Por Etelmar Loureiro
- Diário do Rio Doce - 13.09.2018
Em linhas gerais, curiosidade é o
desejo de ver ou conhecer algo até então ignorado. É uma das características do
ser humano. Quando bem dosada, ela se torna estimulante, acalentando sonhos e gerando
gratas expectativas.
Não
faz muito tempo, a gravidez era uma das maiores fontes de curiosidade. Tão logo
a mulher se descobria gestante, instalava-se enorme e contagiante suspense em
relação ao sexo do bebê.
Não faltavam adivinhações, palpites e
prognósticos baseados em experiências, sintomas ou superstições. Promessas e
apostas mobilizavam os pais, avós, outros familiares, amigos e todos os que se
dividiam entre ser homem ou mulher. Velas eram queimadas, e muita cerveja foi
paga por conta dessa doce incerteza.
Não adiantava exercitar a imaginação.
O resultado só era conhecido ao final de nove meses, depois de o bebê “dar as
caras” e mostrar suas “credenciais”.
O
ultrassom, com cem por cento de acerto, desvendou o segredo do ventre materno. Ele
acabou com as ansiedades, simpatias, dúvidas quanto às cores do enxoval, e
tantas outras curtições que empolgavam o enigma do ele ou ela. Agora, com
poucos meses, já se sabe se o bebê é homem ou mulher, atleticano, flamenguista
ou corintiano, mocinho ou bandido, político ou gente séria. Sem risco de errar.
Outra
incógnita, que no passado também provocava grandes aflições, girava em torno
dos resultados eleitorais.
Os
candidatos se apresentavam, assim como hoje, mas os medidores de opinião eram
escassos e inseguros. As mudanças de cenário aconteciam, sem que pudessem ser
convenientemente avaliadas. Certeza de vitória só depois de
concluída a contagem manual dos votos; coisa que a ansiedade transformava em
sôfrega eternidade.
Esse
quadro só começou a se modificar em 1942, quando surgiu no Brasil o Ibope –
Instituto Brasileiro de Opinião Pública, especializado em medir, por meios
científicos, a audiência das emissoras de rádio que operavam no país.
A
despeito da relevância de seu trabalho, o próprio Instituto teve que superar as
dificuldades iniciais, para inspirar confiança.
Os aplausos que recebia, quando os resultados agradavam, davam lugar a pesadas
críticas, se as expectativas das emissoras fossem contrariadas.
A primeira pesquisa
eleitoral a cargo do Ibope, entretanto, aconteceu em São Paulo, em 1945, sobre
as eleições presidenciais daquele ano, vencidas por Eurico Gaspar Dutra.
Desde então, com o aparecimento da urna
eletrônica, e graças a pesquisas aperfeiçoadas pelo uso de técnicas e ferramentas
cada vez mais modernas, a disputa entre os políticos perdeu a graça. O suspense,
que mexia com o emocional do eleitor, deixou de existir. Antes mesmo da votação, o resultado é
facilmente presumível, quando não imexível. Não há mais aquela longa
e emocionante espera pela proclamação dos vencedores; a apuração acontece em
questão de horas.
As
atenções agora se voltam mais para o futuro.
Em
família, a torcida é para que o recém-nascido cresça fiel ao seu gênero. Nada
de trocar de lado.
Na
política, espera-se que o eleito honre os compromissos assumidos, sem se
entregar às seduções do poder.
Dois
sonhos por demais ambiciosos!