquecendo o comércio e divulgando o nome da cidade.
            Mas o cenário que sustentava aquele apogeu foi aos poucos se modificando.
            Cresceu a malha rodoviária, o transporte coletivo tornou-se mais moderno, ágil e confortável, enquanto as viagens em veículos próprios viraram moda, deixando de ser privilégio de poucos.
Com o progresso, praias, resorts, estâncias hidrominerais, pousadas e outras atrações ficaram mais próximas, acessíveis e atraentes.
            As consequências para o carnaval interiorano foram inevitáveis: reduziu-se o apoio oficial, os clubes perderam interesse, o amadorismo ficou insustentável, tudo porque a relação custo/benefício resultou desfavorável.
Sobreveio um impiedoso declínio.
Quando tudo parecia perdido, ressurgiram os blocos de rua, que vêm oferecendo um carnaval antecipado de ótima qualidade. Festa no melhor estilo popular, informal, e descontraído, onde a única exigência é a animação. Nada de clubes, ingressos, convites, reservas de mesas, camarotes ou luxuosas fantasias. Cada qual vai quando e como quiser. Até o abadá, às vezes vendido com fins filantrópicos, é facultativo.
            No último fevereiro, repetindo o que vêm fazendo há quatro ou cinco anos, esses blocos “esquentaram” os finais de semana valadarenses.
O destaque ficou por conta do “Trupico do Lalá” e do “Imorais”, na Ilha dos Araújos. Em sua derradeira apresentação, 22/02, conseguiram arrastar pelas ruas do bairro cerca de 30 mil foliões, ao som de belas e antigas marchinhas.
            Em outros dias e locais também houve animadas festas, entre elas o “Carnapina”, no Morro do Carapina; o “Carnaval Comunitário”, no Bairro São Pedro; o “Bloco dos Boi”, no Bairro Vila Bretas; sem contar os agitos nos clubes, boates e bares”.
Ainda é cedo para garantir, mas são fortes os indícios de que, mesmo fora de época, o carnaval valadarense ressurgiu, e com muito vigor.
            O formato pode não ser exatamente igual ao que deixou saudade. Mas tem tudo a ver com a garra e o espírito festivo da geração atual, onde jovens de todas as idades dançam o mesmo ritmo, sem deixar a peteca cair.  É a galera empolgada que também faz bombar a Festa da Fantasia, o GV Folia e outras grandes promoções.
            A cidade cresceu, a comunidade se espalhou, e cada grupo conquistou seu espaço. Nele se dá ao luxo de cultivar hábitos, costumes e estandartes próprios. Daí a certeza de que novos blocos aparecerão.
A realização, que a cada ano faz maior sucesso, tende a crescer. Já merece figurar na agenda de eventos da cidade.
 Talvez comporte alguns ajustes, visando melhor harmonizar seus interesses com os da comunidade. Nada de burocracias, politicagens ou invenções de moda. Apenas o necessário para que a coisa aconteça dentro dos padrões de segurança e das normas de boa convivência. Todos têm a ganhar.
De momento, é muito importante o apoio institucional e da classe empresarial. O resto pode-se deixar por conta dos foliões, “sem medo de ser feliz”!
 

- Jornal de Domingo
- Diário do Rio Doce