domingo, 13 de novembro de 2011

"DESAGROPECUARIZAÇÃO"

            A valorização do real frente ao dólar fez nascer uma síndrome de “desindustrialização” do país, provocada pela perda de competitividade da indústria nacional diante de similares importados. Uma das preocupações é o desemprego que poderia resultar do fechamento de empresas, mudança ou terceirização do processo produtivo em outros países.
            O temor alcançou o agronegócio nacional, na medida em que vem crescendo a importação de gêneros aqui produzidos em abundância.
            Nos últimos quatro anos, café, cebola, laranja, mandioca, folhas de fumo e outros itens nos quais somos autossuficientes tiveram sua entrada normatizada pelo governo. Até a reabertura do mercado para a banana do Equador está na iminência de acontecer.
            Nem sempre o intercâmbio comercial ocorre em igualdade de condições.
            No término do governo Lula, por exemplo, uma negociação abriu o mercado brasileiro à importação ilimitada de lácteos produzidos no Uruguai. Em contrapartida, o Brasil ficou autorizado a exportar para aquele país uma determinada cota anual de carne de frango. Para um lado, liberdade total; para o outro, danosa limitação
            A abertura do mercado brasileiro ao alho chinês, nos anos 90, também deu mostra de como a produção interna pode ser afetada pela importação de produtos obtidos em diferentes condições de competitividade. Naquela época, o produto nacional supria a quase totalidade do consumo interno. Em 2010, de acordo com a Associação Brasileira dos Produtores de Alho, mais de 60% representaram importações.
            O tema foi abordado em recente artigo assinado por Roberto Simões, presidente da Federação da agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (FAEMG), sob o título “A desagropecuarização silenciosa do Brasil”.
            Segundo ele, apesar da logística cara e ineficiente, da proibitiva carga tributária, dos juros e prazos de pagamento incompatíveis com a atividade e de inúmeros outros entraves a que são submetidos, os produtores brasileiros fazem a mais importante e eficiente agropecuária tropical do planeta. Mas os pequenos e médios não estão preparados para uma competição internacional sob condições desiguais.
            Na conclusão, Simões esclarece que “não se trata de pedir protecionismo, contra o qual lutamos nos principais mercados para os quais exportamos. Trata-se de pedir condições iguais de competição, sob pena de termos à mesa apenas alho chinês, banana equatoriana e leite argentino e uruguaio”.
            Técnica e setorial, a questão, em princípio, não despertaria interesse comum. Não é bem assim: se o setor se lascar, as conseqüências recairão sobre toda a sociedade que, como sempre, será chamada a pagar a conta.
            O comando é do governo, de quem se espera menos ganância, mais competência e um mínimo de visão mercadológica. Haja paciência!
 

 

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