domingo, 24 de abril de 2011

PODER ABUSADO

            Mostra-se cada vez mais preocupante a desfaçatez com que o governo afronta a tolerância e a inteligência dos brasileiros.
            A incoerência de determinadas decisões e a omissão diante de certos fatos bastariam para chegar-se a essa conclusão. Mas somam-se a isso as desculpas esfarrapadas e os argumentos vazios utilizados para sustentar excessos e inverdades.
            A votação de um ínfimo aumento no salário mínimo bem demonstrou tais absurdos. Os que se recusaram a aprovar um incremento maior, não esboçaram constrangimento para, pouco antes, engordar seus ganhos em proporções infinitamente superiores. A presidente, seu vice e os ministros de Estado, por sinal, foram os mais beneficiados.
            Sobreveio a necessidade de reajuste da tabela do Imposto de Renda Retido na Fonte, um direito do contribuinte. O governo enrolou o quanto pôde, até conseguir fazê-lo em bases inferiores à inflação. Mas entendeu que isso representaria renúncia fiscal. Em outras palavras, honrar compromisso é abrir mão de receita. Para compensar, não hesitou em quase triplicar o IOF nas compras com cartão de crédito no exterior. E aproveitou o embalo para elevar o IPI de cervejas, refrigerantes, água mineral e outras bebidas. Manteve a velha tradição de dar com uma mão e tirar com a outra. Os entendidos dizem que vai abocanhar mais do que concedeu.
            Inquietante ainda é a impotência demonstrada diante do crescimento inflacionário. Além de medidas improvisadas e paliativas, os responsáveis por nossa economia não têm conseguido mais que sofismar sobre a realidade, negando evidências percebidas por qualquer cidadão.
            A exemplo de alguns produtos vendidos em supermercados, farmácias, livrarias, restaurantes e no comércio e geral, os combustíveis alcançaram preços assustadores. Gasolina, álcool e diesel vêm sofrendo constantes e sensíveis reajustes.     
 Entretanto, no início deste mês, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi enfático ao dizer que “não tem alta da gasolina e não está prevista uma alta da gasolina no país”. Recentemente, nos Estados Unidos, reafirmou que “não haverá aumento de gasolina em abril”. 
            Pouco importa se em fevereiro, março ou abril. A gasolina, que em janeiro era comprada por R$ 2,70 ou menos, está custando até R$ 3,20. Do início do ano até agora, como os demais combustíveis, já teve seu preço aumentado em torno de 20 por cento.
            Se não tem ido ao posto para abastecer seu veículo, Mantega parece que tampouco tira do bolso o valor da compra. Tem olho e não quer ver ou tenta tampar o sol com a peneira. Em qualquer hipótese, está afrontando a argúcia do povo e abusando da própria sorte.