segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

PEITOS & BUNDAS

                                                                           

Mesmo fiel à criação, o corpo feminino continua centralizando atenções, como se fosse um eterno fato novo.
           A fixação é antiga, justa e certamente interminável.
Até há pouco tempo, entretanto, a timidez, a censura, os preceitos religiosos e o falso pudor impediam que a mulher exibisse a plenitude e a exuberância de seus dotes. Tudo constituía tabu.
Vestidos colantes, saias curtas e decotes generosos eram coisas raras, vistas quase só no cinema.
Extremamente comportados, os maiôs que desfilavam nas praias e piscinas impediam a segura conferência de seu precioso conteúdo.
Uma cruzada de pernas mais sensual talvez fosse a forma mais arrojada de ostentar predicados.
Nas raras revistas masculinas, tipo Playboy, o nu frontal ficava por conta da imaginação.
Dissertar sobre as partes íntimas da mulher, sem dissimular, só escritores renomados e autores de livros técnicos especializados podiam fazê-lo. Os demais tinham que recorrer a metáforas ou a comedidos sinônimos. Qualquer termo explícito poderia significar palavrão ou agressão aos bons modos.
Eis que surge a pílula anticoncepcional, marcando o início da liberação sexual.
Livre e solta para direcionar sua vida, a mulher optou por curtir a sexualidade, na plenitude. Ao mesmo tempo, percebeu que não mais havia razões para esconder atributos físicos. O belo é pra ser mostrado; quem não gostar, feche os olhos.
Assumiu o direito de posar nua, estrelar filmes pornôs, participar do Miss Bumbum, do Garota Popozuda, do Mulher Melancia e de fazer o que mais lhe desse na cuca. Quebrou paradigmas e passou a ousar no modo de vestir e de agir.
Já que liberou geral, todo mundo se sentiu em condições de dar pitaco no comportamento da mulherada. O que antes era motivo de recato e privilégio de poucos, caiu no domínio popular.
Aproveitando a deixa, o ator Antonio Fagundes resolveu turbinar a antologia “bundista”. Com a autoridade de um sessentão que surfa na fama de mulherengo, entende que as mulheres não deveriam colocar silicone nos seios. “O homem brasileiro não gosta de peito. A gente gosta de bunda”, disse ele em entrevista à revista “Quem” (julho/2012).
A grande maioria concordou, como era esperado. Afinal, a anatomia glútea feminina é idolatrada, desde quando Eva agitou o Paraíso, com o primeiro rebolado. 
           No Brasil, sob o nome de nádegas, traseiro, fundilhos, bumbum e outros vocábulos, tem sido cantada em verso e prosa. Chegou a ponto de ser homenageada pelo genial Oscar Niemeyer, que, no projeto do arco do Sambódromo carioca, se inspirou numa bunda com biquíni e fio dental.
           Não é fácil, porém, escolher entre pomos e calipígio. Ambos são extremamente atraentes, e o que vale é o conjunto da obra. Mas, para prestigiar Fagundes, e lembrando o célebre Nelson Rodrigues, "se um dia a vida lhe der as costas, passe a mão na bunda dela”. Com todo respeito! 

Revista “Mais Mais PERFIL Mulher”
Edição de dezembro/2012

 

 

 

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