sábado, 19 de maio de 2012

ENTRE BRONCAS E AFAGOS

A participação de Dilma Rousseff na abertura da 15ª Marcha a Brasília em Defesa dos Municípios (15/05) será lembrada como um dos momentos mais tensos do atual governo.
            Acostumada a reverências e aclamações, a presidente foi surpreendida por críticas e cobranças que só não lhe acuaram graças à sua forte personalidade e vigorosa capacidade de reagir.
            O encontro se aproximava de um final feliz, quando alguns prefeitos pediram que a presidente se manifestasse sobre a distribuição dos royalties do petróleo.
            A indefinição do assunto já estava entre as insatisfações apontadas pelos presidentes da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski, e da Frente Nacional de Prefeitos, João Coser.
            Com a franqueza que lhe é peculiar, Dilma declarou que “[Sobre] petróleo, vocês não vão gostar do que vou dizer, então vou falar pra vocês: não acreditem que conseguirão resolver a distribuição de hoje para trás, lutem pela distribuição de hoje para frente”.
Em resumo, mandou que prefeitos, governadores e outros interessados se esqueçam dos campos de petróleo que já estão em exploração e limitem o debate aos que serão explorados daqui para frente. A platéia não gostou e vaiou.
Dilma reagiu de modo firme, porém áspero, pra não dizer grosseiro. De dedo em riste, demonstrou a Ziulkoski a intensidade de seu descontentamento.
Ainda que os prefeitos tenham agido com deselegância, a contrapartida não condiz com que se espera da autoridade ocupante do mais alto cargo de uma nação democrática.
Assim como o aplauso, a vaia faz parte do sistema, e deve ser encarada com a serenidade própria dos que exercem mandato popular.
Mas a mulher durona, que não teve dificuldade em peitar quase três mil prefeitos choramingões, não consegue esconder seu lado sentimental. No dia seguinte, sob a fragilidade já demonstrada em outras ocasiões, teve dificuldade em segurar as lágrimas, ao discursar na instalação da Comissão da Verdade, quando falou de fases da própria história.
Alternando comportamentos e emoções, Dilma vai construindo uma popularidade que nem os cientistas políticos têm conseguido explicar. Sinal de que, entre suas broncas e afagos, o brasileiro permanece sem saber o que aplaudir, absolutamente convicto.

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