Por Etelmar Loureiro
Sempre
ouvi dizer que “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”. Um ditado
que, no jargão popular, significa que persistir à frente de um desafio pode ser
o segredo conseguir o que se quer.
O provérbio é uma
rima concebida para facilitar a memorização da frase “a água mole cava a pedra
dura”, do poeta romano Publius Ovidius Naso, que viveu entre 43 a.C e 18 d.C.
Desde então, essa máxima tem estimulado a perseverança, como forma de alcançar
objetivos. É a chama que alimenta a crença no “insista, não desista”.
Nesse velho, mas
sábio ditado, tenho me apoiado para continuar lutando contra o pouco-caso de
Valadares para com os bens patrimoniais e os protagonistas que são partes de
seu passado.
Quanto aos primeiros,
basta circular pela cidade, para constatar que importantes e valiosas propriedades
estão deterioradas, foram modificadas ou simplesmente deixaram de existir, cedendo
lugar a estacionamentos de veículos ou edificações que destoam do cenário
tradicional. É cada vez mais frequente o desaparecimento de imóveis onde viveram
famílias ilustres, ou funcionaram estabelecimentos públicos ou particulares que
marcaram o seu tempo.
Poucos se dão conta da
importância de preservar o patrimônio comum de uma cidade. Como bem disse o
deputado estadual e professor mineiro, Wender Mesquita (Solidariedade-MG),
“cada indivíduo é parte da sociedade e do ambiente onde vive e constrói, com os
demais, a história dessa sociedade. Com isso, transmite às gerações futuras a
história daquela localidade. A destruição dos bens herdados das gerações
passadas acarreta o rompimento da corrente do conhecimento de uma época
específica”.
Além dessa e de
tantas outras rochas que precisam ser perfuradas pelas ondas do respeito e da
sensibilidade, o raro interesse da comunidade se estende à memórias de gente
importante, que não deve, nem pode ser esquecida. A relação é extensa, mas, sem
demérito para os demais, Hermírio Gomes da Silva fazia a diferença.
Homem de visão,
perseverante e otimista, era requisitado nas mais diferentes áreas. Sua digital
está em quase tudo que se fez pelo progresso do município. Destacou-se como
vereador, vice-prefeito, prefeito por duas vezes, presidente da Associação
Comercial, diretor da Univale, um dos fundadores do Diário do Rio Doce, da
Companhia Telefônica e da Fundação Percival Farquhar, diretor da Fadivale, e
muito mais. Até agora, entretanto, nada disso lhe valeu uma condigna homenagem
pública. Nenhuma rua ou avenida, nenhuma praça, nem mesmo um beco ou um banco
de jardim leva seu nome. Inclusive a data de sua morte tem passado em branco.
Se sua memória recebeu algum tributo, foi coisa discreta e reservada, muito
aquém de suas qualidades. Ingratidão imperdoável, que se repete em relação a
outros vultos da biografia local.
Há muito venho alertando
para essa falha, na esperança de que seja corrigida pela sociedade.
No ano passado, nesta
mesma época, lembrando que Hermírio faleceu em 18.06.2009, sugeri que seu nome
fosse dado à Praça de Esportes situada no centro da cidade, que, aliás, embora
exista há várias décadas, ainda não teria sido batizada. Seria a grande
chance de a comunidade se redimir da desatenção que vem dispensando à memória
desse ilustre cidadão. Um imaginário Centro Esportivo Hermírio Gomes da Silva
passaria a existir a partir de quando a morte do seu patrono completasse a
primeira década. A ideia não emplacou, e a data transcorreu, na última terça
feira, em imperdoáveis brancas nuvens.
Outro ano se passou,
a chance se perdeu, mas a sugestão fica mantida. O importante é que a “água
mole” siga batendo na “pedra dura” onde se esconde a minguada reverência valadarense
à memória dos seus mais notáveis personagens históricos. Uma hora, o furo
aparece.