domingo, 18 de setembro de 2011

AGÊNCIAS ENFERMAS

            Onde a prepotência de grupos ambiciosos faz a diferença, a população só ganha quando perde pouco.
            Enquanto os salários e os proventos de aposentadoria acumulam crescentes perdas, os preços dos bens e serviços essenciais sofrem reajustes iguais ou superiores aos índices de inflação. Basta observar o crescimento dos gastos com água, luz, telefone, combustíveis, cesta básica, moradia, anuidades escolares, planos de saúde, transportes e outros itens fundamentais, afora impostos.
            Esperava-se que esse descompasso fosse refreado pelas agências reguladoras.
Criadas para fiscalizar a prestação de serviços públicos praticados pela iniciativa privada, sua missão é promover a defesa do interesse do povo.  Mas não parece.
           Tem sido comum esses órgãos caminharem na contramão de sua finalidade, priorizando e até defendendo empresas cuja ganância deveriam comedir.
            Os planos de saúde corroboram esse raciocínio.  Além do atendimento ruim reclamado por seus usuários, são extremamente onerosos. Com raras exceções, preocupam-se mais com a própria saúde.
            “Todos os reajustes foram e permanecerão acima da inflação. Isso acontece em qualquer lugar do mundo”. A declaração foi ouvida em recente audiência pública na Câmara dos Deputados, onde se debatia a qualidade do atendimento dos planos.
             Se feita por representante das operadoras, a afirmação teria provocado indignação, mas acabaria compreendida e relevada. É normal que cada um puxe a farinha para o seu saco.
            Entretanto, para frustração geral, as palavras foram ditas por Eduardo Sales, diretor de Fiscalização da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), a quem caberia desestimular ações desse tipo.
            Como justificativa, disse que o setor depende de equipamentos e insumos hospitalares importados.
            No lado oposto, Cid Célio Carvalho, presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fenam), criticou a atuação da ANS. Segundo ele, a agência falha na fiscalização das empresas, permitindo que escondam os verdadeiros números do setor, a pretexto de sigilo. 
            Visto como defensor das administradoras de planos, Sales não perdeu a oportunidade de perguntar “como conciliar ótimo atendimento com menor preço e ótima remuneração para os prestadores de serviços?”
           A tarefa não é fácil, mas certamente inclui a necessidade de as operadoras reinvestirem na atividade os expressivos lucros dela obtidos.
            Difícil, mesmo, é explicar o quadro atual, em que o alto preço torna imperdoável o mau atendimento e a péssima remuneração dos prestadores de serviços.
            Distorção que talvez seja eliminada, se a ANS concentrar em seus quadros elementos mais identificados com o interesse público.

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