domingo, 3 de julho de 2011

EXEMPLO DE GREGO

            Os últimos acontecimentos na Grécia devem deixar de sobreaviso não apenas os governantes dos países que formam a União Européia, mas os demais, em especial os autoritários.
            A greve geral e as violentas manifestações de protesto acontecidas em Atenas podem até ser entendidas como mais um dos muitos confrontos que naturalmente se repetem mundo a fora.
            Mas é interessante notar que a reação popular se deu contra o que o governo chamou de “medidas de austeridade”, necessárias para a salvação da pátria. Normal seria, pois, que fossem aplaudidas, não repudiadas por um povo bastante evoluído e sabedor das dificuldades em que se encontra o país.
            A questão, entretanto, não é desconhecimento, sim revolta em relação às causas dos problemas invocados e aos responsáveis por sua existência. O povo não quer continuar pagando pelos erros de seus governantes.
            Na última década, a Grécia gastou muito mais do que podia. Por isso teve que contrair vultosos empréstimos, deixando sua economia refém de crescente endividamento. As despesas públicas aumentaram assustadoramente e os salários do funcionalismo praticamente dobraram. Enquanto a gastança esvaziava os cofres públicos, a receita era afetada pela evasão de impostos.
            Esses desmandos produziram uma conta elevada, agora jogada no colo da população.
            Entre outras maldades, o “pacotão” prevê corte de pessoal e congelamento de salários no setor público, elevação de impostos, ampliação da idade para aposentadoria, aumento do preço da gasolina e privatizações. Só faltou criar a CPMF ..., por enquanto. Também não se cogita diminuir o número de deputados, reduzir proventos e mordomias dos altos escalões, nada que afete os interesses e conveniências dos cardeais do Poder. Exatamente como fazem os maus governantes mundiais.
Inspirados nesse arrocho, outros países da Zona do Euro tentam aviar a mesma receita. Em contrapartida, a firme reação do povo grego é exemplo do que poderá acontecer se os governantes agirem de forma egoísta e abusada. As soluções não negociadas têm mexido cada vez mais com os brios de gregos e troianos.   
            Na Grécia, berço da democracia e uma das bases da civilização européia, o confronto entre manifestantes e policiais parecia coisa de terceiro mundo.
            Fácil imaginar o que poderá acontecer quando os cidadãos de países menos desenvolvidos estiverem mais conscientes de que também podem – e devem – reagir às arbitrariedades do Estado. Só assim decisões mais justas e equilibradas emergirão entre as partes, entronizando o respeito mútuo e a democracia.